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17 de dezembro de 2013

A velha história das mulheres e a preocupação com a beleza

Apesar da célebre frase de Francis Bacon "Não há beleza perfeita que não contenha algo de estranho nas suas proporções", as mulheres continuam reféns de padrões muito específicos. 
Sim, eles variam a cada época! Mas o que parece não variar é a busca incessante (beirando a obsessão) pela estética perfeita através de tratamentos que parecem experimentos de filme de ficção científica!

A série de fotos mostra tratamentos estéticos das décadas de 40 e 50, tão bizarros quanto os que vemos hoje em dia e nos faz questionar: desde quando a beleza é uma questão tão importante para as mulheres?

Veja todas as fotos aqui.


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ sobre 
Anorexia na contemporaneidade e escreve este blog entre 
uma leitura de Freud e outra de Lacan.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

10 de dezembro de 2013

Rara entrevista de Clarice Lispector, para comemorar a data em que a autora completaria 93 anos

Hoje Clarice Lispector completaria 93 anos! 
Para comemorar a data, vale a pena conferir a entrevista concedida em 1977 ao repórter Júlio Lerner, da TV Cultura. É curioso lembrar que depois de gravada, Clarice pediu que a entrevista só fosse divulgada após sua morte. Ela foi ao ar dez meses depois, quando Clarice morreu em dezembro de 1977, aos 57 anos...


Clarice Lispector, local desconhecido, 1975, época do lançamento 
de seu livro "Visão do Esplendor", uma coletânea de textos sobre Brasília

"De minha sala até o saguão dos estúdios tenho que percorrer cerca de 150 metros. Estou tão aturdido com a possibilidade de entrevistá-la que mal consigo me organizar naquela curta caminhada. Talvez falar sobre “A Paixão Segundo G.H”… Ou quem sabe sobre “A Maçã no Escuro” e “Perto do Coração Selvagem”… Vou recordando o que Clarice escreveu. Será que li tudo? Em apenas cinco minutos consegui um estúdio para entrevistá-la. São quatro e quinze da tarde e disponho de apenas meia hora. Às cinco entra ao vivo o programa infantil e quinze minutos antes terei de desocupar o estúdio. Estou correndo e antes mesmo de vê-la a pressão do tempo começa a me massacrar. Não terei condições de preparar nada antes, nem mesmo conversar um pouco. Não poderei sequer tentar criar um clima adequado para a entrevista. Eu odeio a TV brasileira! Só meia hora para ouvir Clarice. O pessoal da técnica foi novamente generoso e se empenhou para conseguir essa brecha. Olho o relógio, não consigo me organizar, estou correndo, olho novamente o relógio. Estou desconcertado, atinjo o saguão dos estúdios e a vejo ali, dez metros adiante, Clarice de pé ao lado de uma amiga, perdida no meio do vaivém dos cenários desmontados, de diversos equipamentos e de técnicos que falam alto, no meio de um grande alvoroço..."


Fonte: Revista Bula



Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Pesquisa e Clínica pela UERJ e escreve este blog nas horas vagas.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

4 de dezembro de 2013

Platão e Hedwig


Relendo O Banquete, de Platão (428/7-348/7 a.C.), me lembrei de um filme independente, adaptação da aclamada peça homônima do circuito off-Broadway chamado Hedwig and the Angry Inch de 2001. 

No filme, o mito do amor (ou da criação dos homens) é contado de através de um musical com cenas de animação com um estilo bem Pinkfloydiano. Isso só nos mostra o quanto a filosofia de Platão de 400 a. C. é contemporânea e atual! 





Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Pesquisa e Clínica pela UERJ e escreve este blog nas horas vagas.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

23 de outubro de 2013

Anorexia popularizada na mídia

A Glamourização da magreza na mídia não é novidade p ninguém! Apesar de campanhas bem legais em prol da beleza de verdade e da diversidade do padrão de beleza feminino, é frequente encontrarmos uma publicidade extremamente agressiva e lipofóbica, como foi o caso da revista que comenta o corpo "perfeito" da modelo, que claramente tinha menos de 45 Kg. (Vale a pena dar uma olhada nessa matéria porque a revista, depois de receber uma enxurrada de críticas das leitoras, se retrata, pede desculpas e diz que, de fato, o texto não estava de acordo com o que a revista propõe sobre a diversidade e um padrão de beleza saudável!) 

Não é legal, não faz bem, temos que ir contra, mas infelizmente estamos "acostumadas" com o que vemos nas revistas femininas, ok...
Agora... programa de tv com jovem anoréxica é demais! Recentemente foi notícia na Rússia a moça de 20 anos que ficou famosa por exibir seu corpo esquálido nas redes sociais e foi convidada para participar de um programa de auditório. Os veículos de comunicação não deviam estrar tentando ir contra esses padrões? Desde quando uma pessoa vira celebridade por desfilar um corpo visivelmente doente?

No início eram blogs pró-anorexia que se destacavam pelas imagens mais chocantes e frases de impacto (muito mais que as revistas femininas!), mas hoje os vilões são os Instagram das antigas leitoras desses blogs.  Com isso perde-se a conta de quantas mulheres exibem seus ossos servindo de inspirações para meninas que ficam a mercê desse padrão de beleza bizarro! Não tem como não lembrar da  web celebrity brasileira, famosa na intimidade de seu Instagram, que faleceu recentemente em decorrência de complicações causadas pelo baixo peso.  As fotos de sua "barriga negativa" recebiam mais de 300 "likes" e exibiam legendas como "elogios me davam força para continuar enfraquecendo!"


