.
.

23 de outubro de 2009

Notícia

Casos de anorexia entre idosas quase triplicam na Europa

Estudo espanhol diz que índice de mulheres anoréxicas com mais de 60 passou de 1,8% a 5% na última década.

Um estudo médico espanhol constatou que, em uma década, os casos de anorexia quase triplicaram entre a população europeia com mais de 65 anos. O estudo apresentado no 9º Congresso Nacional de Organizações de Idosos da Espanha diz que o índice de mulheres europeias com mais de 60 anos com anorexia passou de 1,8% a 5% nos últimos 10 anos.

O aumento é similar ao da população adolescente. Os casos detectados de jovens entre 13 e 18 anos com anorexia e bulimia subiram de 2,4% para 7% na década. "São transtornos próprios da civilização que vivemos e os idosos estão expostos às mesmas situações que outros grupos com bombardeios de publicidade e pressão social", disse à BBC Brasil a diretora da Unidade de Transtornos Alimentares do Hospital de Alicante, Taciana Valderde, uma das autoras do estudo.

'O mundo precisa de uma cultura de envelhecimento'

"Cada vez há mais pessoas idosas socialmente ativas. A expectativa de vida aumentou e há uma melhora significativa da qualidade de vida, mas também vemos uma grande dificuldade de aceitação de certas limitações e da deterioração da aparência, o que dá origem a estes graves desajustes emocionais."

Pressão e solidão

Os especialistas espanhóis indicam várias razões para o problema entre idosos, entre elas a pressão social por se manter eternamente jovem dentro dos padrões de beleza impostos pela moda, a solidão, o estresse e a tendência a sofrer doenças degenerativas.

Segundo o estudo distribuído a cinco mil especialistas no congresso que ocorre esta semana em Sevilha, 70% das mulheres europeias com mais de 65 anos se sentem descontentes com seu aspecto físico e estariam dispostas a fazer sacrifícios para melhorar. Para os médicos, as frustrações produzem depressões que podem acabar em perda de apetite ou compulsão alimentar. Quando vivem sozinhos, segundo os especialistas, a vulnerabilidade é maior. O falecimento do cônjuge, a distância dos filhos e o início dos processos degenerativos podem facilitar o surgimento de transtornos alimentares. "Quando você abre a sua geladeira e só encontra um pedacinho de queijo e dois ovos, aí está aparecendo o problema", disse à BBC Brasil a nutricionista Teresa Añón, diretora do Instituto de Medicina Avançada de Valencia e participante do congresso de Sevilha.

Homens


A nutricionista afirmou que tratar o transtorno alimentar dos mais velhos é mais difícil do que o dos jovens por causa das doenças associadas ao envelhecimento.
Segundo o estudo, o número de casos de transtornos alimentares entre as mulheres é maior do que nos homens, mas a diferença está diminuindo principalmente pelo aumento da incidência de casos entre homens gays. Considerando as previsões demográficas da ONU que indicam que a Espanha será o país mais velho do mundo em 2050, o presidente da Confederação Espanhola de Organizações de Idosos e do Congresso de Sevilha, José Luis Méler, disse à BBC Brasil que "o mundo precisa de uma cultura de envelhecimento".

Fonte: G1

22 de outubro de 2009

conferência

O Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ) está com inscrições abertas para a conferência Do singular ao coletivo, ministrada pelo psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, autor de obras como “Um mundo sem limite”, "A Perversão comum: viver juntos sem o outro", "Clínica da Instituição", entre outras.

O evento acontece no dia 7 de novembro, das 14h às 19h, no Ibam (Rua Visconde Silva, 157 – Humaitá) e vai abordar o que acontece com o sujeito individual e coletivo em meio à crise de legitimidade que envolve nossos dias. Para Lebrun, estamos em meio a uma verdadeira mutação em nossos laços sociais onde o outro, de fato, passa a não existir para cada um. Em sua obra, o psicanalista foca em caminhos que podemos buscar para escutar e refletir sobre o que nos cerca com o intuito de nos tornarmos mais capazes de compreender a nós mesmos e de agir sobre nosso entorno.


Inscrições:

CPRJ – tel.: (21) 2286-6922

www.cprj.com.br.



