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13 de outubro de 2020

Sobre a fofoca, com Silvia Federici - em defesa dos vinculos entre as mulheres

Silvia Federici é filósofa, professora emérita da Universidade Hofstra em Nova Yorke e reconhecida ativista feminista. Italiana radicada nos Estados Unidos, é autora de Calibán e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (2004) , Revolução ao ponto zero: trabalho doméstico, reprodução e lutas feministas (2013) e Mulheres e caça às bruxas (2019), entre outros.

No vídeo, a autora aborda um ponto trabalhado no livro Calibán e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (2004) sobre a fofoca e a mudança do significado deste termo. Para ela, esse processo desvela uma tentativa de diluição dos vínculo entre as mulheres, de silenciamento e principalmente da recusa e desvalorização do saber que circulava entre as mulheres. 






Fernanda Pimentel é psicanalista, professora e pesquisadora. Doutora em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

12 de junho de 2020

Para o dia dos namorados


No dia dos namorados vamos pensar o amor na atualidade da pandemia com dois vídeos da maravilhosa Rita Von Hunty.
No primeiro ela aborda os aplicativos de relacionamento e os processos de reificação e falência na capacidade de sustentar narrativas, diálogos e relações que se evidenciam no cenário atual.
No segundo, onde cita Lacan no seminário 6 - O desejo e sua interpretação, Rita aponta o imperativo da nossa época - "seja feliz!" - e o quanto isso nos aliena de nosso próprio desejo. 







Fernanda Pimentel é psicanalista, professora e pesquisadora. Doutora em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

11 de julho de 2016

Entrevista com Simone de Beauvoir, em 1959



Simone de Beauvoir foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política e feminista francesa, que teve uma influência significativa tanto no existencialismo quanto na teoria feminista.

Formada em filosofia pela Universidade de Sorbonne, onde conheceu outros jovens intelectuais, como Maurice Merleau-Ponty, René Maheu e Jean-Paul Sartre - com quem manteve um relacionamento por toda a vida -, De Beauvoir escreveu romances, ensaios, biografias, (e até uma autobiografia!) sobre filosofia, política e questões sociais. Seu trabalho mais conhecido é o livro O Segundo Sexo, de 1949, onde faz uma análise detalhada sobre a opressão das mulheres e um tratado fundamental do feminismo contemporâneo.

Nessa rara entrevista, concedida para a Rádio Canadá e realizada na França em 1959 por Wilfrid Lemoine, a autora fala de amor livre, existencialismo, feminismo e relacionamentos. Apesar de ter sido gravada ainda na década de 50, a entrevista só foi difundida recentemente, devido a grande pressão por parte da igreja católica e do arcebispo de Montreal, que censuraram o material na época. 

Simone de Beauvoir Fala (1959):




Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.


29 de agosto de 2014

E se Freud tivesse atendido o "Pequeno Hitler"?

De acordo com historiadores da Psicanálise, Sigmund Freud teria sido consultado pelo médico da família Hitler, Dr. Ernest Bloch, sobre a instabilidade, condutas inapropriadas e terríveis pesadelos do pequeno Adolf, então com 6 anos. 
A recomendação foi "internação e tratamento" em uma instituição para crianças em Viena. Contudo, temendo que a equipe médica descobrisse os maus tratos sofridos pelo menino, o pai não seguiu a recomendação médica.


                                                                       Pequeno Hitler

Será que se o pequeno führer tivesse recebido o tratamento adequado, a história da humanidade poderia ter sido diferente? A Psicanálise poderia mudar o destino traçado pelo pai tirano?

E se Freud tivesse atendido Hitler? Teríamos acesso ao caso do "Pequeno Adolf", publicado em alguns dos 24 volumes de sua obra, como temos do "Pequeno Hans"? 





