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29 de setembro de 2009

Cinema e Psicanálise

Mostra debate a relação da psicanálise com o cinema em 23 filmes, na Caixa Cultural

A relação entre o cinema e a psicanálise é o tema da mostra "Loucos por cinema", que exibe desta terça-feira (29.09) até domingo (04.10) 23 filmes na Caixa Cultural. Com participação de psicanalistas, professores e especialistas, o evento promoverá debates mediados pela curadora Bianca Novaes, doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-RJ.

Neurose, psicose e perversão, muitas vezes simplificadas pelo estigma de "loucura", são retratadas pelos longas selecionados. Um dos objetivos é discutir como os atores e diretores se posicionam diante dos desafios de expor o tema tão delicado.

Entre os destaques, está o documentário ainda inédito no Brasil "The pervert's guide to cinema" (2006), de Sophie Fiennes, em que o filósofo Slavoj Zizek analisa a linguagem escondida do cinema e conduz o espectador numa viagem por alguns dos maiores filmes da história.

Entre os brasileiros, está "O bicho de sete cabeças", em que Rodrigo Santoro faz o papel de um jovem internado em um manicômio. Há também clássicos, como "Fahrenheit 451"(1966), no qual o diretor François Truffaut desenha uma civilização do futuro dominada por um estado totalitário; e "O gabinete do Dr. Caligari" (1920) sobre um misterioso hipnotizador.

Toda a renda do evento "Loucos por Cinema - Mostra de Cinema e Psicanálise" será destinada ao Programa Fome Zero.

Confira a programação completa:

TERÇA-FEIRA, 29/09

Cinema 1

17h - "Delicatessen" (Delicatessen), de Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro, 1991, 99min.

19h30m - "Bicho de sete cabeças", de Laís Bodanzky, 2000, 88min.

21h - "Wittgenstein" (Wittgenstein), de Derek Jarman, 1993, 75min.

Cinema 2

17h15m - (The pervert's guide to cinema), Sophie Fiennes, 2006, 150min.

20h - "Titicut follies", de Frederick Wiseman, 1967, 84min.

QUARTA-FEIRA, 30/09

Cinema 1

17h - Uma mulher sob influência (A Woman Under the Influence), John Cassavetes, 1974, 155min.

Sessão seguida de debate, às 19h35.

19h40 - Alphaville (Alphaville, une étrange aventure de Lemmy Caution), Jean-Luc Godard, 1965, 99min.

Cinema 2

17h15 - Pontes de Madison (The Bridges of Madison County), Clint Eastwood, 1995, 135min.

20h - Seguido de Debate com Regina Herzog e Marcia Arán

QUINTA-FEIRA, 01/10

Cinema 1

17h - (The Pervert's Guide to Cinema) Sophie Fiennes, 2006, 150min.

19h40 - Viridiana ( Viridiana), Luis Buñuel, 1961, 90min. ,

21h10 - O gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari) Robert Wiene, 1920, 75 min.

Cinema 2

17h15 - Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451), François Truffaut, 1966, 112min.

20h - Festim Diabólico (Rope), Alfred Hitchcock, 1948, 80min.

SEXTA-FEIRA, 02/10

Cinema 1

17h - Almas Gêmeas (Heavenly Creatures), Peter Jackson, 1994, 99min.

20h - Seguido de Debate: com Glória Sadala e Isabel Forets.

19h40 - O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of the Sierra Madre), John Huston, 1948, 126min.

Cinema 2

17h15 Camille Claudel, de Bruno Nuytten, 1988, 158min.

20h - Seguido de Debate: com Glória Sadala e Isabel Forets.

SÁBADO, 03/10

Cinema 1

14h30 - Estamira (Estamira) Marcos Prado, 2004, 121min.

17h - Uma mulher sob influência (A Woman Under the Influence), John Cassavetes, 1974 155min.

19h40 - Louco por Cinema, de André Luis Oliveira, 1994, 100min.

Cinema 2

15h - Um Corpo que Cai (Vertigo), Alfred Hitchcock, 1958, 128min.

17h15 - Psicose (Psycho), Alfred Hitchcock, 1960, 109min.

20h - Seguidas de Debate: com Marcus André Vieira e Fernando Ribeiro"

DOMINGO - 04/10

Cinema 1

14h30 - A Bela da Tarde (Belle de Jour), Luis Buñuel, 1967, 101min.

17h - Edukators (Die fetten Jahre sind vorbei), Hans Weingartner, 2004, 127min.

19h40 - Repulsa ao Sexo (Repulsion), Roman Polanski, 1965, 105min.

Cinema 2

15h - Um estranho no ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest), Milos Forman, 1975, 133min.

17h15 - (The Pervert's Guide to Cinema), Sophie Fiennes, 2006, 150min.

20h - Fahrenheit 451, François Truffaut, 1966, 112min.

