.
.

27 de janeiro de 2021

O ideal de perfeição que mata mulheres

Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo!

A pesquisa mais recente revela dados de 2019 e calcula que neste ano foram realizadas 1.493.673 cirurgias e 1.072.002 procedimentos não cirúrgicos, como preenchimentos, botox e outros menos invasivos, porém não menos arriscados. O número de cirurgias não aumentou tanto em comparação com o ano anterior, mas o número de procedimentos teve um assustador aumento de 28%. Dentro das cirurgias, a lipoaspiração é o procedimento mais comum por aqui e foram realizadas 231.604 cirurgias em 2019.

O cenário é bem mais complicado quando olhamos de longe e constatamos que o aumento de cirurgias vem acontecendo globalmente. Desde que comecei a pesquisar a imagem do corpo, os excessos de manipulações estéticas e o que eu venho chamando de Patologias da Beleza, esse número nunca diminuiu nenhum digito, só cresceu.

No mundo, em 2018, foram realizadas 10.607.227 cirurgias estéticas e 12.659.147 procedimentos estéticos não cirúrgicos. Em 2019 foram 11.363.569 cirurgias e 13.618.735 procedimentos não cirúrgicos. As estatísticas de 2020 ainda não foram divulgadas, mas alguns estudos já apontam para um aumento do número de rinoplastias, relacionado ao crescente do uso de câmeras, filtros e chamadas de vídeo.

Foi desse cenário de excessos e banalização que ouvi a triste notícia da modelo e influenciadora digital de 26 anos que morreu em decorrência de complicações depois da realização de uma cirurgia de lipoaspiração, cirurgia plástica mais realizada no Brasil.

Quando uma modelo, referência de beleza com quase 200 mil seguidores, morre na busca pelo corpo ideal, fica claro pra gente a dimensão a que estética do corpo assume hoje em dia. E é essa dimensão amplificada do corpo e da perfeição que precisamos interrogar. Questionar o lugar que a busca pelo corpo perfeito ocupa na cultura atual, como esse ideal de perfeição recai sobre as mulheres e em que medida ele fica regulado pelo mercado e pela perversa indústria da beleza.

Quando uma tragédia dessas acontece as estatísticas se materializam em forma de história e todo o glamour das cirurgias e do corpo perfeito desaparece.  E quando o glamour se apaga o que aparece é o que os 2 milhões e meio de procedimentos realizados no ano escondem: que o ideal de perfeição mata, aprisiona mulheres e mutila seus corpos.

 

Pesquisa: International Society of Aesthetic Plastic Surgery – ISAPS

Fotos: Revista Vogue. Itália, 2005. Steve Meisel e Franca Sozzani.


Fernanda Pimentel é psicanalista, professora e pesquisadora. Doutora em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.






 

Nenhum comentário: