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21 de outubro de 2008

ESTRUTURA E PSICANÁLISE

Já havia comentado aqui do V SIMPÓSIO DA PÓS-GRADUAÇÃO DA UERJ - ESTRUTURA E PSICANÁLISE que acontecerá dia 27 a 29 de outubro.

Recebi agora a programação do evento com os temas das mesas:

27 DE OUTUBRO, 2ª feira

CAPELA ECUMÊNICA DA UERJ

9h – MESA DE ABERTURA

  • Reitor da UERJ – Ricardo Vieiralves de Castro
  • Diretor do IP – Ademir Pacelli Ferreira
  • Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise – Doris Luz Rinaldi

9h30 às 11h – PLENÁRIA DE ABERTURA

  • Por que estrutura e psicanálise? Rita Maria Manso de Barros (UERJ, UNIRIO)
  • Pulsão e linguagem: a lalíngua lacaniana. Tânia Coelho dos Santos (UFRJ)
  • O corpo e o discurso. Heloisa Caldas (UERJ)
  • Paixão da linguagem. Ana Maria Rudge (PUC-RJ)

11h às 12h30 – PRIMEIRA PLENÁRIA

  • O objeto da psicanálise entre o signo e o significante. Marcus André Vieira (PUC-RJ)
  • Genealogia do objeto a - uma introdução. Marco Antonio Coutinho Jorge (UERJ)
  • Lacan, o mais sublime dos estruturalistas. Sérgio Scotti (UFSC)
  • Jacques Lacan: apropriação e subversão. Nadiá Paulo Ferreira (UERJ)

Coordenação: Heloisa Caldas Ribeiro (UERJ)

12h30 às 14h – Intervalo para Almoço

14h às 15h30 – SEGUNDA PLENÁRIA

  • O mana como furo na estrutura: Mauss com Lacan? Doris Luz Rinaldi (UERJ)
  • Angústia: uma questão de estrutura? Sonia Leite (UNESA)
  • Ato e desejo: a função ética do real. Fernanda Costa-Moura (UFRJ)
  • Tempo, acontecimento e estrutura. Ana Costa (UERJ)

Coordenação: Marco Antonio Coutinho Jorge (UERJ)

15h30 – Intervalo

16h – CONFERÊNCIA: Estrutura e religião. Sidi Askofaré (Universidade de Toulouse II – Le Mirail)

Coordenação: Sonia Alberti (UERJ)


28 DE OUTUBRO, 3ª feira

9h30 às 11h – SALAS SIMULTÂNEAS

MESA 1 – AUDITÓRIO 33, 3º ANDAR

  • Sujeito, estrutura e rede: a psicanálise na atenção psicossocial. Ana Cristina Figueiredo (UFRJ, UERJ), Ana Paola Frare (UERJ), Daniela Bursztyn (SMS/RJ, UERJ), Wagner Erlange Monteiro (SMS/RN, UERJ)
  • Os efeitos discursivos do diagnóstico na clínica psicanalítica e na clínica do comportamento. Simone Mendonça Delgado (UERJ)
  • Estruturas clínicas e sujeito: o lugar do diagnóstico em psicanálise. Sonia Altoé e Magali Milene Silva (UERJ)
  • O que há de mal-entendido na estrutura? Lucia Mª de Freitas Perez (UERJ)

Coordenação: Maria Helena Martinho (UERJ)

MESA 2 – AUDITÓRIO do SPA – 10º ANDAR, SALA 10.030, BLOCO D

  • O discurso do capitalista e o fenômeno das toxicomanias. Julia Reis da Silva (UERJ)
  • A atualização do inconsciente num caso de neurose obsessiva. Maria Angélica Pisetta (UCP)
  • A estrutura topológica do objeto a e o fenômeno psicossomático. Joseane Garcia de Souza Moraes (UERJ)
  • Em que se pode reconhecer o estruturalismo em Lacan? Ou o problema da melancolia como estrutura clínica. Felipe Castelo Branco (UERJ)

Coordenação: Richard Couto (UERJ)

MESA 3 – SALA 10.028, BLOCO F, 10º ANDAR.

