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30 de novembro de 2011

"... nenhum mortal pode guardar segredo ..."

Relendo o caso Dora, de Freud:

"Quando me propus a tarefa de trazer à luz o que os seres humanos mantém oculto dentro de sí, não pela força compulsiva da hipnose, mas observando o que dizem e oo que mostram, julguei que a tarefa era mais árdua do que é na realidade. O que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir pode convencer-se de que nenhum mortal pode guardar um segredo. Se os seus lábios permanecem silenciosos, ele conversa com as pontas dos dedos; a revelação transpira dele por todos os poros. E assim a tarefa de tornar consciente os processos mais ocultos da mente é desse modo inteiramente possível de realizar."

(Freud, 1905[1901])

Jornada da EBP no Maranhão


3 de novembro de 2011

Debate: Psicanálise e criminologia na EBP - Rio


Lacan e o crime 
Responsabilidade, liberdade e gozo

Debate com Serge Cottet (membro da École de la Cause Freudienne e da Associação Mundial de Psicanálise) a partir do texto de Lacan: "Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia".
Coordenação: Romildo do Rêgo Barros

Data: Sexta-feira, 4 de novembro às 16hs.
Local: sede da EBP-Rio, Rua Capistrano de Abreu, 14 (Humaitá).
Informações: 2286-7993 ou  icprio@icprio.com.br

Organização: núcleo de Psicanálise e Direito do ICP-RJ

Vagas Limitadas!

Serge Cottet extrai questões preciosas do texto de Lacan ao se debruçar sobre os conceitos de responsabilidade, liberdade e gozo. Nosso convidado traz para o debate a propriedade do envolvimento da psicanálise com impasses sociais em torno de crimes e seus agentes, marcando os limites e as aberturas, clínicos e teóricos, que nos proporciona Lacan ao longo de seu ensino.

Após esta atividade haverá o lançamento do livro de Cottet: "Estudos Clínicos Freudianos" pela Contra Capa. 

Referências:
Lacan, J.  “Introdução teórica às funções da psicanálise em criminologia”, Outros Escritos, Rio de Janeiro, JZE, 2003.
Cottet, S. “Criminologia Lacaniana”, Entrevários: Revista de psicanálise, São Paulo, Centro Lacaniano de Investigação da Ansiedade, p. 85-104, n. 5, abr. 2010.
“Lacan e o crime” Curinga, Belo Horizonte, EBP-MG, n.29, p. 29-42, dez. 2009.

1 de novembro de 2011

"Por que a homossexualidade incomoda tanto?"

Em entrevista à Revista Trip, Contardo Calligaris fala de homossexualidade, intolerância, preconceito e homofobia
Fonte: à Revista Trip de outubro de 2011.

"Por que a homossexualidade incomoda tanto?"

"Contardo Calligaris é um homem acostumado a temas espinhosos. O psicanalista italiano de 63 anos, nascido em Milão e radicado em São Paulo, assina colunas toda quinta-feira na Folha de S.Paulo, e a trinca sexo, amor e relacionamentos é uma de suas constantes. Nesta edição de Trip dedicada à diversidade sexual, convidamos o terapeuta para refletir sobre por que, afinal, a homossexualidade provoca tanto incômodo. “Ninguém se incomoda com algo a não ser que isso seja objeto de um conflito interno. O homofóbico tem dificuldade em conter traços de homossexualidade que estão dentro dele”, responde Contardo. Segundo o psicanalista, as piadinhas sobre gays, tão comuns nas rodas de homens, celebram um laço que, no fundo, é homossexual. “Ninguém conta uma piada de veado para uma mulher, porque para ela é uma coisa totalmente ridícula. Ela vai virar e dizer: ‘Hein?’.”
Na entrevista a seguir, Contardo aponta para o enorme preconceito contra gays e lésbicas que ainda persiste no Brasil, fala sobre o papel das novelas na formação da opinião pública e defende a aprovação da lei que criminaliza a homofobia. “Essa garantia legal é crucial”, afirma. O psicanalista sai em defesa do “politicamente correto”, que, aqui, não funciona como nos EUA. “Lá, alguém como o [deputado federal Jair] Bolsonaro já estaria na cadeia há muito tempo”, acredita. Seu desejo, diz, é que a sociedade avance para um estágio em que se possa viver livremente de forma “junta e misturada”, ou seja, em uma realidade na qual ser heterossexual ou homossexual não seja tão importante para definir as nossas identidades.
 


Por que a homossexualidade incomoda tanto?
Vários psicanalistas e psicólogos já formularam sobre isso. Existe quase uma regra que quase nunca se desmente na prática. Quando as minhas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar outro homem na boca? De forma simples, o que acontece é: “Estou com dificuldades de conter a minha própria homossexualidade, então acho mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente porque isso me ajuda a conter a minha”. O problema de toda neurose é que a gente reprime muito mais do que precisa. A neurose multiplica a repressão. Se eu tenho uma vaga impressão de que eu poderia ter uma atração por um colega de classe, então acabo construindo uma série de comportamentos que me convençam de que não só não tenho atração nenhuma como eventualmente posso chamar esse colega de veado, criar um grupo de pessoas que compartilham daquela opinião e esperar ele sair da escola para enchê-lo de porrada.


O homofóbico necessariamente é um gay enrustido?
Eu não diria que é um gay enrustido. A homofobia responde a uma necessidade de reprimir uma parte da sexualidade, mas não significa necessariamente que essa pessoa seja homossexual. É alguém que está reagindo neuroticamente a traços de homossexualidade que estão em cada um. Isso já é suficiente para criar a homofobia.


A sociedade brasileira ainda é muito preconceituosa? O politicamente correto mascara isso?
O politicamente correto no Brasil é muito precário se comparado ao dos Estados Unidos. Aqui as pessoas se autorizam a dizer coisas que lá seriam impensáveis. O Bolsonaro já estaria na cadeia há muito tempo. Não tenho nada contra o politicamente correto, mesmo os seus excessos, porque não estou convencido de que as falas sejam inocentes. As piadas de discriminação deveriam ser proibidas. Deveria ser possível agir legalmente contra isso. Mas, sim, acho que a sociedade brasileira ainda é fortemente preconceituosa. O engraçado é que as formas mais triviais de preconceito se expressam em grupos que acabam sendo homossexuais. O clássico é a piada de veado, que faz todo mundo rir e ocorre numa roda de homens na padaria. Esses homens celebram rindo um laço entre eles que, no fundo, é homossexual. Os quatro skinheads que saem à noite para dar porrada na praça da República substituem o que seria uma homossexualidade neles batendo em quem eles supõem ser homossexual.


Você é a favor da lei que criminaliza a homofobia?
Sou totalmente a favor. Incitar o ódio e a exclusão não dá. A liberdade de expressão não justifica ir contra direitos fundamentais.


Como funciona o preconceito das pessoas que dizem não ter preconceito? Como reagem pais que se consideram esclarecidos quando descobrem que o filho é gay?
No caso dos pais, tem uma parte da reação que não é necessariamente homofóbica. Há um sentimento de perda e preocupação. Eles presumem que não terão netos, isso é uma perda. Eles têm uma apreciação realista da sociedade. Pensam: “Se o meu filho for gay, a vida dele será mais dura. Não poderá viver em qualquer lugar, vai ter que morar em grandes metrópoles. Quando for alugar um apartamento, talvez encontre um dono que não vai gostar de saber que ele vive com outro homem. Uma noite pode estar na praça da República e ser agredido. Quando for fazer a queixa na delegacia, pode ouvir que, se não fosse veado, isso não teria acontecido. Vai trabalhar numa multinacional e todo mundo vai ter a foto da mulher ou do marido em cima da mesa. Ter a foto de alguém do mesmo sexo provavelmente não vai contribuir para o progresso da carreira dele. Enfim, haverá uma série de limitações”. Pode ser que para nossos filhos e netos isso evolua, mas a realidade hoje é essa.

Esses pais se culpam? Perguntam: “Onde foi que eu errei?”

Hoje muito menos, o que prova que a homossexualidade está sendo menos considerada como patologia do que no passado. A homossexualidade é produzida por uma série de coisas complexas, algumas, aliás, não têm nada a ver com o tipo de criação que a pessoa recebeu. Responsabilizar os pais é algo grotesco. Agora, nos anos 70, sim. Eu atendi pais que se recusavam completamente a aceitar que os filhos eram gays. E tive pacientes homossexuais que tinham perdido o contato com os pais a partir do momento em que saíram do armário.