                                          Fernanda Pimentel é psicanalista com Mestrado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ e escreve este blog nas horas vagas.



21 de outubro de 2013

automutilação: o silêncio de quem fere o próprio corpo

Excelente entrevista com a socióloga Patricia Adler, que publicou recentemente o livro The Tender Cut: Inside the Hidden World of Self-Injury sobre seus estudos e pesquisas sobre a automutilação!


Fonte: Revista Cult

Navalha na carne

O que acontece quando os traumas e a solidão precisam ser exteriorizados? As manifestações silenciosas de quem flagela o próprio corpo vêm crescendo consideravelmente, ano após ano, segundo um estudo que acaba de ser publicado nos EUA –  The Tender Cut: Inside the Hidden World of Self-Injury [“O Corte Suave: Dentro do Mundo Oculto do Autoflagelo”], dos sociólogos Patricia A. Adler e Peter Adler.
O livro aponta que 4% da população adulta sofre com essa prática autodestrutiva, taxa que se agrava entre os mais jovens. A partir de 150 entrevistas feitas com pessoas de diferentes partes do globo, a obra chega à conclusão alarmante de que a automutilação vem aumentando em escala mundial, mas diz que os blogs e redes sociais trazem ajuda a seus praticantes.
Na entrevista abaixo, concedida à CULT por e-mail, Patricia Adler, que leciona sociologia na Universidade do Colorado, consegue ver um fim menos trágico na automutilação: ao canalizar as enormes frustrações de seus praticantes, evitam que estes possam praticar o suicídio.
CULT – Para a realização do livro, foram feitas 150 entrevistas com pessoas que praticam automutilação em todos os lugares do mundo. Como foi feita a escolha dessas pessoas e qual a faixa etária média? Existe algum gênero ou classe social dominante?
Patricia Adler – Começamos com pesquisas regionais, perguntando aos estudantes se gostariam de ser entrevistados e mencionados em entrevistas de rádio que estávamos procurando interessados. As pessoas nos mandavam e-mails pedindo para serem entrevistadas. Fizemos todas as conversas pessoalmente nos primeiros quatro anos.
No entanto, acabamos alcançando uma saturação de dados, não estávamos encontrando nada de novo. Começamos a coletar blogs, diários e outras postagens na internet entre 2001e 2002, nos juntando a vários outros grupos e iniciando postagens de solicitações on-line em torno de 2003 e 2004.
As entrevistas eram conduzidas por telefone. Entrevistamos pessoas do Canadá, da América Latina, do Pacífico Sul, do oeste e leste da Europa… Todas as entrevistas foram feitas em inglês.
Cerca de 80% dos entrevistados eram mulheres. Apenas duas estavam numa faixa etária abaixo dos 18 anos, por conta das restrições do nosso Conselho de Revisão Institucional, que regula as pesquisas.
A maior parte pertencia à faixa etária entre 18 e 30 anos, mas havia provavelmente 15 entrevistados na faixa dos 30, 10 pessoas na casa dos 40 e de 3 a 4 próximas dos 50 anos. Todos eram ou estudantes, ou tinham computadores em casa, então isso as coloca pelo menos na classe média, embora uma colega minha esteja pesquisando informações sobre automutilados em prisões, predominantemente grupos de negros, pessoas de classe baixa e homens.
Os entrevistados foram identificados?
Ninguém teve seu nome revelado. Usamos pseudônimos para todos.
Qual foi o período total em que as pesquisas foram conduzidas?
Iniciamos oficialmente as entrevistas em 2000 e completamos a última em 2007.
O que motivou sua pesquisa?
O embrião da ideia para os estudos começou em 1982, em Tulsa, Oklahoma. Então há pouco tempo trabalhando como professor, Peter [Adler] se deparou com uma estudante em seu escritório que veio falar com ele sobre uma estranha prática sua: ela  se cortava intencionalmente. Intrigado, ele escutou o relato, observou os pequenos cortes em suas pernas, que ela penosamente ocultava, e fez algumas perguntas, com curiosidade, sobre suas motivações e sensações ao executar a prática.
Nos anos seguintes, ambos vislumbramos comportamentos semelhantes. Como professores que ministraram cursos sobre desvios comportamentais, cultura pop, drogas e esporte, frequentemente, nos encontrávamos no papel dos adultos a que os estudantes se voltavam.
Nossos encontros seguintes com a automutilação foram raros, mas ocorreram com mais frequência no fim dos anos 1980 e início dos 1990. Na década de 90, sabíamos ou tínhamos ouvido falar de um número suficiente de pessoas à nossa volta que se cortavam intencionalmente.
Então, na primavera de 1996, uma jovem amiga nossa, estudante do Ensino Médio e filha de amigos próximos, confidenciou a Peter sobre os seus cortes. Ela nunca mencionara o fato aos seus pais, mas precisava de alguém para falar sobre o assunto. Peter era o seu conselheiro estudantil (um de seus trabalhos em paralelo) e eles mantinham uma relação próxima.
Nos anos seguintes, a prática da automutilação começou a revelar-se publicamente, mas apenas uma pequena parcela das pessoas parecia notar isso. Tinha todas as características de um fenômeno crescente no meio underground, assim como nos populares, mas que foram um dia altamente estigmatizadas, tatuagens e piercings que vínhamos testemunhando no período.
Qual a relação, se é que há, entre automutilação e tatuagens?
Embora tatuagens e piercings possam de certo modo lembrar a automutilação, são, essencialmente, práticas muito diferentes.
As pessoas se envolvem com a “modificação corporal” como modo de embelezar ou decorar seu corpo e, também, para filiar-se a uma identidade de grupo.
Já aquelas que se engajam no processo de automutilação buscam um mecanismo de enfrentamento para quando estão sentindo dores emocionais, depressão, frustração ou raiva. Não têm prazer com a automutilação, e não acredito que tatuar-se seja prazeroso para a maior parte das pessoas. Algumas delas mencionaram a mim que focavam na dor, mas essas são duas entre milhares das quais mencionei no livro ou observei em postagens on-line. Então, isso é raro.