21 de outubro de 2009

Psicose Ordinária

A psicose ordinária à luz da teoria lacaniana do discurso

Introdução
O termo psicose ordinária foi inventado e introduzido em nosso campo por Jacques-Alain Miller, em 1998, por ocasião de um dos encontros anuais das Seções Clínicas francófonas que fazem parte do Instituto do Campo freudiano. Esse termo se inscreve em um programa de pesquisa iniciado dois anos antes.
O título do primeiro encontro era Efeitos de surpresa nas psicoses. O segundo, um ano mais tarde, os Casos raros, questionava as normas clássicas da clínica lacaniana da psicose tal como elas foram definidas no Seminário 33 e no texto dos Escritos, “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”. Foi no curso do terceiro tempo desse programa de pesquisa que Jacques-Alain Miller propôs o termo psicose ordinária e uma nova elaboração clínica e teórica a partir da constatação de que esses casos “raros” não eram assim tão raros, ao contrário, muito frequentes.
Nessa época tornou-se claro que convinha admitir que certo número de fatos clínicos escapava às categorias utilizadas. Primeiramente, em toda prática analítica em consultório particular ou em instituição era evidente o aumento do número de casos de psicose. Mesmo se aceitamos que fazer um diagnóstico implica sempre um efeito arbitrário, ligado à própria lógica de qualquer classificação, mesmo se o real dos fenômenos clínicos apareça pelo viés da instauração de critérios seletivos que, por acréscimo, o organiza, a psicose tende hoje, ao mesmo tempo, a se desenvolver por um lado e a se modificar por outro. O segundo ponto é que a proliferação desses casos impossíveis de classificar indica um para-além da perspectiva estritamente estruturalista.
Vou lembrar brevemente os três fundamentos sobre os quais repousa a teoria clássica freudiana e lacaniana da psicose. Primeiramente a supremacia, o privilégio, no primeiro Lacan, do registro simbólico sobre os registros imaginário e real.
Em segundo lugar, a organização de uma aproximação clínica em torno de um eixo central conhecido sob o termo Nome-do-Pai. Mesmo se Lacan considere o fenômeno psicótico como não deficitário, o conceito de foraclusão do Nomedo- Pai implica uma falta, a falta do significante paterno na ordem simbólica.
O terceiro ponto sobre o qual repousa a abordagem clássica lacaniana da psicose é a recusa de categorias intermediárias por razões epistemológicas e éticas ao mesmo tempo. Fazer um diagnóstico é sempre considerado por Lacan como um ato que implica uma decisão que exige ser argumentada logicamente e confirmada do ponto de vista clínico. Justamente, porque determinadas categorias, tais como borderline ou “personalidade narcísica”, se revelam por si mesmas inoperantes para nós em termos de tratamento; razão pela qual Lacan não desejava utiliza-las. Essa disciplina alcança seus frutos.
Dois movimentos impeliram à modificação dessa primeira orientação. O primeiro foi a vontade de não transformar o que era uma prática flexível em uma doxa rígida, transformando diagnóstico, fenômeno e estrutura na crença em um real que podia in fine tornar cego um material clínico bem diferente dos fenômenos esperados pelo ensino do último Lacan, que já havia antecipado uma mudança de época na clínica dos sintomas. A teoria do discurso nos permite compreender as
modificações do discurso do mestre, tal como Lacan o escreveu. No que concerne ao discurso do mestre, o nome no sentido determinante que ele tem na expressão Nome-do-Pai tem a ver com o S1, o significantemestre, e comanda a organização do próprio discurso, isto é, determina um modo de gozo dominante. Como o discurso do mestre se modifica no curso da história o que é uma forma de dizer que o laço social se modifica o mundo que nos fala e que nós falamos também se modifica. As grandes vias do simbólico mudam. Em consequência os sintomas que, de certa forma, completam o discurso, também se modificam; sintomas que revelam a potência do que chamamos gozo em relação a cada discurso. Essa teoria do discurso nos permite apreender o que surge na saúde mental e na psicopatologia quotidiana, o que é um fato novo. Por exemplo, é claro que aquilo que o mestre nomeia como clínica das adições se desenvolveu durante os quarenta últimos anos. Então, quando o discurso do mestre muda, acontece o mesmo com o simbólico que o completa. Jacques-Alain Miller trata dessas modificações desde o fim dos anos 80, abrindo um leque maior sobre a política lacaniana, sobre as causas e consequências deste enunciado: “O Outro não existe”. Ele manteve com Éric Laurent um seminário de um ano de duração sobre essa questão. O termo psicose ordinária é para ser tomado nesse contexto político, no sentido da
evolução das modalidades dominantes do laço social. Ele ressalta a clínica na medida em que está ligado ao discurso como modo de gozo e, ao mesmo tempo, à lógica da sexuação fundada sobre o “não há relação sexual”.
Vou justamente indicar aqui que no enunciado “não há relação sexual”, relação (rapport) não é sinônimo de relação (relation). Nessa formulação Lacan utiliza o termo rapport como a ciência o faz. Trata-se da relação (rapport) entre duas séries covariantes de fenômenos. Podemos dizer, por exemplo, que há uma relação (rapport) sexual entre o espermatozóide e o óvulo porque ela pode se escrever em termos químicos e biológicos. Podemos dizer que há relação (rapport) sexual entre o macho e a fêmea no campo da sexualidade animal. Porém, quando nos referimos aos seres falantes, parlêtres, a linguagem intervém como organizador do laço social abrindo ou
não a possibilidade do encontro sexual. Portanto, não há escritura científica da relação (rapport) sexual quando se trata dos seres falantes. Sua relação (rapport) é um encontro de fala. Lembremos a afirmação de Freud segundo a qual a criança é um perverso polimorfo, porque ela vai exatamente na mesmadireção. (...)