Veja a matéria de Enfoques:


La pesadilla de Hitler

Según un estudio reciente, en 1895 Sigmund Freud habría recomendado que el futuro Führer, entonces de años, fuera internado en un instituto de salud mental para ser tratado por su conducta patológica.
Mostruos y abismos invadían cada noche los sueños del pequeño Adolf
Un muchachito austríaco de seis años y gesto desafiante, el mentón elevado y la mirada firme, las piernas abiertas, los brazos cruzados, algo diferente del resto de sus compañeros de colegio, cambió con el tiempo la historia de Europa.
Hijo de Alois, un funcionario de aduana, y de Klara, una sufrida ama de casa, en 1895 Adolf Hitler no representaba nada, para el poder de Guillermo II en Alemania ni para el de Francisco José I, monarca del imperio austrohúngaro. Después de todo, sólo se trataba de un pequeño escolar que suficientes problemas ya tenía en su casa como para preocupar a tan importantes personajes que en aquellos días continuaban decidiendo el destino de gran parte del mundo, ya que sus guerras y reconciliaciones, sus tratados y sus ambiciones tenían un impacto profundo más allá de las fronteras, hasta ultramar.
Una reciente investigación realizada en Londres por el escritor de televisión Laurence Marks, que tuvo la colaboración de John Forrester, estudioso de Sigmund Freud y su obra, indica que el padre del psicoanálisis recomendó en 1895 que el pequeño Adolf fuese internado a los seis años en un instituto de salud mental para niños de Viena...

Conteúdo completo aqui

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
http://fernandapimentel.com.br

2 de julho de 2014

Rede social, modernidade e relacionamentos


´A máscara que usamos no Facebook é a mesma que usamos na vida´, diz Calligaris


Em palestra no Info Trends, o psicanalista Contardo Calligaris fala sobre modernidade, felicidade e a influência da internet e redes sociais nos relacionamentos interpessoais.
Fonte: Info



O psicanalista Contardo Calligaris afirmou, em palestra no InfoTrends, que não acredita que as mídias sociais tenham inventado um novo tipo de relação social ou mesmo a subjetividade nos relacionamentos.
Para Calligaris, as novas tecnologias ainda precisam produzir mudanças objetivas na sociedade para marcarem um novo tipo de relação. “O Facebook facilita a maneira de se relacionar, mas que já era a maneira de ser própria da modernidade ocidental desde o início do século 20”, afirmou.
O psicanalista acrescenta que as críticas às relações virtuais são muito questionáveis, pois mesmo os relacionamentos amorosos ou conversas em uma mesa de bar sempre foram virtuais.  “As pessoas não se apaixonam por pessoas reais, desejamos uma fantasia criada por nós mesmos. Aproveitamos a presença do outro para tirar proveito dessa fantasia”, explica. “O amor sempre foi um baile de máscaras e quando essas máscaras caem nós estranhamos o resultado”.
Segundo Calligaris, o Facebook e as redes sociais instituíram um tipo de comportamento típico das sociedades narcisistas, uma maneira de se relacionar na qual a pessoa só existe sob o olhar dos outros. “No passado éramos a herança de nossas origens e só a partir do século 19 a questão de saber quem somos depende do olhar dos outros: os outros veem em mim quem eu sou”, disse. “Com isso ganhamos mais liberdade, deixamos de ser escravos do que foram nossos antepassados”, lembrou.
Para o psicanalista, no entanto, essa “liberdade” tornou-se um novo tipo de escravidão. “As pessoas passaram a demonstrar uma enorme necessidade de serem notadas e buscam sempre a aprovação do outro”, disse. Segundo Calligaris, o Facebook expressa muito bem essa característica da sociedade atual. “Não devemos ser nostálgicos e imaginar uma sociedade diferente.”
O psicanalista comparou as redes sociais com a imagem da perfeição. “É o mundo da margarina”, diz. Para Calligaris, as pessoas no Facebook têm uma enorme necessidade de demonstrar que são felizes. “Assim se mostram também como vencedores. Basta ver as fotos. É difícil ver alguém que não está sorrindo”
De acordo com Calligaris, essa ideia de felicidade é muito recente na história. Uma pesquisa de 2011 diz que existe uma relação clara entre valorizar e conseguir. Se você valoriza a possibilidade de ser dono de sua moradia, este é o primeiro passo para conseguir. Mas existe uma exceção paradoxal.
“Quanto mais você valoriza a felicidade, mais infeliz você vai ser. Aparentemente a felicidade é o único caso em que a valorização não produz a facilitação”, explicou. “A ideia de manter a máscara da felicidade não veio com o Facebook, mas certamente as mídias sociais herdaram essa tradição.”
No entendimento do psicanalista, a procura instantânea pela felicidade não existe e não passa de uma ideia de marketing que começou no século 20. Ele acredita que as pessoas desejam ter uma vida interessante, com experiências intensas e mesmo desagradáveis. “A ideia de que a felicidade é programada, aos meus olhos, é uma ideia fajuta.”
“Se por um lado há um esforço para parecer sorridente, quando começamos a dialogar com alguém e achamos essa relação interessante, então paramos de tentar manter essa máscara de felicidade, pois temos a impressão de que alguma coisa poderá ser trocada com aquela pessoa”,diz.
“Os críticos dizem assim: vocês ficam em casa postando enquanto poderiam sair e encontrar pessoas reais. Mas isso realmente acontece sempre? Toda vez que você sai rola uma integração com as pessoas no bar? Isso não existe. Não nos apaixonamos ou conhecemos pessoas interessantes todo dia. É uma hipervalorização desta ideia”, critica.
Para o psicanalista, as relações já eram assim antes do computador e nada mudou após isso. “Se você tem dois bons amigos, então você é uma pessoa bastante sortuda”, afirma. Segundo Calligaris, nós somos quem nós conseguimos ser aos olhos dos outros e, enquanto trabalhamos em nossas páginas de perfil, significa que também trabalhamos nossa composição como pessoa.
“Não tem sentido viver na sociedade contemporânea sem pensar quem você é para os outros. O Facebook é um efeito disso. A competição às vezes custa um tempo e pode ser terapêutica”.