Quais as razões mais comuns para a automutilação?
Alguns usaram a automutilação para rebelar-se contra um controle extremo, famílias religiosas ou uma determinada formação da própria imagem. Como falei, buscar a dor é extremamente raro e não merece menção.
As pessoas tiram prazer dessa prática? Talvez. Significa a liberação de emoções difíceis e dolorosas, de raiva e frustração. Isso faz com que as pessoas se sintam melhor? Sim. As pessoas se automutilam pelos seguintes motivos: emoções opressivas, as quais buscam tranquilizar ou liberar, como a) estresse e frustração, b) raiva, c) mal-estar agudo, d) desejo de libertação.

Elas também se convencem da racionalização de sua automutilação por várias razões: a) exteriorizar sentimentos introspectivos, b) punir-se ou ferir-se, c) controle (uma área em justaposição entre a automutilação e o transtorno alimentar). E também por bloqueio emocional: são incapazes de sentir, mas desejam sentir algo.
Quais são os ambientes e instrumentos mais utilizados?
Para se cortar, as pessoas utilizam vários instrumentos. Começam ainda crianças com clipes de papel, pregos e tesouras. Mudam para facas de cozinha, pedaços de vidro, ou abrem cartuchos de barbeadores e utilizam as lâminas. Elas veem na TV ou leem sobre pessoas que usam estiletes e, então, experimentam.
As mulheres tendem a usar instrumentos mais afiados do que os homens, que usam pregos enferrujados, pedaços de metal, facas serrilhadas ou qualquer coisa à mão. As mulheres normalmente se limpam depois, mas não sempre, enquanto isso é raro entre os homens.
Elas costumam fazer cortes menores em locais escondidos, enquanto homens fazem cortes mais profundos e aparentes no peito e nos braços.
Os homens costumam falar dos seus cortes grandes e viris, mais do que as mulheres, e parecem ter uma maior aceitação quando se cortam deste modo. Se fazem cortes pequenos e escondidos, são dados como femininos. Se as mulheres fazem cortes pequenos e escondidos, são mais bem aceitas, enquanto que se praticarem cortes expostos nos braços ou rosto, são altamente estigmatizadas.
As pessoas se queimam com isqueiros, fazem marcas com pedaços de metal que esquentam e prensam contra o corpo. As queimaduras não dão uma imediata sensação de prazer – incham, criam bolha, soltam pus e infeccionam. São mais difíceis de controlar e duram mais.
Algumas pessoas que praticam as duas coisas deixam para se cortar quando se sentem muito mal e se queimam quando se sentem realmente péssimas.
Outras prensam a mão contra as portas a fim de quebrar os ossos, arrancam o cabelo, fio por fio, se arranham e tiram as cascas das feridas (às vezes mantendo-as abertas por anos), abrem velhos ferimentos e evitam que cicatrizem por completo.
Muitas pessoas mantém um kit onde guardam os instrumentos preferidos. Elas podem levar consigo para onde forem ou manter em casa, caso estejam seguras de que conseguem esperar até voltar para casa.
Elas podem tanto preferir certos locais do corpo para a prática, como mudar de local assim que um torna-se “gasto”. Costumam gostar de preparar o ambiente com iluminação suave e músicas melancólicas. Buscam privacidade, pois não querem ser interrompidas. Tudo gira em volta delas mesmas.
Durante o período estudado, houve aumento ou diminuição da prática? Em sua opinião, por que isso acontece?
Houve grande aumento na prática. As estimativas atuais sobre a predominância da automutilação são difíceis de formular com a tradicional base de dados primariamente baseada em internações psiquiátricas e internações emergenciais.
O número de automutilados se aproxima dos 20% de todos os adultos em internação psiquiátrica, com 40 a 80% concentrada na população adolescente.
Em 1988, Favazza e Conterio descobriram que entre 7 a 10% dos pacientes internados em alas psiquiátricas que eles observaram começaram a praticar a automutilação, enquanto que dez anos mais tarde Briere e Gil (1998) constataram uma taxa de 21%.
Entre os adolescentes internados em alas psiquiátricas, essa taxa tem sido maior. Darche (1990) sugeriu que esse foco específico da população vem se automutilando em uma taxa de 40%, enquanto DiClemente, Ponton e Hartley (1991) afirmam que podem chegar a 61%, mas outros sugerem que se poderia alcançar a margem de 80%.
A quantidade de lesões auto-infligidas que figuram nas estatísticas oficiais das salas de emergência são difíceis de sondar, pois a automutilação é agregada com auto-envenenamento, frequentemente caracterizado como tentativa genuína de suicídio.
O problema nisso é que muitas pessoas fazem uso de ambas as práticas, e, assim, a maior parte dos episódios de automutilação não é detectada.
De qualquer modo, pesquisas sobre internações em hospitais do Reino Unido estimam um aumento substancial nas taxas e repetições da automutilação em ambos os gêneros ao longo de 11 anos de estudo, entre as décadas de 1980 e 1990 (62,1% de aumento entre os homens e 42,2% de aumento entre as mulheres).
Mesmo as Maldivas, um pequeno grupo de ilhas na costa da Índia, reportaram em 2009 que o número de entradas em hospitais por ferimentos auto-infligidos teve uma dramática ascensão ao longo dos últimos anos.
Psicólogos tentaram estimar o predomínio da automutilação na população em geral, sugerindo algo entre 1% e 4%, com mais de 20% pertencente ao subgrupo adolescente.

