Artigo da jornalista Eliane Brun aborda as dificuldades e a responsabilidade de cuidar de uma criança na pandemia e chama atenção para um fato quase inédito: crianças que nunca viram ou brincaram com outras crianças.
O que significa cuidar de um filho numa pandemia?
O menino é filho
único e tem oito anos. Logo nas primeiras semanas da pandemia, ele elegeu dois
bichos de pelúcia para serem seus parceiros. Quando jogava videogame, colocava
um dos bonecos ao lado, com um controle no colo, como se estivessem brincando
juntos. Os amigos seguiam com ele dividindo as atividades do dia. O menino
fantasiava outros meninos para enfrentar a falta atroz de outras
crianças. Uma mãe me conta, por tela, que seu bebê nasceu na
pandemia e logo completará um ano sem nunca ter visto uma outra
criança. Já começa a andar e a balbuciar algumas tentativas de
palavras sem jamais ter encontrado ou tocado em outro bebê. Que tipo de efeito
isso terá sobre a sua vida? E se a pandemia durar mais um ano?, ela pergunta,
mas sem a esperança de uma resposta. Outra menina pede: “Mãe, me dá uma
criança?”.
A pandemia forjou
uma realidade de crianças sem crianças.
Ainda não conhecemos totalmente os efeitos que essa experiência
radical pode ter sobre quem estreia na vida. Também não sabemos
quando esse cotidiano será superado, já que são muitas as variáveis: do tempo
para completar a vacinação ao impacto das novas cepas que
já começaram a circular. Negar a emergência sociossanitária, como alguns estão
fazendo, é a pior escolha possível. Como os adultos de sua vida lidam com essa
pandemia será um exemplo que marcará profundamente a formação de cada criança,
porque todos os desafios e as escolhas éticas fundamentais de uma vida humana
estão colocados nesse acontecimento. Pode faltar criança para brincar, mas não
pode faltar ética para formar.
“Faltar” criança
para conviver é um dado da realidade em uma pandemia. É duro, mas há que se
lidar com ele. Faltar ética ao escolher como enfrentar a crise pode ser mais
complicado e ter efeitos mais longos. As crianças estão observando o que os
pais fazem com ainda maior atenção porque também elas sentem nos ossos a
emergência. As lições do agora serão
para toda a vida.
O que
significa cuidar de uma filha ou filho numa
pandemia? Ou o que significa cuidar da próxima geração numa
emergência global de saúde pública, já que somos todos pais daquelas
e daqueles que assumirão a responsabilidade por esse mundo nas próximas
décadas? Essa questão vale para todos os adultos em qualquer país do mundo, mas
no Brasil ela ganha contornos muito mais dramáticos.
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