  • O destino da perversão na segunda clínica de Lacan. Lidia O.de Arraes Alencar (UFF)
  • Os dois usos do termo perversão na psicanálise. Sanne Vieira Barbosa Leite (Corpo Freudiano/RJ)
  • A castração que traumatiza é a mesma que apazigua? Caio Rodrigues de Mattos Filho (UFRJ)
  • A função da angústia na estruturação do sujeito pelo significante. Jorge Luís G. Santos (UFRJ)

Coordenação: Renata Mattos de Azevedo (UERJ)

11h às 12h30

MESA 4 – AUDITÓRIO 33 – 3º ANDAR

  • O corpo para além da estrutura. Mara Viana de Castro Sternick (UERJ)
  • Estrutura, real e sujeito na música pós-tonal: o acaso e a indeterminação na obra de John Cage. Renata Mattos de Azevedo (UERJ)
  • O tempo de uma escrita no corpo estruturado como uma linguagem. Luciana Brandão Carreira Del Nero (UERJ)
  • A noção de estrutura em psicanálise. Sonia Altoé e Maria Helena Martinho (UERJ)

Coordenação: Angélica Cantarella Tironi (UERJ)

MESA 5 – AUDITÓRIO DO SPA – 10º ANDAR, SALA 10.030, BLOCO D

  • Das substâncias ao nihil – retomando o conceito de sujeito. Raquel Horta Fialho do Amaral (PUC-RJ)
  • Da ciência da linguagem à ciência do sujeito. Jenniffer de Paula Oliveira Bello (UERJ)
  • A dimensão ética da estrutura em psicanálise. Marcos Eichler de Almeida Silva (UFRJ/UFF)

Coordenação: Elizabeth da Rocha Miranda (UERJ)

MESA 6 – SALA 10.028, BLOCO F, 10º ANDAR.

  • Notas sobre o objeto a na psicose. Mariana Abreu (CAPsi Maria Clara Machado)
  • Interpretação estrutural do delírio e posição subjetiva na alucinação verbal. Bianca Novaes (PUC-RJ), Eduardo Rotstein (UFRJ)
  • Um caso de suplência construída em torno do objeto voz. Dóris Rangel Diogo (PAM 13 de Maio/RJ)
  • Tentativa de suicídio. Denise S. Maciel Gondim (IseCENSA/Campos)

Coordenação: Ana Cristina Figueiredo (UFRJ, UERJ)

12h30 às 14h – Intervalo para Almoço

14h às 15h30 – TERCEIRA PLENÁRIA – AUDITÓRIO 33, 3º ANDAR

  • Estrutura e entropia. Sonia Alberti (UERJ)
  • O impacto da topologia borromeana no estruturalismo lacaniano. Andréa Máris Campos Guerra (UFMG)
  • Estruturas e rupturas do objeto a: a utopia lacaniana. Edson Luiz André de Sousa ( UFRGS)
  • Condições de destrutibilidade do “desejo indestrutível” de Freud como fato de estrutura. Luciano Elia (UERJ)

Coordenação: Ana Beatriz Freire (UFRJ)

15h30 – Intervalo

16h – APRESENTAÇÃO DE PÔSTERES E DE BANNERS DE PUBLICAÇÕES

LANÇAMENTO DO LIVRO:

A sexualidade na aurora do século XXI. Sonia Alberti (org.). Rio de Janeiro: Cia. de Freud, CAPES, 2008.


29 DE OUTUBRO, 4ª feira

9h30 às 11h – QUARTA PLENÁRIA – AUDITÓRIO 33, 3º ANDAR

  • Estrutura e feminino. Elisabeth da Rocha Miranda e Sonia Alberti (UERJ)
  • A escrita e o gozo feminino em "Água viva", de Clarice Lispector. Marcia Mello de Lima e Angela Batista (UERJ)
  • Os fundamentos freudianos do conceito de estrutura em Lacan. Laéria Fontenele (UFC)
  • Mais além dos limites da estrutura: o Nome-do-Pai como Sinthome. Gilsa F. Tarré de Oliveira (UERJ, UNESA)

Coordenação: Ademir Pacelli Ferreira (UERJ)

11h às 12h30 – QUINTA PLENÁRIA – AUDITÓRIO 33, 3º ANDAR

  • 1968: o ano que abalou as estruturas. Zuenir Ventura (Escritor)
  • Entre estrutura e processo: a questão dos suicídios entre os Guarani-Kaiowa de MS. Fabio Mura (UFRJ)
  • A psicanálise lacaniana em 1968: discursos, semblantes e laços sociais. Tânia Coelho dos Santos (UFRJ)

Coordenação: Rita Maria Manso de Barros (UERJ, UNIRIO)

