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4 de novembro de 2016

Canal da Casa do Saber


A Casa do Saber é um centro de debates e disseminação de cultura e conhecimento, que organiza eventos com temas muito atuais e com a participação das maiores autoridades nos temas escolhidos. Cinema, filosofia, arte, ciência, psicanálise, história... Tem sempre uma discussão legal acontecendo na Casa do Saber!
Os cursos, palestras e debates acontecem nas sedes localizadas no Rio e em São Paulo e são super concorridos. Uma alternativa para quem não consegue participar é o canal da Casa no YouTube. Toda terças e quinta são lançados vídeos novos, alguns bem rápidos, de 3 minutos, e outros mais longos, com mais de 1 hora. 
Eu recomendo os vídeos de Clóvis de Barros Filho O que é moral e Felicidade não tem fórmula e a discussão sobre O politicamente correto e Comportamento e sexualidade segundo Freud de Pedro de Santi.










Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

28 de outubro de 2016

Simpósio do Programa de Pós Graduação em Pesquisa e Clínica em Psicanálise da UERJ - 50 anos dos Escritos de Jacques Lacan

Este ano a publicação dos Escritos, de Lacan, comemora seus 50 anos!
Para festejar a data o Programa de Pós Graduação em Pesquisa e Clínica em Psicanálise da UERJ está organizando um Simpósio, com plenárias, mesas-redondas e conferências, que visam discutir a grandiosidade (são 938 páginas!) e a importância deste livro.

Para mais informações sobre inscrição e envio de propostas de trabalho, consulte o site do evento.

O texto da comissão organizadora explica a escolha do tema e a atualidade deste material que, apesar de publicado em 1966, continua nos orientando na prática clínica até hoje.


CONVOCATÓRIA

O ensino de Lacan é um empreendimento monumental que restituiu Freud a Freud. Compõe-se fundamentalmente de 27 Seminários "oficiais" - 1953-1980 - um por ano, e Escritos (os Escritos, assim nominalmente conhecidos, de 1966 [1], e os Outros Escritos, de 2001 [2], além de vários outros pequenos Escritos que foram publicados em diversos veículos, de modo pontual. A publicação da coletânea dos Écrits na França pela editora Seuil em novembro de 1966 produziu um efeito retumbante, levando o ensino de Lacan a um rápido reconhecimento mundial: os cinco mil exemplares vendidos em apenas quinze dias, antes mesmo de qualquer resenha ser publixada – poubellication, palavra-valise que associa a publicação (publication) ao lixo (poubelle), era o termo com que Lacan gostava de se referir às publicações –, não significaram nada se comparados aos quase duzentos mil da edição de bolso. Encontrando Derrida num colóquio em Baltimore um mês antes, Lacan manifestou a ele sua preocupação com a encadernação do livro de quase novecentas páginas: “Isso vai acabar se rompendo”.
A publicação do livro foi tornada possível pelo total empenho do filósofo e editor François Wahl, que reuniu os textos e se dedicou a corrigir e organizar o conjunto a partir de artigos publicados em revistas, cópias corrigidas por Lacan e manuscritos datilografados. A conferência de 1958 “A significação do falo” foi descoberta pouco antes do volume ir para impressão, num papel gasto e endurecido, com inúmeras correções a tinta feitas por Lacan. Wahl trabalhou junto a Lacan durante meses para estabelecer, frase por frase, o texto definitivo de todo o volume. [3]
A dualidade seminário/escrito reproduz a dualidade fala/escrita, que sabemos ser estrutural, axial no ensino lacaniano. Jean-Claude Milner, na sua belíssima Obra Clara [4], cuidou de tratar com o rigor que o caracteriza desse aspecto, distinguindo o "exotérico" - dirigido "para fora", o que é marcado pelo prefixo latino "ex", ensino através da fala em
seminário ao qual ele associa o caráter "protréptico" da transmissão oral, do "esotérico", com "s", que se dirige para o interior de um campo de experiência compartilhada, e que é dotado do rigor do saber, nos Escritos.