DEBATES:

- "Uma mulher sob influência" e "As pontes de Madison"

Quarta, às 20h

Com Márcia Arán e Regina Herzog

- "Camille Claudel" e "Almas gêmeas"

Sexta, às 20h

Com Gloria Sadala e Isabel Fortes

- "Um corpo que cai" e "Psicose"

Sábado, às 20h

Com Marcus André Vieira e Fernando Ribeiro

Caixa Cultural Rio de Janeiro
Av. Almirante Barroso 25, Centro
Tel: 2544-4080.
Entrada: R$ 4

Teatro

Peça premiada volta a ser encenada do Rio de Janeiro e no Ceará, mostrando realidade de um hospício no século XIX,

O cotidiano de cinco mulheres em um manicômio brasileiro, no fim do século retrasado, é tema de Hysteria, peça que já ganhou cinco prêmios. Na mesma época em que se passa a história, Freud desenvolvia, em Viena, sua teoria acerca dessa psicopatologia. Após 350 apresentações em 18 cidades brasileiras e 12 no exterior e de ter participado dos principais festivais de teatro de língua portuguesa, a peça será apresentado novamente no Rio de Janeiro, em outubro, e em Cariri, no Ceará, em novembro. O espetáculo com abordagem interativa, porém delicada (que não constrange o público), foi desenvolvido pelo Grupo XIX de Teatro, com base em pesquisas de documentos históricos realizadas em hospícios femininos do século retrasado. Resultado de um processo de criação coletiva, a peça resulta da “costura” dos fragmentos de histórias de personagens verídicas e de toques de ficção. Ao mergulhar nesse universo, o diretor Luiz Fernando Marques e as atrizes Evelyn Klein, Mara Helleno, Janaina Leite, Juliana Sanches e Sara Antunes traçam um desenho que passa pela pressão familiar, repressão social e introjeção de fantasmas opressivos e desestabilizadores. As questões referentes ao século XIX são colocadas em confronto com as questões das mulheres da plateia, fazendo da sala de hospício/teatro uma arena de discussões que proporciona uma emocionante troca de vivências.

Hysteria. Nos dias 16, 17 e 18 de outubro, o espetáculo será apresentado no Rio de Janeiro, e de 13 a 20 de novembro, no Ceará. Locais a serem definidos.
Informações: contato@grupoxixdeteatro.ato.br

simbolismos do cigarro


A lei antifumo, em vigor em São Paulo desde agosto, traz à tona discussões sobre o significado e os simbolismos tanto do cigarro quanto do ato de fumar.

Veja o artigo da Mente&Cérebro:

"Em resposta a alguém que lhe perguntou em certa ocasião qual era o significado simbólico de um charuto, Sigmund Freud respondeu que, às vezes, um charuto é apenas um charuto. Mas podemos acrescentar que, justamente por ser um charuto apenas “às vezes”, há situações em que representa algo distinto. Na mitologia do próprio charuto ele já foi, por exemplo, símbolo do poder, o que, em termos psicanalíticos, pode ser chamado de “símbolo fálico”. Transportando essa questão para os dias de hoje, o que representa o cigarro na recente discussão acerca de sua proibição em locais públicos?

Em agosto entrou em vigor a lei antifumo em São Paulo com a promessa de ser igualmente implantada em outros estados. O argumento principal dos criadores da legislação é que muitos fumantes passivos – aqueles que sofrem os efeitos do fumo por exposição à fumaça do cigarro dos fumantes ativos – desenvolvem câncer de pulmão. Está comprovado o fato de haver um elevado número de mortes por esse motivo.

Uma primeira representação para o cigarro – aquele que mata – pode ser a de uma arma. Podemos usar nossa imaginação e dizer que, antes da lei antifumo, o fumante (ativo) seria, no
máximo, acusado de homicídio culposo. Tratava-se de um delito provocado pela falta de cuidado objetivo do agente, imprudência, imperícia ou negligência.

No entanto, não há a intenção de matar. Mas agora a coisa mudou. Com a proibição de fumar para não espalhar sua fumaça-veneno (também podemos atribuir símbolos à fumaça), o cigarro-arma se tornaria a prova de um crime pior: o homicídio doloso. Este consiste na vontade livre e consciente de assassinar alguém. Por isso, a implementação da lei antifumo se faz acompanhar de um sistema de denúncias. O fumante-assassino deve imediatamente ser interceptado para não causar danos a outrem.

Mas o cigarro também representa o prazer. O próprio ato de fumar é prazeroso, dizem os fumantes. Acalma a ansiedade para alguns, é estimulante para outros. Também existe o cigarro depois da comida, do café e do sexo, que atua como complemento. Revela um prazer que se prolonga. Reafirma a satisfação obtida, pois tem valor de uma confirmação: “...sim, foi bom para mim”. Para muitos fumantes, acender um cigarro é um ritual em que corpo e espírito se encontram: prazer do corpo e simbolização desse prazer (no espírito) por meio do rito.
Curiosamente, a lei antifumo permite o cigarro em cultos religiosos, mesmo em ambientes fechados, desde que isso faça parte do ritual. Há que perguntar aos praticantes do culto o que o cigarro ou o charuto simbolizam naquele contexto. Afinal, por que seria mais legítimo do que o ritual particular de cada um na vida cotidiana?