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
http://fernandapimentel.com.br

23 de maio de 2014

Eu, Hilda Hilst: 15 abortos, 150 cães, 15 mil seguidores no Facebook

Que grandes pensadores, escritores e cientistas se tornaram fenômenos pop a partir do Facebook, não é novidade para ninguém. Freud Sagaz, Clarice Lispector, (1.406.571 pessoas curtiram esse tópico!!!) Sagan Irônico, Caio Fernando Abreu, Virginia Woolf... Com Hilda Hilst Não seria diferente!
Veja a matéria em Obvios.

"Hilda Hilst: 15 abortos, 150 cães, 15 mil seguidores no Facebook

Filha de pai esquizofrênico, um dos maiores medos de Hilda Hilst era ficar louca. Se soubesse que, dez anos depois de morta, sua página no Facebook teria mais de 15 mil seguidores, e que sua obra, relançada, venderia mais de 1.500 exemplares em apenas duas semanas, por certo a poetisa pensaria que finalmente enlouqueceu.





Fernando Pessoa previu em um dos seus mapas astrais que ficaria famoso somente após 50 anos de sua morte. Em língua portuguesa ele teve apenas um livro publicado em vida: “Mensagem”, de 1934. Pessoa morreria no ano seguinte e só em 1985, por ocasião dos festejos pelo cinquentenário de sua morte, o poeta alcançaria a glória merecida (graças também à edição de seus poemas em inglês e à publicação do “Livro do desassossego”, diga-se de passagem, um texto em prosa).
Hilda Hilst, embora tenha feito experimentos extra-sensoriais exóticos - como tentativa de contato com o além via ondas de rádio - não previu nada, mas aconteceu. Após 10 anos de sua morte, a escritora brasileira é celebrada (e consumida) como nunca fora em vida - o que não quer dizer que não tenha alcançado reconhecimento enquanto ainda era viva.
Se estivesse entre nós, certamente Hilda se surpreenderia com os números que atualmente são associados ao seu nome: 15 mil seguidores numa página no Facebook, 1.500 livros vendidos através da loja virtual Obscena Lucidez (de Daniel Fuentes, herdeiro de sua obra) em menos de duas semanas e 23 livros relançados pela Globo Livros neste ano.
Há quem diga que sua poesia é mediana, porém, ninguém contesta o seu magnetismo pessoal, ousadia e audácia."