Estudos mais recentes no meio adolescente sugerem que as taxas norte-americanas de automutilação podem chegar a 14-15%, alcançando quase os 50% nos dois primeiros anos do Ensino Médio, com dados similares entre estudantes universitários.
A razão para isso é o fato de que a automutilação é altamente contagiosa socialmente.
Na internet há vários grupos de apoio e discussões que reúnem pessoas de todo o mundo que passaram por experiências semelhantes. Qual é o papel desses grupos?
Comunidades virtuais, salas de bate-papo, grupos, blogs, etc. são meios em que pessoas solitárias isoladas podem interagir. Quando a automutilação inicialmente explodiu no ciberespaço, em meados dos anos 2000, as postagens eram muito esporádicas. Mas agora foram substituídas por locais moderados em que raramente são encorajadas experiências de automutilação.
Achamos que eles são muito úteis para os automutiladores. Ajudam as pessoas a escapar dos estigmas do comportamento e a descobrir uma comunidade que as entenda e aceite. Se quiserem parar, existirão pessoas para ajudá-las. Se tiverem uma recaída, existirão pessoas para aceitá-las, que não desistirão delas. Para as poucas que abraçam a causa, existem outras como elas.
A propagação da automutilação na internet vem sendo terapeuticamente benéfica.
Os automutilados são, normalmente, pessoas solitárias. Qual é a relação entre esse sentimento, presente na subjetivação do indivíduo, e sua exposição em meios públicos como a internet?
É verdade que a automutilação é uma prática predominantemente solitária. As pessoas não querem estar junto de outras quando o fazem e sua atenção é interiorizada. Mas frequentemente procuram outras pessoas para falar sobre aspectos das suas vidas que as levam a cometer o autoflagelo e sobre sua luta contra isso.
A maior parte das pessoas no mundo real não tem habilidade para entender a luta dos automutiladores ou não tem a paciência para aturar suas frequentes carências emocionais.
Já on-line, há milhares de pessoas dispostas a escutar os intermináveis problemas alheios em troca de poder partilhar os seus próprios. Ou algumas pessoas apenas escutam os problemas alheios e os apoiam como uma forma de sustentar a própria abstinência; ajudam a si ajudando os outros.
Quais aspectos legitimam a prática da automutilação como fenômeno social?
Eu diria que o aumento dramático na quantidade de pessoas que se automutilam é um dos fatores que reforçam a sua legitimação. A maior parte das pessoas com quem converso conhece alguém que luta contra esse comportamento. Muitas outras viram em filmes, documentários, programas de TV ou leram sobre o assunto em algum lugar.
Não pensamos nisso mais como um gesto suicida, mas reconhecemos que é antissuicida, uma forma que as pessoas têm de se “autotranquilizar”, para poderem desviar sentimentos suicidas em potencial. É uma ponte que muitas pessoas usam durante períodos árduos das suas vidas até que as coisas melhorem.
É um mecanismo de enfrentamento que as pessoas usam para lidar com sua tristeza, raiva, chateação.
É moderadamente efetiva, não é fisicamente viciante, não é ilegal e não machuca os outros. Então, algumas pessoas a consideram uma alternativa não tão ruim quanto as drogas, a violência contra os outros ou formas piores de autoflagelo.

The Tender Cut: Inside the Hidden World of Self-Injury
Patricia A. Adler e Peter Adler
New York University Press
264 págs.
US$ 22 (R$ 43)

9 de agosto de 2013

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ritalina e os riscos no futuro

O diagnóstico de Déficit de Atenção e Hiperatividade é controverso desde o início e a indicação da ritalina é mais ainda... Mas uma coisa é certa: tanto o diagnóstico do transtorno quanto a indicação da medicação são feitos de forma totalmente indiscriminada, fazendo do Brasil o segundo lugar no ranking da comercialização do narcótico (isso mesmo! A ritalina é classificada - pela Drug Enforcement Administration - como Narcótico porque tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína!!!)



A ritalina e os riscos de
um 'genocídio do futuro'