Como você vê a representação dos gays nas novelas?

A existência de gays como personagens positivos ou simplesmente aceitos tem um efeito importante. A novela das nove é a grande formadora de opinião no Brasil. Às vezes tem até uma capacidade de antecipar e transformar a visão sobre as coisas. Nem sempre o que aparece nas novelas é porque os brasileiros mudaram. Às vezes os brasileiros mudam porque apareceu na novela. É pequena a antecipação, mas ela existe. A novela pode se propor a escandalizar um pouco, permitir que as pessoas pensem um pouco além do que elas pensavam antes.


Homossexualidade é genética ou construída? Ou nem cabe mais essa questão?
É um debate aberto. O que todo mundo sabe hoje é que a genética não é o destino de ninguém. Mesmo que existisse um gene da homossexualidade, que, se existe, ainda não foi encontrado, ele precisaria ser posto em ação. Os nosso genes se realizam ou não a partir de uma série de questões relacionadas ao ambiente – geofísico e humano. Imaginar que exista uma separação rigorosa entre o genético e o construído é ingênuo. As coisas se misturam. O grande argumento a favor da tese de que é genético é que existem pesquisas com gêmeos que mostram que, em univitelinos, se um é homossexual a maioria dos irmãos também é. Algo em torno de 60%. Agora, isso é um argumento a favor da tese? Na verdade, é um argumento contra porque, se são univitelinos, deveria ser 100%, já que o patrimônio genético dos dois é rigorosamente igual. O caso é interessante porque mostra que a coisa é mais complexa.

“O gênero não é o mais importante para definir a sexualidade de alguém. A fantasia define muito mais”

Crianças criadas por casais homossexuais sofrem de dificuldades específicas? Seu desenvolvimento é diferente do de crianças de casais heterossexuais?
Isso já está totalmente estabelecido. Há um campo de pesquisas importante nos EUA e em alguns países da Europa, onde já há um bom tempo os casais homossexuais foram autorizados a adotar crianças. Está absolutamente claro que as estatísticas, tanto do futuro da vida sexual dessas crianças como da patologia eventual delas, são absolutamente idênticas às das crianças criadas por casais héteros. Acho que isso não deveria nem mais ser tema de conversa. Porque os resultados estão lá, são conhecidos.


O preconceito é maior em relação a casais de homens que desejam adotar filhos?
É possível. Até porque um dos grandes mitos da homofobia é que as pessoas, sobretudo as mais ignorantes, confundem homossexualidade com pedofilia. Então elas perguntam: “Mas como um casal de homossexuais masculinos vai adotar crianças? Eles vão estuprá-las”. E a pedofilia pode ser totalmente heterossexual.


Você já sentiu atração por homens? Teve vontade de beijar e transar com um homem?
Não, atração nesse sentido não… Mas cresci nos anos 60, uma época de amor livre. Tudo aquilo era bastante aberto e misturado.


Deu para experimentar bastante coisa?
Sim.


Você já questionou a sua orientação sexual?
Questionar a orientação sexual já é em si um problema porque, no fundo, eu não acredito muito nessa distinção entre homossexual e heterossexual como um divisor de águas. Do ponto de vista da personalidade de alguém, é um fato muito marginal. Muito mais do que se ela transa com pessoas do mesmo sexo ou não, o que define uma pessoa é a fantasia sexual com a qual ela funciona. Um homossexual cuja sexualidade é alimentada numa fantasia sadomasoquista tem muito mais a ver com um heterossexual com fantasia parecida do que com outro homossexual que, ao contrário, gosta de transar ternamente, dando beijinhos. O gênero não é o mais importante para definir a sexualidade de alguém. A fantasia define muito mais.


Há quem diga que no futuro as pessoas vão se relacionar independentemente do gênero. Seria tudo meio “junto e misturado”. Você concorda com isso?
Eu preferiria que fosse assim. A homossexualidade se tornou uma identidade necessária para tempos de luta. Nos últimos 30 ou 40 anos e certamente nas próximas décadas ainda terá que se afirmar para que haja uma paridade de direitos real e concreta. Mas, uma vez retirada essa necessidade de luta, não sei se a escolha de gênero do objeto sexual será o mais importante para definir a identidade de alguém… Sou homossexual ou sou heterossexual. Sim, e daí? Good for you. Não sei se verei esse novo mundo, mas espero que isto aconteça: que essa identidade se torne insignificante, pois não será tão necessária."


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
http://fernandapimentel.com.br

27 de outubro de 2011

Antidepressivos trazem mais prejuízos do que benefícios, dizem médicos

Artigo da Gazeta do Povo comenta estudo que mostra que só 25% dos benefícios do tratamento se deve às drogas; 50% se deve ao efeito placebo. Entre os efeitos colaterais está a disfunção sexual




"Recentemente, a médica Marcia Angell publicou um artigo no "The New York Review of Books" sobre a crise da psiquiatria e a ineficácia dos antidepressivos que fez muitos pacientes pararem imediatamente de tomar medicamentos deste tipo. O artigo pôs em dúvida a eficácia dos antidepressivos nos tratamentos convencionais. Segundo a médica, o índice de resposta dos pacientes a antidepressivos é pouquíssimo superior ao de placebos. E, além de poucos benefícios terapêuticos, há graves efeitos colaterais. Cerca de 70% das pessoas que tomam antidepressivos, por exemplo, têm disfunção sexual. E, em alguns casos, mesmo quando param de tomar as pílulas, a disfunção continua.


A teoria do desequilíbrio químico como uma causa da depressão é uma hipótese que não está comprovada, mas os médicos prescrevem medicamentos, principalmente por causa do "rolo compressor da promoção farmacêutica". É o que diz o psiquiatra Daniel Carlat. E não é surpreendente que haja um furor de mídia nos EUA em torno dos medicamentos. Cerca de 10% dos americanos com mais de seis anos de idade tomam antidepressivos. No Reino Unido, as prescrições para as drogas subiram 43% nos últimos quatro anos e chegaram a 23 milhões de receitas por ano.


O professor Irving Kirsch, diretor associado do programa de estudos de placebos da Harvard Medical School e autor de um livro intitulado "As novas drogas do imperador: explodindo o mito antidepressivo", explica a teoria do desequilíbrio químico. Segundo esta teoria, não há serotonina, norepinefrina ou dopamina em níveis suficientes nas sinapses do cérebro de pessoas deprimidas. Mas isto não se ajusta aos dados de pesquisas clínicas, uma vez que reduzir os níveis de serotonina em pacientes saudáveis não tem impacto sobre o humor que eles apresentam. Por isto, há quem acredite que a teria está equivocada.


"Esta teoria do desequilíbrio químico é um mito", diz ele. A idéia de que os antidepressivos podem curar a depressão de forma química é simplesmente errada.
A meta-análise de 38 estudos clínicos - sendo que 40% dos quais tinham sido retirados da linha de de publicação porque as empresas farmacêuticas não gostaram dos resultados - que envolveram mais de 3.000 pacientes com depressão mostra que apenas 25% dos benefícios do tratamento antidepressivo foi devido às drogas e que 50% foi simplesmente efeito placebo.


"Em outras palavras, o efeito placebo foi duas vezes maior que o efeito de drogas, embora a resposta ao placebo tenha sido menor nos pacientes severamente deprimidos. Placebos são extraordinariamente poderosos e podem ser 'tão fortes quanto medicamentos potentes'. A resposta ao placebo é específica: a morfina placebo alivia a dor, antidepressivos placebo aliviam a depressão", diz Irving Kirsch. "É uma questão de expectativa e condicionamento: se você espera se sentir melhor, você se sente melhor, mesmo se tiver efeitos colaterais negativos, pois os efeitos colaterais convencem as pessoas de que elas tomaram uma droga poderosa".


Segundo o médico, a psicoterapia aumenta o efeito placebo e é significativamente mais eficaz que a medicação para todos os níveis de depressão. "Antidepressivos só devem ser utilizados como último recurso e apenas para os mais severamente deprimidos", avalia Kirsch.


Nem todos concordam. Ian Anderson, professor de psiquiatria da Universidade de Manchester, acredita que os antidepressivos são úteis no tratamento de depressão e vai debater com Kirsch em uma conferência na Turquia no próximo mês. Ele diz que corremos o risco de "jogar fora o bebé junto com a água do banho".


"Isto ocorre quando dizemos que os antidepressivos são lixo. Os antidepressivos são parte da caixa de ferramentas de um médico, embora, provavelmente, sejam mais úteis para os pacientes mais deprimidos. Há pessoas que não respondem a terapias da fala. E neste caso não há escolha", comenta Anderson.


O professor Allan Young, presidente de psiquiatria da Imperial College London, concorda. "A depressão é uma doença de classificação ampla. Há vários tipos de depressão, e cada tipo responde de forma diferente", diz Young. "É claro que cérebro e corpo são indissociáveis e os efeitos placebo são maiores nos pacientes que sofrem da doença com menos severidade.


Mas Kirsch levanta outro ponto: "Para tornar as coisas mais complicadas, há o 'efeito nocebo': se você espera se sentir mal quando você sair antidepressivos, você vai sentir-se mal, porque nós tendemos a notar pequenas mudanças aleatórias negativas e interpretá-las como prova de que estamos, na verdade, piorando".


Ele cita o exemplo de uma paciente chamada Lucy, que tinha tendências suicidas. Ela tomou antidepressivos por fora por 10 anos. Ela costumava dizer o seguinte: "A droga deu-me de volta a mim mesma, era como um raio de luz que brilha através da névoa". Mas os efeitos colaterais eram náuseas e a perda da libido, e isto a levou a abandonar o medicamento. Ela também descreveu o que sentia sem o medicamento: "Era como um relógio. Sentia uma contração muscular na parte de trás da minha mente. E vivia com medo da depressão voltar. A única coisa que me manteve viva foi saber que as pílulas estavam lá e que a qualquer momento poderia recorrer a elas".


Para Judy, um outro antidepressivo funcionou bem. "O primeiro que me foi dado produziu em mim enorme ansiedade, como uma viagem ruim, e fez-me terrivelmente ciente de todas as minhas terminações nervosas. Mas a segundo fez efeito desde o primeiro dia. Quando tomava de manhã, eu sabia que ficaria com a química equilibrada. Era como um interruptor sendo ligado: sentia uma corrida fabulosa na direção da alegria".


Ela parou de tomar o medicamento depois de seis meses. E meses depois, ela se sentia fraca, mas não deprimida. "Eu me sinto a depressão como uma pedra no meu plexo solar. E não era mais assim Então, eu ainda pensei que seria agradável ter aquele atalho para a felicidade. E tomei o segundo antidepressivo. Não teve efeito algum porque eu não estava realmente deprimida. E, para mim, a teoria do placebo não faz sentido".


Daniel Carlat, psiquiatra em Boston e autor de "Unhinged: The Trouble with Psychiatry (Revelações de um doutor sobre uma Profissão em Crise) - diz que a prescrição de antidepressivo é um caso de "hit-and-miss". "Infelizmente, sabemos um bocado menos sobre o que estamos fazendo do que você imagina. Quando eu me vejo usando expressões como 'desequilíbrio químico' e 'deficiência de serotonina', geralmente é porque estou tentando convencer um paciente relutante em tomar medicação. Usar essas palavras faz com que a doença parece mais biológica. A maioria dos leigos não percebe como interessa pouco saber sobre a base de doença mental".
Carlat não está tão convicto quanto Kirsch sobre o efeito placebo. Os pacientes que aparecem em seu gabinete são diferentes daqueles recrutados para ensaios clínicos porque as empresas farmacêuticas, desesperadas para fazer os seus produtos superarem um placebo, são muito seletivas sobre quem escolherem.

"Você tem que ter depressão "pura", imaculada por uso de álcool, problemas de ansiedade, transtorno bipolar, pensamentos suicidas, depressão leve ou a longo prazo e isto exclui a maioria dos pacientes)", diz Carlat.

No entanto, como diz Marcia Angell, autora de "A verdade sobre as companhias farmacêuticas: como elas nos enganam e o que fazer sobre isso", é verdade que a indústria faz muita propaganda enganosa, mas os medicamentos antidepressivos ainda são uma alternativa quando nada mais funciona.

Uma coisa é clara: o cérebro permanece misterioso. Como Carlat diz: "Sem dúvida, existem causas neurobiológicas e genéticas para todos os transtornos mentais, mas eles ainda estão além da nossa compreensão. Tudo o que realmente sabemos é que a depressão existe e, por vezes, as drogas parecem funcionar, mesmo que seja efeito placebo".