Veja o post completo aqui:  http://lounge.obviousmag.org/monica_montone/2014/05/superlativa-hilda-hilst-15-abortos-150-caes-15-mil-seguidores-no-facebook.html


E também: http://kultme.com.br/kt/2014/02/10/hilda-hilst-e-o-espaco-de-pensar-o-humano/



Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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11 de abril de 2014

Remédios contra o amor

"Tão bom morrer de amor! e continuar vivendo..." A célebre frase de Mario Quintana que sempre inspirou os mais românticos não faz mais sentido na era da supermedicalização onde qualquer sofrimento merece ser tratado. 

Reduzindo o amor à reações hormonais, equipe de cientistas defende o tratamento farmacológico para curar esse sentimento e evitar sofrimento e desilusões.  Mas o que será que vai acontecer se tomarmos um comprimido a cada vez que as nossas relações não estiverem dando certo?   


O amor pode ter cura

Cientistas propõem o uso de remédios e de outras intervenções para acabar com o sentimento quando ele traz mais sofrimento do que alegria


É difícil encontrar alguém que nunca sofreu por amor. E que no auge de sua dor não tenha imaginado como seria ótimo se existisse uma pílula, algo que pudesse ser comprado logo ali, na farmácia, para acabar com o sofrimento. Na opinião de um respeitado time de cientistas, esses remédios existem. Alguns já estão disponíveis, outros em estudo. Juntos, eles formam um arsenal capaz de curar amor – e devem começar a ser usados sempre que necessário. A proposta está sendo feita por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, uma das mais renomadas do mundo. Por seu teor polêmico, a proposição iniciou um grande debate entre os cientistas sobre a oportunidade de se recorrer a recursos para encerrar um amor – seria mesmo adequado tratar o sentimento como se lida com uma gripe, uma gastrite? – e as consequências éticas que podem advir do uso do que os estudiosos ingleses estão chamando de biotecnologia antiamor.


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No olhar do grupo de Oxford, porém, trata-se de lidar com o tema sob uma perspectiva diferente da convencional. Existe o amor de Platão, de Shakespeare. Fala-se aqui do ideal, do sentimento arrebatador, que nasce sem muita explicação e gera histórias inesquecíveis. E existe o amor entendido pela ciência. Nesse caso, não há espaço para romantismo. A emoção seria produto de respostas fisiológicas desencadeadas no cérebro a partir de um estímulo. Sua geração faria parte do arcabouço de emoções que a espécie humana desenvolveu ao longo de sua evolução com o objetivo de garantir sua sobrevivência. O medo, por exemplo, nos ajudou a ter reações de fuga diante de predadores. O amor, por sua vez, foi o sentimento que garantiu a continuidade da reprodução da espécie. E hoje, defendem os cientistas, é possível interferir nas etapas desse processo com a finalidade de interrompê-lo. “A neurociência está nos apresentando um entendimento novo do amor”, disse à ISTOÉ o pesquisador Brian Earp, de Oxford, coordenador do grupo que estuda os tratamentos para o sentimento. “Portanto, se pensarmos que ele é algo que emerge da química cerebral, começa a fazer sentido falar em cura.”

Veja a matéria na íntegra aqui 

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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6 de fevereiro de 2014

Entrevista com o poeta Ferreira Gullar sobre sua experiência com dois filhos esquizofrênicos

Ferreira Gullar é um dos maiores críticos da redução de leitos de internações psiquiátricas que veio acontecendo desde 2001. Com dois filhos esquizofrênicos, ele não defende o encarceramento dos pacientes, como já aconteceu em outras épocas, mas critica e chama atenção para famílias de poucos recursos que não tem para onde de direcionar seus filhos, que acabam - como ele mesmo fala - como mendigos loucos perambulando pela rua. Ele conta mais de seu posicionamento em entrevista a Época


Ninguém aguenta Uma pessoa delirante dentro de casa

O poeta Ferreira Gullar, 78 anos, teve dois filhos com esquizofrenia. Paulo, 50 anos, vive num sítio em Pernambuco há cinco. Marcos, que tinha um quadro mais leve da doença, morreu em 1992, de cirrose hepática. Recentemente, Gullar escreveu três artigos no jornal Folha de S. Paulo sobre a falta de vagas para internação psiquiátrica. A reação dos leitores chamou atenção para uma das maiores controvérsias da psiquiatria: o que fazer com doentes mentais em estado grave? Gullar concedeu a seguinte entrevista a ÉPOCA em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro (confira ao final desta página um vídeo com trechos da conversa).