Para uns, ela é uma droga perversa. Para outros, a 'tábua de salvação'. Trata-se da ritalina, o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Teria o objetivo de melhorar a concentração, diminuir o cansaço e acumular mais informação em menos tempo. Esse fármaco desapareceu das prateleiras brasileiras há poucos meses (e já começou a voltar), trazendo instabilidade principalmente aos pais, pela incerteza do consumo pelos filhos. Ocorre que essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico. No caso de consumo pela criança, que tem seu organismo ainda em fase de formação, a ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o devido rigor no diagnóstico. Tanto que, no momento, o país se desponta na segunda posição mundial de consumo da droga, figurando apenas atrás dos Estados Unidos. Como acontece com boa parte dos medicamentos da família das anfetaminas, a ritalina 'chafurda' a ilegalidade, com jovens procurando a euforia química e o emagrecimento sem dispor de receita médica. Fala-se muito que, se não fizer o tratamento com a ritalina, o paciente se tornará um delinquente. "Mas nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona", critica a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro. Mais vale a orientação familiar”, encoraja a pediatra, que concedeu entrevista, a seguir, ao Portal Unicamp
Portal Unicamp – Há pouco tempo, faltou distribuição de ritalina no mercado brasileiro. Como essa lacuna foi sentida?
Cida Moysés – Não sabemos verdadeiramente o motivo de faltar o medicamento, mas isso criou uma instabilidade nas pessoas. As famílias ficaram muito preocupadas e entraram em pânico, com medo de que os filhos ficassem sem esse fornecimento. Isso foi sentido de um modo muito mais intenso do que com outros medicamentos que de fato demonstram que sua interrupção seria mais complicada que a ritalina. São os casos dos medicamentos para diabetes ou hipertensão. Apesar de não conhecermos a razão dessa falta do medicamento, sabemos das estratégias de mercado para outros produtos como o açúcar e o café que faltam no supermercado e, por isso, também para os medicamentos que faltam na farmácia. Quando somem das prateleiras, eles criam angústia. No entanto, em geral, retornam mais tarde. E mais caros, é óbvio.
Portal Unicamp – O que é a ritalina? Como ela age?
Cida Moysés – A ritalina, assim como o concerta (que tem a mesma substância da ritalina – o metilfenidato, é um estimulante do sistema nervoso central - SNC), tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína, bem como de qualquer outro estimulante. Ela aumenta a concentração de dopaminas (neurotransmissor associado ao prazer) nas sinapses, mas não em níveis fisiológicos. É certo que os prazeres da vida também fazem elevar um pouco a dopamina, porém durante um pequeno período de tempo. Contudo, o metilfenidato aumenta muito mais. Assim, os prazeres da vida não conseguem competir com essa elevação. A única coisa que dá prazer, que acalma, é mais um outro comprimido de metilfenidato, de anfetamina. Esse é o mecanismo clássico da dependência química. É também o que faz a cocaína.
Portal Unicamp – Quando a ritalina é indicada?
Cida Moysés – Para quem indica, é nos casos com diagnóstico de TDAH. Eu não indico. Para esses médicos, entendo que é necessário traçar uma relação custo-benefício: quanto ganho com esse tratamento em termos de vantagens e de desvantagens. Sabe-se que é uma droga que possui inúmeras reações adversas, como qualquer droga psicoativa. Considero extremamente complicado usar uma droga com essas reações para melhorar o comportamento de uma criança. Qual é o preço disso?
Portal Unicamp – Quais são os sintomas principais?
Cida Moysés – As reações adversas estão em todo o organismo e, no sistema nervoso central então, são inúmeras. Isso é mencionado em qualquer livro de Farmacologia. A lista de sintomas é enorme. Se a criança já desenvolveu dependência química, ela pode enfrentar a crise de abstinência. Também pode apresentar surtos de insônia, sonolência, piora na atenção e na cognição, surtos psicóticos, alucinações e correm o risco de cometer até o suicídio. São dados registrados no Food and Drug Administration (FDA). São relatos espontâneos feitos por médicos. Não é algo desprezível. Além disso, aparecem outros sintomas como cefaleia, tontura e efeito zombie like, em que a pessoa fica quimicamente contida em si mesma.
Portal Unicamp – Não é pouca coisa...
Cida Moysés – Ocorre que isso não é efeito terapêutico. É reação adversa, sinal de toxicidade. Além disso, no sistema cardiovascular é possível ter hipertensão, taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema gastrointestinal, quem já tomou remédio para emagrecer conhece bem essas reações: boca seca, falta de apetite, dor no estômago. A droga interfere em todo o sistema endócrino, que interfere na hipófise. Altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a secreção do hormônio de crescimento. Logo, as crianças ficam mais baixas e também essa droga age no peso. Verificando tudo isso, a relação de custo-benefício não vale a pena. Não indico metilfenidato para as crianças. Se não indico para um neto, uma criança da família, não indico para uma outra criança.
Portal Unicamp – Criança não comportada é um problema social? 
Cida Moysés – Está se tornando. E não vai se resolver colocando um diagnóstico de uma doença neurológica ou neuropsiquiátrica e administrando um psicotrópico para uma criança.
Portal Unicamp – Qual seria o tratamento então?
Cida Moysés – Um levantamento de 2011, publicado pelo equivalente ao Ministério da Saúde nos Estados Unidos, envolve uma pesquisa feita pelo Centro de Medicina baseado em Evidências da Universidade de McMaster, no Canadá, que analisou todas as publicações de 1980 a 2010 sobre o tratamento de TDAH. O primeiro dado interessante foi que, dos dez mil trabalhos que provaram que o metilfenidato funciona, é seguro, apenas 12 foram considerados publicações científicas. Todo o resto foi descartado por não preencher os critérios de cientificidade. Esse é um aspecto muito importante. Dos 12 trabalhos restantes, o que eles encontraram foi que a orientação familiar tem alta evidência de bons resultados, e o medicamento tem baixa evidência. Isso não quer dizer que a família seja culpada. É preciso orientá-la como lidar com essa criança. Além disso, os dados dessa pesquisa sobre rendimento escolar foram inconclusivos, assim como não há nenhum dado que permita dizer que melhora o prognóstico em longo prazo. Fala-se muito que, se a criança não for tratada, vai se tornar uma dependente química ou delinquente. Nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona. E o que está acontecendo é que o diagnóstico de TDAH está sendo feito em uma porcentagem muito grande de crianças, de forma indiscriminada.
Portal Unicamp – Dê um exemplo. 
Cida Moysés – Quando se fala em 5% a 10% de pessoas com determinado problema, o conhecimento médico exige que se assuma que isso é um produto social, e não uma doença inata, neurológica, como seria o TDAH, e muito menos genética. Não dá para pensar em porcentagens. Em Medicina, sobre doenças desse tipo fala-se em 1 para 100 mil ou em 1 para 1 milhão. Então, é algo socialmente que vem se produzindo. Quando digo isso, de novo, não estou dizendo que a família é a culpada. Pelo contrário, é um modo de viver que estamos produzindo.
Portal Unicamp – Quem está sendo medicado? 
Cida Moysés – São as crianças questionadoras (que não se submetem facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Quando impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, “a gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”.  Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível.
Portal Unicamp – Na França, o TDAH é praticamente zero. A que se deve isso? 
Cida Moysés – Isso se deve a valores culturais, fundamentalmente.
Portal Unicamp – Isso em países desenvolvidos?
Cida Moysés – Não necessariamente. Ninguém pode dizer que os EUA não sejam desenvolvidos. Não obstante, o país é o primeiro grande consumidor mundial da ritalina, da onde irradia tudo. O Brasil vem logo em seguida, como segundo consumidor mundial. Ao contrário do que se propaga, de que a taxa de prevalência é a mesma em todos os lugares, isso não é verdade. Varia de 0,1% a 20%, conforme o estudo da Universidade McMaster do Canadá. Varia de acordo com valores culturais, região geográfica, época e conforme o profissional que está avaliando. Há trabalhos que mostram, por exemplo, que médicas diagnosticam mais TDAH em meninos e que médicos mais em meninas, provavelmente por uma falta de identificação. Alguns trabalhos mostram que crianças pobres têm mais chances de receber o diagnóstico. Estamos falando de uma Era dos Transtornos – uma epidemia dos diagnósticos. A França tem uma resistência muito grande a isso por uma questão de formação de médicos, de valores da sociedade. Lá eles têm um movimento muito grande desencadeado por médicos, muitos deles psiquiatras, que se chama collectif pas de 0 de conduite. Esse movimento surgiu como reação à lei que propunha avaliar o comportamento de todas as crianças até três anos de idade. Era um modelo que pegava especificamente pobres e imigrantes. O movimento conseguiu derrubar tal lei.
Portal Unicamp – Existe no Brasil alternativa diferente da medicalização, da visão organicista?
Cida Moysés – Temos uma articulação mais recente que é o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o qual eu e o Departamento de Pediatria da FCM-Unicamp integramos. O nosso Departamento é o seu membro fundador, tendo mais de 40 entidades acadêmicas profissionais e mais de 3.000 pessoas físicas no Brasil, que estão buscando difundir as críticas que existem na literatura científica sobre isso. Além do mais, procuramos construir outros modos de acolher e de atender as necessidades das famílias dos jovens que vivenciam e sofrem com esses processos de medicalização. Em novembro, a Unicamp promoverá um Fórum Permanente sobre Medicalização da Vida, que irá abordar essas questões de medicalização e de patologização da vida. Todos estão convidados.