Para antidepressivos, os médicos têm uma diretriz básica, que todos concordam: nunca pare de tomar antidepressivos sem o discutir com seu médico, porque a interrupção abrupta de medicamentos pode causar sintomas de abstinência, tanto física como mental."



26 de outubro de 2011

Grupo de Estudo: Anorexias e Bulimias


Dica de leitura.

Dica de leitura: O parceiro amoroso da mulher atual, de Lêda Guimarães, publicado em Opção Lacaniana online, Ano 2 , Número 5 , Julho 2011

“Um homem quando ama é uma mulher”, assim proferiu
Pierre Naveau durante a jornada do ano 2000 da EBP-MG,
apoiado na formulação de Lacan “amar é dar o que não se
tem”, o que determina que a posição do amante contenha em
si a condição de castrado. Por essa razão, a sustentação de
uma posição masculina implica numa desvalorização da
vertente do amor e na prevalência da vertente erótica na
constituição das parcerias, como um mecanismo defensivo
fundamental para sustentar a identificação viril enquanto
dotado de falo. Mas isso não quer dizer que os homens não
saibam amar, como costumam se queixar as mulheres, pois
ainda que mantenham como linha de frente o traço perverso
da sua fantasia sexual, acabam escolhendo uma mulher,
dentre as demais, como seu objeto de amor privilegiado.
Seria também engano supor que as mulheres são mais
especialmente dotadas da capacidade de amar. Sua incessante
demanda de amor contém toda uma carga sexual que resulta na
erotomania própria ao estado de apaixonamento, no qual o
gozo feminino é experimentado sob o modo de um
arrebatamento, que mantém em primeiro plano uma
justificação em nome do amor: “me ame, mais, mais e mais
ainda”.
Para traçar algumas formulações acerca do parceiro
amoroso da mulher atual, vejamos inicialmente o que Lacan
nos diz, no livro 18 do seu Seminário, acerca do modo como
um homem poderá ser definido:
O importante é o seguinte, a identidade de
gênero é o que acabei de expressar com estes
termos ‘homem’ e ‘mulher’. É claro que a
questão do que surge precocemente só se coloca
a partir de que, na idade adulta, é próprio do
destino dos seres falantes que se distribuam
entre homens e mulheres. Para compreender a
ênfase que se coloca nessas coisas, neste caso,
é necessário nos darmos conta de que o que
define o homem é sua relação com a mulher e
vice-versa.
Tomando essa implicação direta entre homens e mulheres
em sua parceria sintomática, pretendo desenvolver algumas
formulações acerca das mulheres contemporâneas, levantando
a hipótese de que o declínio do viril não poderia ter sido
engendrado na história da civilização sem a contribuição,
ou até mesmo a imposição da sua parceira-sintoma.
Ocorreu na civilização, em um dado momento propício,
um fato radicalmente novo nas parcerias entre homens e
mulheres. A partir do século XII, o sonho do amor eterno
que faz pulsar o coração da feminilidade, alcançou um
estatuto simbólico na configuração da realidade de nossa
sociedade. Através do surgimento do amor cortês o estatuto
simbólico desse sonho emergiu nas palavras de amor do
cavalheiro gentil, dirigidas à sua dama inacessível. Com a
passagem dos ditos do amor cortês para o campo da escrita,
através das cartas de amor e das ficções literárias dos
romances impossíveis, o sonho feminino do amor eterno
ganhou um estatuto simbólico de verdade.
A aposta na crença do sonho de amor produziu nos
últimos séculos a liberdade social para constituir os laços
de casamento. O feminismo aqui se estabeleceu como o motor
fundamental dessas transformações, se instituindo
inicialmente como a luta das mulheres para alcançar uma
independência econômica que lhes permitisse a liberdade de
escolha da sua parceria amorosa. Desse modo, apoiadas na
crença das palavras do amor cortês, as mulheres
empreenderam uma luta contra as tradições da família
patriarcal, que determinava as regras dos laços de
casamento. A gênese do feminismo tomou, assim, como ponto
de mira o desafio à autoridade paterna, àquele que era
concebido como o juiz que ordenava a linha do destino das
mulheres. Podemos supor, dessa maneira, que o grande motor
do feminismo foi impulsionado pela aposta nas promessas do
amor cortês, instituindo com suas ganas o declínio da imago
paterna na civilização.
Oh! Lindo e esplendoroso amor, em que o cavalheiro
servil se curvava extasiado diante de sua deusa: A Mulher
impossível!
Porém, com o advento do feminismo, no qual A Mulher
quis engendrar-se como possível, imediatamente esse lindo
amor começou a desaparecer, pois à medida que as mulheres
passaram a falar em resposta ao apelo apaixonado do seu
amante, a desgraça começou a se abater sobre a virilidade
dos homens, reduzindo suas promessas de amor eterno ao
ridículo de meras falácias, instituindo a derrocada do
viril..."