ÉPOCA - A lei federal 10.216, aprovada em 2001, não proíbe a internação de pacientes em hospitais psiquiátricos, mas estimulou a redução de leitos. Por que decidiu falar sobre essa lei agora?
Ferreira Gullar -
 Antes da aprovação da lei, soube do que consistia o primeiro projeto. Para internar uma pessoa, a família precisaria pedir autorização de um juiz. Felizmente isso foi retirado do texto final. Imagine o que é ter em casa um garoto em estado delirante - às vezes falando sem parar da noite até o dia seguinte. Os pais tentam dar remédio, tentam conversar e nada funciona. Nessa situação, o único recurso é internar. Você sente que a pessoa está saindo do controle e pode fazer uma loucura qualquer. Imagine ter de aguardar autorização de um juiz para internar um paciente numa situação de emergência. Que juiz? Aquele que nunca encontramos na justiça eficiente que temos? Imagine o desastre que isso seria.

ÉPOCA - Mas por que decidiu escrever neste momento? 
Gullar -
 Li notícias recentes sobre o aumento de doentes mentais na população de rua. Eu já previa que isso ia acontecer diante da restrição do número de hospitais e do período de internação. Como é possível estabelecer um período de internação, determinar que um paciente psiquiátrico esteja curado dentro de determinado tempo? Quem não tem dinheiro para colocar o filho numa clínica particular fica com ele em casa até quando suportar. Muitas vezes o doente foge. Quantas vezes isso aconteceu comigo... Ele foge, vai para rua sem rumo. Ninguém sabe para onde vai.

ÉPOCA - O doente precisa ficar vigiado dentro de casa?
Gullar -
 Ninguém aguenta uma pessoa em estado de delírio dentro de casa. Só se ninguém trabalhar, todo mundo ficar em volta do doente. E se for uma pessoa agressiva? Tem que internar. Nenhum pai e nenhuma mãe internam seus filhos contentes da vida, achando que se livraram. Não estou dizendo que a lei foi feita para perseguir as pessoas. Não vou imaginar uma coisa dessas. Ela foi feita com boa intenção. Mas de boa intenção o inferno está cheio.


Confira a matéria toda aqui

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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20 de janeiro de 2014

3 minutos com Bauman: as relações sociais na contemporaneidade e as amizades do facebook

Zygmunt Bauman, filósofo polonês, faz uma reflexão sobre os laços humanos nos dias de hoje e chama atenção para a facilidade de nos desconectarmos de nossas "amizades online".

3 minutos com Bauman

Sociólogo polonês preocupado em compreender a sociedade pós-moderna, Zygmunt Bauman, 87 anos, autor de vários livros em que explica as relações sociais na contemporaneidade, comenta em 3 minutos, em uma de suas conferências que foi concedida para o Fronteiras do Pensamento, porquê nossas relações de amizade no facebook são tão atrativas, fáceis e superficiais.


Leia o trecho:
"Um viciado em facebook me confessou - não confessou, mas de fato gabou-se - que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi: eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso! Então, provavelmente, quando ele diz 'amigo', e eu digo 'amigo', não queremos dizer a mesma coisa, são coisas diferentes. Quando eu era jovem, eu não tinha o conceito de redes, eu tinha o conceito de laços humanos, comunidades... esse tipo de coisa, mas não de redes.
Qual a diferença entre comunidade e rede?
A comunidade precede você. Você nasce em uma comunidade. De outro lado temos a rede, o que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: conectar e desconectar.
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Eu penso que a atratividade desse novo tipo de amizade, o tipo de amizade de facebook, como eu a chamo, está exatamente aí: que é tão fácil de desconectar. É fácil conectar e fazer amigos, mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar.
Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões reais, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Assim, romper relações é sempre um evento muito traumático, você tem que encontrar desculpas, tem que se explicar, tem que mentir com frequência, e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não têm direitos, que você é sujo etc., é difícil.
Na internet é tão fácil, você só pressiona "delete" e pronto, em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina os laços humanos."

Fonte: Obvious



Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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