Fonte:
http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/08/05/ritalina-e-os-riscos-de-um-genocidio-do-futuro


Para ver mais posts sore o tema clique aqui e leia "Da geração Coca-Cola à geração Ritalina"O artigo questiona o tratamento, a causa, a utilização do transtorno como justificativa de baixo desempenho escolar e sobretudo, da impossibilidade dos pais lidarem com seus filhos.

8 de agosto de 2013

Dica :: Blog do III Simpósio de Psicanálise de Niterói

Vocês conhecem o Blog do III Simpósio de Psicanálise de Niterói?
Além das informações sobre o evento, o blog está recheado de textos de excelentes autores falando de assuntos pertinentes ao tema do Simpósio: Clínica e Contemporaneidade.

Confira!
http://simposiodepsicanalisedeniteroi.blogspot.com.br/





28 de setembro de 2013, sábado
Auditório do
 Edifício Central Park

Rua Otávio Carneiro, 143 - Icaraí - Niterói - RJ

Informações e inscrições:
simposiodepsicanalisedeniteroi@gmail.com


7 de agosto de 2013

Novo site no ar!

Site reformulado!

Fique por dentro dos eventos sobre Psicanálise, vídeos, textos e artigos! Acompanhe a programação de estudos, seminários e atividades!

http://fernandapimentel.com.br




11 de julho de 2013

Mostra Quentin Tarantino no CCBB


Na semana que vem, vai chegar ao Rio a Mostra Quentin Tarantino, no CCBB. Serão exibidos todos os filmes do cineasta, incluindo suas participações como ator e produtor, totalizando 19 títulos. 
E outra boa notícia é que o Cinepasse sai por R$6 ou 3 (meia) e vale pra TODOS os filmes da mostra! 

De 17 a 29 de Julho
*O CCBB agora não abre às TERÇAS
R$ 6 e R$ 3 (meia) – Você só paga uma vez para ir a todas as sessões!*
*CINEPASSE : Válido por 30 dias, para acesso às mostras de cinema, por meio de senhas. As senhas deverão ser retiradas 1 hora antes decada sessão (eu nunca tive problemas pra retirar mais perto da sessão começar, desde que hajam lugares livres, claro).