Outra curiosidade é a permissão para fumar nas áreas a céu aberto nos estádios de futebol. O cigarro tem aí um poderoso efeito de acalmar a ira e a expectativa dos torcedores. É o “sossega-leão”: funciona como calmante. Mas, se o time querido marcar um gol... também se pode acender um cigarro-prazer e reafirmar a alegria do momento.

Nos ambientes de trabalho, mesmo que existam áreas abertas e jardins, não se pode fumar. Dizem que a fumaça se espalha e atinge os fumantes passivos. Talvez se espalhe de modo diferente, do modo como se propaga no estádio de futebol. A catarse coletiva justificaria o prazer. O trabalho, não. O cigarro-prazer, se fumado no ambiente de trabalho, enfrentaria a lei que parece dar um recado: a nossa sociedade exige produtividade. Onde há trabalho, não deve haver descanso. Mas existe – ou melhor, existia – também o cigarro-escape. Se o cigarro-charuto representa o poder,proibi-lo é uma forma de impedir a recuperação da autoestima. Sentir tensão, pressão ou sofrer humilhação (situações comuns em ambiente de trabalho) exige um recuo emocional, uma espécie de rearmamento. O cigarro-escape era também um cigarro-enfrentamento.

Cabe à União editar normas “gerais” sobre temas ligados à saúde. Estados e municípios editam normas complementares. Independentemente da questão que se coloca sobre a autonomia dos estados e municípios para estabelecer regras mais duras do que aquelas que foram ditadas pela União, devemos atentar para o fato de que alguém legisla sobre nossos corpos e nossos hábitos. “Biopoder” é o termo criado pelo filósofo e historiador francês Michel Foucault (1926-1984), na
década de 70, para referir-se à prática dos Estados modernos de desenvolver um número sem igual de técnicas destinadas à subjugação dos corpos e ao controle das populações.

A transformação radical dos comportamentos por meio da abrupta imposição de novas regras não deveria ser exigida sem uma discussão prévia acerca do significado individual e coletivo desses mesmos comportamentos. O que significa o cigarro? O que significa fumar? Não se pode impunemente elencar comportamentos aceitáveis ou inaceitáveis a partir de uma moral do bem e do mal estabelecida com base no que se considera saudável, ou não, exclusivamente do ponto de vista biológico.

O problema que se coloca não é apenas o da luta pela saúde, mas o da maneira pela qual se exerce o poder. Como e em nome do que esse poder é exercido? Fazer proibições em nome da saúde de absolutamente todos é um equívoco denunciado por Foucault. É uma forma extremamente sutil e, por que não dizer, perversa, de instalar o poder. Autoridades da lei antifumo têm dito que o fumante não foi impedido de exercer sua liberdade individual, pois, afinal, ele pode beber, comer, dançar e depois, prazerosamente, fumar... dentro de sua própria casa. Um presidiário pode fazer o mesmo em sua cela. Diríamos que ele está exercendo a sua liberdade individual?

Consideremos a necessidade de evitar que os fumantes passivos desenvolvam sérios problemas pulmonares e venham a falecer. É legítimo buscar a saúde dessas pessoas e intervir de modo a atingir esse objetivo. É igualmente legítimo possibilitar que eles circulem por áreas amplas e não sejam constrangidos a conviver com fumantes. Mas a recíproca é verdadeira. Poderia haver bares, restaurantes, cafés, boates e jardins para um grupo e para outro. Se os “não fumantes” são maioria, que existam mais estabelecimentos e áreas próprias a eles. Caberia aos donos desses lugares optarem por sua clientela. Caberia ao governo criar incentivos para que alguns estabelecimentos garantissem exclusividade para “não fumantes”.

A saúde da moral ficaria assim garantida em vez de querer fazer prevalecer a moral da saúde, em que saudável seria igual a “bom” e “não saudável” equivaleria a “mau”. O risco de a medicina tomar o lugar da Igreja Católica em relação aos preceitos morais foi denunciado há muito tempo. Isso não significa que a própria medicina e mesmo a população tenham se dado conta disso. É fundamental entender que a saúde não compreende apenas o organismo, mas que necessariamente leva em conta a mente que representa, simboliza e dá significado aos fatos do corpo. Essa, sim, é uma percepção saudável de si mesmo e da vida em sociedade. Em tempo: não sou fumante."

O artigo me lembrou as frases de Mario Quintana:

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" Fumar é um jeito discreto de ir queimando as ilusões perdidas. "

"Desconfio dos que não fumam: esses não têm vida interior, não têm sentimentos. O cigarro é uma maneira disfarçada de suspirar ..."