O artigo é de Marie-Hélène Brousse e pode ser encontrado na íntegra na Latusa digital – ano 6 – N° 38 – setembro de 2009

20 de outubro de 2009

Só gays gostam de modelos magérrimas ????

Li no Blog Mulher 7x7:


A polêmica global sobre a silhueta anoréxica das manequins e modelos - além das atrizes, que seguem cada vez mais o mesmo padrão - parece não ter fim. Primeiro foi o uso exagerado do photoshop num anúncio da grife Ralph Lauren, em que a garota-propaganda foi tão afinada que tornou-se uma imagem grotesca, com a cabeça mais larga do que sua cintura (veja na foto abaixo, à direita). A modelo, Filippa Hamilton, foi demitida por estar acima do peso, e esteve em vários programas de televisão dos Estados Unidos e da Europa mostrar seu corpo longilíneo e com tudo em cima, e falar de como se sentia ultrajada por ter sido jogada fora.

Na semana passada, foi a vez do estilista alemão Karl Lagerfeld criticar a revista Glamour, que anunciou que não mais usaria modelos esqueléticas em suas páginas. Preferiam usar mulheres que criassem identificação com as leitoras. Lagerfeld bradou contra a decisão. Disse que o mundo da moda é feito de ilusão e fantasia e que “ninguém quer ver mulheres cheinhas”. Mais: “Só mulheres gordas que ficam comendo suas batatas fritas na frente da televisão dizem que modelos magras são feias”. A coisa esquentou.


E neste fim de semana, passou a frever, quando a especialista em distúrbios alimentares Irene Rubaum-Keller escreveu uma coluna no site americano Huffington Post que “só homens gays acham atraentes modelos magérrimas”. Em seu artigo, Irene comenta os últimos acontecimentos. Sobre Lagerfeld: “Ilusão e fantasia são maravilhosos na ficção, mas não quando se trata de gente de verdade, de mulheres que passam fome e que muitas vezes mal conseguem ficar de pé”.

A declaração repercutiu em outras colunas, sites e blogs de comportamento. A maioria contra a magreza das modelos, mas certamente contra o preconceito que veio a reboque das palavras de Irene Rubaum-Keller. Como especialista em distúrbios da alimentação, ela certamente vê com olhos ainda mais preocupados do que os nossos o rumo em que o mundo da moda está levando suas profissionais. Mas perde totalmente a razão quando brada contra os homossexuais. Como bem foi dito no site Jezebel, que repercutiu a história, o universo fashion é composto de mulheres e homens, hetero e homossexuais. Se há estilistas gays, há também muitas mulheres que fazem sucesso com suas coleções e ajudam a criar o padrão de magreza que hoje estarrece o mundo. Talvez ela tenha mirado em Lagerfeld - que também poderia ter sido mais sutil -, mas acabou acertando no que não devia.