Veja o artico completo em http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_5/O_parceiro_amoroso_da_mulher_atual.pdf

25 de outubro de 2011

Grupo de Estudos: Anorexias e Bulimias - Sintomas contemporâneos



Depois de algum tempo adiando, darei início ao Grupo de Estudos Anorexias e Bulimias - Sintomas Contemporâneos com a proposta de pesquisar as anorexias e bulimias, quadros frequentemente encontrados em nossa prática clínica atualmente.
Os encontros serão semanais e terão início no dia 8 de novembro, terça feira, às 19 h.

Aguardo vocês!!!




Seminário sobre TRANSFERÊNCIA para quem está em Sampa...


Congresso da AMP: El orden Simbólico en el siglo XXI

Com a proposta de pensar a ordem simbólica no século XXI, o Congresso da AMP, que acontecerá de 23 a 27 de abril de 2012, é o evento imperdível do início do próximo ano.
Acompanhe as novidades no site: http://congresoamp.com/pt/template.php

E mais eventos!

 O segundo semestre vem com vários eventos de primeira qualidade para os interessados na psicanálise!
Segue abaixo a divulgação da XIII Jornadas de Formações Clínica do Campo Lacaniano, que acontecerá no Rio de Janeiro, do dia 25 ao 27 de novembro.




A CLÍNICA DO ATO
 

            “O ato psicanalítico é evidentemente, o que dá suporte e autoriza a realização da tarefa psicanalítica” (Lacan 29/11/1967). Definido como a intervenção do analista em uma análise, o ato analítico leva o sujeito a romper a repetição sintomática atingindo a estrutura que rege seu inconsciente. Diferentemente da ação, da motricidade, o ato é o que inscreve um saber e Lacan define o verdadeiro ato como uma transgressão (Lacan, 15/11/1967). Toda motricidade só tem valor de ato na medida em que promove uma mudança, como a ultrapassagem de um limiar para além da lei, um atravessamento da lei, mas é necessário “o ato analítico para iluminar o conceito de ato como tal” (idem). É também o analista com seu ato de corte que ilumina a face de “verdadeiro ato” contida no “ato sintomático” e revelada pelo “ato falho” da palavra.  Lacan situa o ato analítico como pivô do fazer do analista, e Freud nos ensina que no princípio era o ato, e o ato contém a palavra mágica que toca o real do sintoma.

       Há uma mudança no sujeito depois do ato, ele não é mais o mesmo de antes. A cada verdadeiro ato o sujeito morre e renasce de outra forma, o que faz Lacan afirmar que o verdadeiro ato, único bem sucedido é o suicídio. O ato poético é força sublimatória para criar a partir do registro da pura pulsão de morte, onde a abolição do sujeito se faz presente. O ato aponta para o âmago do ser, logo toca o gozo. O ato homicida, os assassinatos se dirigem ao gozo do Outro em uma manifestação de racismo, de impossibilidade de suportar a singularidade do gozar do outro, tanto quanto os atos genocidas. O ato político é a base da democracia e por fim como todo ato é sexual na medida em que é movido pela libido é  ele que aponta para o sujeito as raízes de seu gozo. O ato perverso tenta atingir a divisão do Outro e assim gozar com a possibilidade de driblar a castração. O ato sexual é a tentativa de fazer a relação sexual existir, e, de ato em ato, o sujeito escreve sua história.