12h30 às 14h – Intervalo para Almoço

14h às 15h30 – SALAS SIMULTÂNEAS

MESA 7 – AUDITÓRIO 33, 3º ANDAR

  • O que há de estruturalismo no ensino de Lacan? Pontos de convergência e de divergência. Angélica Cantarella Tironi e Richard Couto (UERJ)
  • O estatuto ético do real e sua função no advento do sujeito. Fernanda Costa-Moura e Marcos Eichler de Almeida Silva (UFRJ)
  • Da estrutura à causa. Cláudia Henschel de Lima. (UNI-IBMR)
  • A dimensão ética na metapsicologia. Antonio Dalbone e Eduardo Rotstein (UFRJ)

Coordenação: Marcia Mello de Lima (UERJ)

MESA 8 – AUDITÓRIO do SPA, 10º andar, sala 10.030, bloco D

  • Considerações sobre o real, o simbólico e o sujeito na ciência e na psicanálise. Hilana Erlich – (SMS/RJ)
  • Considerações sobre o método estruturalista de Lévi-Strauss. Adriana Dias de A. Bastos, Bruna Paranhos Americano e Luciana F. Piza (UERJ)
  • A determinação significante do sujeito do inconsciente. Joana Coelho Barbosa (UFRJ)
  • A estrutura em Merleau-Ponty. Rafael Ramos Gonçalves (Corpo Freudiano/RJ)

Coordenação: Sonia Altoé (UERJ)

MESA 9 – SALA 10.028, 10º ANDAR, BLOCO F

  • Salvador Dalí – Estrutura e a verdade no mito trágico do Angelus de Milet. Vanisa Maria da Gama Moret Santos (UERJ)
  • A estrutura textual de Dom Casmurro e Hamlet. Geraldo Martins (Centro Universitário Newton Paiva/BH)
  • A forma erotomaníaca de amar e a erotomania. Valéria Rezende (UERJ)
  • Revisitando fundamentos: a estrutura como defesa. Denise Maurano (UNIRIO)

Coordenação: Doris Luz Rinaldi (UERJ)

15h30 – Intervalo

16h – CONFERÊNCIA – AUDITÓRIO 33, 3º ANDAR

O esquematismo da estrutura. René Lew (Dimensions de la Psychanalyse).

Coordenação: Luciano Elia (UERJ)

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Entrevista com Miller


Encontrei um entrevista com Jacques-Alain Miller num blog muito legal chamado Significantes, que vale a pena dar uma conferida. (No blog e na entrevista)
A materia é da Psychologies Magazine de outubro 2008 (n° 278)

Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.

P.: Então, o que é amar verdadeiramente?

J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão "Quem sou eu?".

P.: Por que alguns sabem amar e outros não?

J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers - se posso dizer - homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.

P.: "Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso...

J-A Miller: Acertou! "Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem". O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua "castração", como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.

P.: Amar seria mais difícil para os homens?

J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a "degradação da vida amorosa" no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.

P.: E nas mulheres?

J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem...

P.: Por que "cada vez mais"?

J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman. Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa.

P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?

J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.

P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela?

J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no nariz de uma mulher!

P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras!

J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina.

P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?

J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.

P.: E a fantasia masculina?

J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe, a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.

P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!

J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes. Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.

P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?

J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante”. Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles.

P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas...

J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.

Entrevista realizada por Hanna Waar
Tradução de Maria do Carmo Dias Batista
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Conferência

Conferência: "A condição sensível"
O IMS da UERJ e o EBEP convidam para a Conferência da Profª Claudine Haroche, a ser realizada no dia 22 de outubro às 9 horas na Medicina Social da UERJ, sala 7.001.
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A Profª Claudine Haroche é antropóloga, pesquisadora do CNRS e professora da Écolle des Hautes Études en Sciences Sociales
Mediação: Joel Birman
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Instituto de Medicina Social - UERJ
Rua São Francisco Xavier, 524, pavilhão João Lyra Filho, 7º andar, blocos D e E
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Curso na IPLA em Sampa

O Instituto da Psicanalise Lacaniana oferece o curso O que e a Segunda Clinica de Jaques Lacan, no próximo sábado, dia 25 de outubro.
As aulas serão ministradas por Jorge Forbes, Claudia Riolfi, Ariel Bogolchvol e Leny Mrech.

Clique na imagem abaixo para ver melhor.
.Informações:
IPLA
Tel: (11) 3061-0947
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