IV Colóquio do Curso de Especialização em Psicanálise e Laço Social "Psicanálise: Pesquisa e Tratamento"


Clique na imagem para ampliar.
"A mesma alma que faz uma comédia faz também uma tragédia"
Platão

18 de outubro de 2009

Entrevista

A perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial é o principal tema de Vou Chamar a Polícia - e Outras Histórias de Terapia e Literatura (Ediouro, 264 páginas, 49,90 reais), título do novo livro do psiquiatra americano Irvin Yalom, 78 anos. Chega às lojas neste mês. Mais conhecido como o autor dos best-sellers A Cura de Schopenhauer (130.000 exemplares vendidos no país) e Quando Nietzsche Chorou (410.000), Yalom adiciona o Holocausto à sua lista de assuntos preferidos, na qual figuram a psicoterapia e a filosofia.

Como Vou Chamar a Polícia é um pequeno conto, a Ediouro juntou ao texto uma obra lançada por Yalom nos Estados Unidos há cerca de dez anos, The Yalom Reader - O Leitor de Yalom, em tradução livre para o português. Nela, o autor analisa sua produção literária. "É uma espécie de antologia minha", explica o prolífico terapeuta, que já trabalha em um novo projeto, um livro sobre - adivinhe - um filósofo: Bento de Spinoza. O novo, o antigo e o futuro livro, além da psicoterapia e da filosofia, é claro, compõem a conversa de Yalom com VEJA.com.


A história-título de seu novo livro fala da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, um drama vivido por seu amigo, o também médico Robert Berger. É uma história curta. Por que resolveu publicá-la?
Depois que encontrei esse amigo e ouvi sua história, que é bastante marcante, me senti compelido a escrevê-la. Agora que Bob está ficando velho, ele quer que essa narrativa, guardada por mais de cinquenta anos, seja contada e conhecida - foi o que fizeram muitos sobreviventes. É uma forma de lidar com a questão, de suportar o que foi vivido. Tive ainda outras razões. O Holocausto é um assunto com o qual tenho dificuldade de lidar. Mas eu quero ajudar meu amigo a administrar essa questão. Então, são muitas coisas: amizade, uma mudança das minhas próprias atitudes, uma história poderosa.

O senhor já trabalha em um próximo livro?
Sim, estou mergulhado há cerca de dois anos em um projeto sobre o filósofo Spinoza, um personagem da Amsterdã do século XVII. Há uma série de histórias portuguesas envolvidas [a família de Spinoza migrou de Portugal para a Holanda por causa das perseguições aos judeus]. Devo levar mais um ano ou ano e meio para terminar o livro.

A filosofia é uma de suas paixões, ao lado da psicoterapia. Uma alimenta a outra?
Sim. Sinto que a psicoterapia deve muito à filosofia. O conhecimento da natureza humana não começa com Freud [Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise]. Os grandes filósofos vêm pensando o assunto há séculos. Olhe os pensadores antigos, como Epicuro: eles têm ideias profundas a respeito. Freud bebeu na filosofia antiga, e deixou isso claro. Ele também deu crédito, em seu trabalho, a Nietzsche [Friedrich Wilhelm Nietzsche, filósofo alemão atormentado por questões existenciais] e a Schopenhauer [Arthur Schopenhauer, outro filósofo alemão envolvido com temas da existência]. Para Spinoza, acho que não deu crédito nenhum, mas este é certamente um psicólogo muito importante, que merece ser citado.

O senhor flerta bastante com questões existenciais em seus livros, especialmente no romance Quando Nietzsche Chorou. Qual o peso disso em uma terapia?
Eu não trabalho apenas com questões existenciais, mas com todas as questões que podem surgir em uma sessão de terapia, questões que têm a ver com a maneira como o paciente se relaciona com as outras pessoas, questões ligadas a sexo, crescimento e desenvolvimento, casamento e amor. Para muita gente, as questões existenciais, como o medo da morte, a liberdade e a significação da vida, nunca surgem. Tudo bem. Mas um terapeuta deve estar preparado para percebê-las, caso apareçam. Um bom terapeuta é aquele que tem sensibilidade para questões existenciais.