Programação Completa

17 de julho – quarta-feira
14h30 – Amor à Queima-Roupa (1993), 120 min, DVD, 16 anos
17h – Cães de Aluguel (1992), 99 min, 35mm, 18 anos
19h - Tarantino’s Mind (2006), 15 min, DVD, 14 anos + Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), 154 min, 35mm, 18 anos

18 de julho – quinta-feira
15h30 – Assassinos por Natureza (1994), 118 min, 35mm, 18 anos
18h – O Albergue (2005), 100 min, DVD, 18 anos
20h – O Albergue 2 (2007), 93 min, DVD, 18 anos

19 de julho – sexta-feira
14h – Dance me to the End of Love (1995), 6 min, DVD, 14 anos + Grande Hotel (1995), 98 min, 35mm, 16 anos
16h – Jackie Brown (1997), 154 min, 35mm, 16 anos
19h – Django Livre (2012), 145 min, 35mm, 16 anos

20 de julho – sábado
14h30 – Um Drink no Inferno (1995), 108 min, 35mm, 18 anos
17h – Um Drink no Inferno 2 : Texas Sangrento (1999), 96 min, DVD, 18 anos
19h – Sin City – A Cidade do Pecado (2005), 124 min, 35mm, 16 anos

21 de julho – domingo
14h30 – Kill Bill: Vol.1 (2003), 110 min, 35mm, 18 anos
16h30 – Kill Bill: Vol.2 (2004), 136 min, 35mm, 16 anos
19h – Bastardos Inglórios (2009), 153 min, 35mm, 18 anos

22 de julho – segunda-feira
15h – Jackie Brown (1997), 154 min, 35mm, 16 anos
18h30 – Grindhouse – À Prova de Morte + Planeta Terror , 191 min, Bluray, 18 anos

24 de julho – quarta-feira
14h30 – O Albergue (2005), 100 min, DVD, 18 anos
16h30 – Sin City – A Cidade do Pecado (2005), 124 min, 35mm, 16 anos
19h – Bastardos Inglórios (2009), 153 min, 35mm, 18 anos

25 de julho – quinta-feira
16h – O Albergue 2 (2007), 93 min, DVD, 18 anos
18h – Cães de Aluguel (1992), 99 min, 35mm, 18 anos
20h – Kill Bill: Vol.1 (2003), 110 min, 35mm, 18 anos

26 de julho – sexta-feira
15h – Um Drink no Inferno (1995), 108 min, 35mm, 18 anos
17h – Dance me to the End of Love (1995), 6 min, DVD, 14 anos + Amor à Queima-Roupa (1993), 120 min, DVD, 16 anos
19h30 – Kill Bill: Vol.2 (2004), 136 min, 35mm, 16 anos

27 de julho – sábado
15h – Um Drink no Inferno 2 : Texas Sangrento (1999), 96 min, DVD, 18 anos
17h – Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), 154 min, 35mm, 18 anos
20h – À Prova de Morte (2007), 114 min, 35mm, 16 anos

28 de julho – domingo
15h30 - Grande Hotel (1995), 98 min, 35mm, 16 anos
17h30 – Assassinos por Natureza (1994), 118 min, 35mm, 18 anos
20h – Planeta Terror (2007), 92 min, DVD, 18 anos

29 de julho – segunda-feira

14h - Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), 154 min, 35mm, 18 anos
17h – Django Livre (2012), 145 min, 35mm, 16 anos
20h – Tarantino’s Mind (2006), 15 min, DVD, 14 anos + Cães de Aluguel (1992), 99 min, 35mm, 18 anos

4 de julho de 2013

XXII Jornadas Clínicas da EBP-Rio - Nós e o corpo: enlaces e desenlaces na psicanálise hoje



Argumento
Ao falarmos do Corpo na Psicanálise uma pergunta se impõe: que corpo é esse que a psicanálise aborda? O corpo tende a ser tomado em nosso campo via oposição entre corpo imaginário (do espelho) e o corpo simbólico (que porta as mensagens histéricas, por exemplo). Todavia, o ultimíssimo ensino de Lacan nos faz pensar no corpo real. Um corpo que porta um gozo repetitivo e insensato. O corpo da iteração do Um, da repetição da letra de gozo. Por aí pensamos que abordar o corpo implica em enodar essas perspectivas. Não poderíamos deixar de considerar como o corpo se apresenta na clínica hoje: 'bombado', tatuado, "sarado", anorexico, compulsivo, medicalizado, mutilado, etc... e especialmente mudo, num mundo pleno de tagarelice. Nossa questão é como abordar esses corpos com nosso instrumento de palavras. Sem cairmos no empuxo ao esvaziamento simbólico da época, como podemos afetar esse corpo de gozo? Outras linguagens como a arte, a filosofia, a ciência e a educação, têm também seus embates e suas formas de expressar as questões postas pelo corpo. Seus respectivos modos de tratar aspectos como a beleza, a potencia, a fragilidade e a finitude, e suas possíveis interseções com a psicanálise são temas que queremos tratar. Para isso convidamos a todos os interessados a participarem das XXII Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ, a se realizarem nos dias 25 e 26 de outubro de 2013 na Casa de Espanha.

Informações Gerais
Data: 25 e 26 de outubro de 2013
Local: Casa de Espanha, Rua Maria Eugênia, 300 - Humaitá.
Envio de trabalhos: até o dia 08 de setembro de 2013. O envio será feito pelo site das XXII Jornadas a partir do mês de agosto. Limite de caracteres (com espaço): 6000.
Inscrições e informações: na secretaria da EBP-Rio e do ICP-RJ, na Rua Capistrano de Abreu, 14 – Botafogo. Tel.: 2539 0960.