        A ética da psicanálise concerne não ao pensamento ou às boas intenções, mas aos atos, e a clínica do ato revela a maneira neurótica sob a qual se apresenta a ética em um sujeito. De tal maneira que o sujeito vai da inibição, da postergação até uma precipitação em atuar, do ato de fazer ao de não fazer, da eterna avaliação dos fundamentos de seus atos com conseqüente paralisia à atuação no puro registro da pulsão, ou ainda situa-se na vacilação entre a inibição com a procrastinação do ato e a urgência, como demonstra, por exemplo, a clínica da neurose obsessiva.

       Na passagem ao ato, o sujeito se subtrai da cadeia significante e anula qualquer dialetização possível dos equívocos significantes, sua essência é a certeza. No acting-out o sujeito põe em jogo o real, trazendo para a cena algo que não pode ser dito, como no caso intitulado por Freud “a jovem homossexual”. Independente de qualquer interpretação e diferentemente do sintoma, o acting-out diz respeito a um resto que aponta a causa do sujeito.

      Se no âmago da análise está o ato analítico, cabe-nos perguntar como a psicanálise lida com o que justamente se faz presente fora da cadeia significante? São questões que Lacan nos propõe e que nos coloca a trabalhar o tema das nossas XIII jornadas de Formações Clínicas do Campo Lacaniano-Rio. Convidamos a todos para virem debater sobre os atos que implicam o sujeito entrelaçando o que nele é singular com o que o insere no socius.

Elisabeth da Rocha Miranda

Seminário no Corpo Freudiano: AMOR DE TRANSFERÊNCIA E PROCESSO DE SUBLIMAÇÃO


CORPO FREUDIANO ESCOLA DE PSICANÁLISE - SEÇÃO RIO CONVIDA PARA O SEMINÁRIO DE PSICANÁLISE:
POR UMA LEITURA POÉTICA DO AMOR DE TRANSFERÊNCIA E DO PROCESSO DE SUBLIMAÇÃO

Com o Psicanalista francês Jean-Michel Vivès, Professor de Psicopatologia Clínica e Psicanálise na Université de Nice-Sophia Antipolis, Membro da Association Insistance (Paris/Bruxelas) e autor de artigos publicados no Brasil.
O evento acontecerá no dia 1º de novembro de 2011, às 19:00h., no Auditório A do Hospital Phillipe Pinel, Rua Venceslau Brás, nº 65, Botafogo, Rio de Janeiro. (Haverá tradução consecutiva) 

 “O amor cortês, isto é, o amor no qual o objeto se ausenta como provedor de gozo, pode ser localizado como a interseção entre o amor e o desejo. A partir daí, faço a hipótese de que ele pode nos esclarecer sobre a condução do tratamento analítico e nos permitir compreender essa misteriosa passagem do amor, na qual se marca a insistência do gozo numa demanda, para o desejo que cava o lugar do sujeito e autoriza o aparecimento da sublimação”. J-M. Vivès

 Para se inscrever envie uma mensagem com o nome completo e o comprovante do pagamento da inscrição que é de R$ 35,00 para Profissionais e não associados e R$ 25,00 para Estudantes de Graduação e Associados do Corpo Freudiano para contato@corpofreudiano.com.br .
O depósito deverá ser efetuado na conta bancária da Escola: Banco Itaú, Agência 8163, conta 07578-4.

II Colóquio EBP-Rio: Sem pé nem cabeça: Como ler o sintoma no século XXI



 
SÁBADO, 5 DE NOVEMBRO DE 2011
CONVIDADO INTERNACIONAL: SERGE COTTET


Coordenadores: Paula Borsói e Marcus André Vieira.
Comissão Cientifica: Cláudia Henschel, Glória Maron e Maria Angela Maia.  
Comissão de Apoio: Ana Cláudia Jordão, Ana Luiza Rajo, Dinah Kleve, Juliana Prado e Rodrigo Nocchi.


Hotel Novo Mundo - Praia do Flamengo, 20 - Flamengo
Valor da inscrição: R$ 180,00
Alunos do ICP-RJ, estudantes de graduação, e profissionais da rede pública: R$ 100,00 (com comprovação).
Vagas limitadas

Informações e inscrições:
 EBP-RJ: Rua Capistrano de Abreu, 14 – Botafogo – Rio de Janeiro
(21) 2539-0960 ebprio@ebprio.com.br
(21) 2539-0960 ebprio@ebprio.com.br