Teme que sua obra seja confundida com autoajuda?
Se as pessoas podem obter em meus livros alguma ajuda, fico feliz. Invisto muito tempo neles, agora mesmo estou trabalhando seis, sete horas por dia no projeto de Spinoza, que vai levar, ao todo, de três a quatro anos. Continuo atendendo, mas apenas duas horas por dia. O resto do tempo eu não uso para outra coisa que não o livro. Uma parte do romance vai ser sobre o homem, não sobre o filósofo, então, eu preciso pesquisar, e leio muito. Portanto, não se trata de autoajuda superficial. Recebo e-mails diariamente, às vezes vinte, trinta, num único dia, de leitores que tiram algo dos livros.

A função da psicoterapia é curar pessoas?
Eu acho que a psicoterapia faz as pessoas se sentirem melhor, mais felizes, mais ajustadas, menos torturadas e atormentadas. Esta é a meta da terapia - uma melhor saúde mental, se você preferir colocar nestes termos. A psicoterapia tem também a função de fazer as pessoas assumirem responsabilidade por elas mesmas, por suas ações. É o que todo psicoterapeuta deseja.

No livro O Carrasco do Amor, o senhor diz que auto-consciência traz ansiedade. Vale a pena ser auto-consciente?
Claro que vale. Se queremos ser tudo o que podemos ser, se queremos ser humanos, se queremos realmente realizar o nosso potencial, então, acho que temos que nos pensar. Refletir sobre o significado da vida é um exercício, que requer a nossa habilidade de raciocinar, aquela que nos separa de todos os outros seres vivos do mundo.

Mas, em terapia, nós nos desconstruímos. E depois não conseguimos nos reconstruir tal como éramos - e apreender quem de fato éramos. Ainda assim, é válido?
Nós tentamos mudar, tentamos fazer de nós pessoas melhores, tentamos ser mais felizes, tentamos assumir responsabilidade por nossos atos, tentamos perceber o nosso potencial, nos tornar aptos para amar, para nos relacionar melhor com as pessoas. É isso o que faço: eu ajudo pessoas a se relacionar melhor com outras pessoas e consigo mesmas.

Na terapia, a relação estabelecida entre terapeuta e paciente é mais importante do que a escola seguida pelo terapeuta?
Essa é uma verdade absoluta. Um analista pode ser bem treinado, mas, se for frio, não tiver empatia e não proporcionar ao paciente uma relação verdadeiramente humana, mantendo uma distância entre eles, não vai ser de grande valia.

É cada vez mais comum as pessoas tomarem remédios. A medicação pode substituir a terapia?
Acho que há um uso excessivo de medicação. Posso falar, pelo menos, do que acontece nos EUA: aqui, há muita gente tomando remédio, mesmo sem terapia, e eu acho que não se deve tomar remédio sem acompanhamento médico. Há pesquisas que comprovam que a psicoterapia aliada à medicação é muito melhor que a medicação sozinha. Além disso, para muitos pacientes, a psicoterapia pode proporcionar os mesmos efeitos que a medicação, os mesmos benefícios mentais. Remédios não são a resposta para a maior parte das questões discutidas em sessões de terapia. Eles são relevantes quando se trata de transtornos bipolares, depressões profundas, manias intensas, esquizofrenia. Aí, sim, a medicação tem um papel importante a desempenhar.

Quando um terapeuta deve desistir de um paciente?
Quando ele trabalha com o paciente e vê que não pode ajudá-lo. É o próprio paciente quem deve querer mudar, se transformar durante o processo terapêutico. Se ele não faz nenhum esforço nesse sentido, se ele não trabalha na terapia, não há como lhe ser útil. Mas vale dizer que há pacientes que precisam da terapia simplesmente para continuar vivendo. São pacientes que não farão grandes reconstruções de si mesmos, que não sofrerão grandes transformações na terapia, que meramente os ajuda a tocar a vida. Nesses casos, apesar de não haver grandes mudanças, o tempo é bem gasto.

Psicanálise e arte