X Simpósio do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise da UERJ - "Psicanálise e saúde: entre o Estado e o sujeito"

Veja a convocatória



"Psicanálise e saúde: entre o Estado e o sujeito" 
O tema do simpósio visa um campo que nos convoca, no presente, em razão de embates clínicos e políticos que não cessam de se acentuar. No campo das práticas e políticas públicas de saúde, que historicamente suportou a interlocução com a Psicanálise, deparamo-nos hoje - por uma série de circunstâncias ideológicas, políticas e econômicas - com a ameaça de um crescente alheamento em face de determinados fatores que se apresentam. Destes, destacamos a imposição de protocolos universalizantes que constrangem a atuação de cada um, o recrudescimento de iniciativas normatizadoras, os ideais de prevenção e securitários e a mística da eficácia e da gestão que se sobrepõe à ética e à política. Tais circunstâncias têm por pano de fundo um momento crucial do capitalismo, como se observa com a imposição à sociedade do pagamento do saldo deixado pela implementação de uma lógica financeira que rechaça sua própria impossibilidade. A crise que o capital gestou, no lugar de aventar limites a tal lógica, exige sacrifícios à sociedade no que se refere a conquistas arduamente consolidadas na esfera pública. A interrogação que deve ser permanente quanto às possibilidades de a Psicanálise operar no campo da saúde precisa levar em conta, então, a incidência nos discursos que compõem tal campo destes fatores que elencamos. Isto implica interpelar renovadamente as próprias noções que o fundamentam - saúde? público? - e o lugar do Estado. Como norte para este trabalho, o conceito de sujeito é proposto como divisa da Psicanálise, como ponto de sustentação da inserção de outro discurso no debate. As inflexões que se identificam no campo da saúde não deverão implicar, assim, do lado da Psicanálise, nem resignação nem simples rechaço. A fazermos jus à sua tradição, deverá implicar o despertar de um trabalho consequente.


Maiores informações: http://www.cepuerj.uerj.br/desc_eventos.aspx?evento=26

Já enviei uma proposta de mesa redonda junto com Adriana Lipiani e Claudia Henschel de Lima intitulada Toxicomania e Anorexia: manifestações no corpo dos excessos pulsionais.

2 de julho de 2013

"Diga-me o tamanho de seus seios e a brancura de seus dentes..."

Texto publicado no site do VI ENAPOL - VI Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana e XVIII Encontro Internacional do Campo Freudiano, que nos convoca a pensar a ralação dos sujeitos com seus corpos na atualidade. 

O Encontro, que tem como tema Falar com o Corpo: A crise das normas e a agitação do Real, acontece em novembro em Buenos Aires 

Cosmos cosmética
Jorge Castillo

"O homem intervém sobre seu corpo de forma similar àquela em que os artistas intervêm sobre os objetos cotidianos: o pintam, o cortam, o perfuram, o atravessam, o queimam, lhe acrescentam outros objetos.
Isto é assim em todas as civilizações, desde que o homem é homem, ou seja, desde que existe a linguagem. Não se trata de um fenômeno isolado, mas de um fato de estrutura. Há uma insuficiência da imagem do corpo em responder à pergunta: "Quem sou?". A cosmética pode, então, funcionar como uma espécie de ortopedia para nos reconhecermos no olhar do Outro. Uma ajudinha para a identificação. Para fazer o amor e a guerra. Como uma velhinha que dizia haver começado a pintar os lábios para que não a confundissem com um velhinho.
A cosmética pode também servir para se fazer passar pelo que não se é ou para escapulir sem ser visto. Para enganar o Outro, para causar seu desejo, sua ira ou seu temor. Trata-se de uma satisfação ligada à imagem do corpo que a cosmética pode ajudar a dialetizar, a entrar no jogo significante fazendo signo das marcas nesse corpo.
Na era da biopolítica, entretanto, assistimos a fenômenos nos quais é difícil encontrar os traços da significação. Os desenvolvimentos da cirurgia, a engenharia genética e a química farmacológica produzem novos tipos de intervenções sobre o corpo que é agora a mercadoria privilegiada. Diga-me o tamanho de seus seios, a brancura de seus dentes ou o comprimento de seu cabelo e lhe direi quem você é e quanto vale. Eu o direi...! Ao menos por um instante! Compram-se e vendem-se identificações descartáveis com corpos que se deformam à vontade. No falso discurso do capitalismo a gama sem fim de objetos postiços se oferece como a sutura mágica para a ferida mais profunda.

Fotografia: Helmut Newton 

Mais além dos ideais plásticos do mercado encontramos, também, um uso desaforado desses objetos. Deformações, em alguns casos, monstruosas, que parecem se incluir em um tratamento do gozo que não conta com o falso furo da castração pela qual o Nome-do-Pai dá consistência ao corpo.Afazeres do corpo sobre o corpo, círculo sem fim na qual uma cirurgia convoca outra.
Não existe a opção: divã ou bisturi, entretanto, no que diz respeito à psicanálise, as manipulações químico-cirúrgicas podem tomar o valor de acontecimento de corpo com a condição de que isso se enlace com a língua de cada um. O espaço analítico com seu artifício de palavra posta em transferência vale dizer, a palavra que pode recortar um objeto, restitui ao sujeito um corpo para gozar. É uma chance para fazer da vida uma experiência um pouco mais suportável com um uso inédito e singular da cosmética."