Há "pontes", ruas de ligação entre esses dois cursus - seminários e escritos. Uma delas, contudo, merece ser aqui evocada porquanto seja aquela que mais concerne a este Simpósio: Se comemoramos os 50 anos dos Escritos em 2016 é porque, em 1966, quando Lacan decide publicá-los (o que reúne o que de mais importante ele escrevera desde o início de sua atividade de transmissão da Psicanálise, em 1936, até a data da publicação, incluindo os famosos "De nossos antecedentes"), seu seminário era sobre "A lógica da fantasia", título que contém, como ele mesmo comenta no seminário, uma surpresa: discernir uma lógica ali onde se espera o mais ilógico, o mais subjetivamente vago e impreciso, o devaneio livre" - a atividade fantasística! É justamente neste seminário XIV(1966/67) que a escrita começa a ganhar em Lacan o lugar de primazia que ela passará a ter, cada vez mais, em seu ensino,  ou seja, na própria experiência psicanalítica, que dele é indissociável. A ponte, no caso, não é com um dos escritos, mas com o ato mesmo de publicar os Escritos.

Há também a periodização do ensino, marca diacrônica que introduz o real da exigência da temporalidade na elaboração que Lacan vai fazendo da experiência psicanalítica. Essa imposição do real também incidiu sobre Freud, que precisou a ele se curvar em suas duas "tópicas": a primeira e a segunda, que marcam diferenças e descontinuidades radicais e decisivas sem contudo envolver a refutação da primeira pela segunda, pois não é esta a "lógica da investigação psicanalítica", para parafrasear o título da obra de Karl Popper [5], que introduziu a refutabilidade como exigência metodológica na investigação científica. Em Lacan, Milner nomeia, de modo em todos os pontos homólogo às tópicas freudianas, o "primeiro e o segundo classicismos". Tudo muda após o Seminário XVII - O avesso da Psicanálise, e as diferentes assonâncias que este título pode assumir no plano semântico já o indica bem, mas esse inflexão não foi sem a longa preparação que se inicia com o Seminário XI e a "excomunhão" da IPA, a chamada relève logicienne [1][6] que se produz entre os seminários XII e XVI - após a excomunhão e elaborando a virada do Seminário XVII.
Mas os Escritos, cujo primeiro cinquentenário este Programa comemora neste seu simpósio de 2016 [6], pertencem inteiramente ao primeiro classicismo: publicam-se em 1966, embora o ato de sua publicação prenuncie a passagem ao segundo. Para esta momentosa comemoração, convocamos muitos colegas brasileiros e latino-americanos. Quanto a estes, lembramos o que declarou o próprio Lacan em Paris quando, pouco mais de um ano antes de sua morte, preparava-se para vir pela primeira vez à América Latina (Venezuela, Seminário de Caracas, julho de 1980): "Esses latino-americanos, como se diz, que nunca me viram, diferentemente daqueles que estão aqui, nem me ouviram de viva voz, pois bem, isso não os impede de serem lacano. Parece que isso antes os ajuda. Eu me transmiti por lá pelo escrito, e parece que criei raiz. [...] É certo o futuro está lá, e é nisso que me interessa ir lá conferir. Interessa-me ver o que acontece quando a minha pessoa não oblitera o que eu ensino. Pode bem ocorrer que meu matema ganhe com isso, ... e que a isso eu tenha convocado meus lacano-americanos...." [7] (grifos nossos). Nós, que sustentamos a presença do ensino de Lacan na Universidade, e somos assim latino-lacano-americanos, não podemos nos esquivar da responsabilidade política que isso implica no cenário do movimento psicanalítico internacional de orientação lacaniana. Na citação, Lacan afirma justamente ter-se "transmitido [aqui] pelo escrito", já que não o ouvíamos de voz viva na transmissão oral de seus seminários.
Temos, assim, todas as razões para comemorar da forma mais vibrante que esses Escritos de Lacan cheguem aos cinquenta anos, à sua plena maturidade editorial [8]. Eles não só criaram raízes, fizeram um enorme reboliço por aqui e pelo mundo, mas é aqui que, além da Europa e em certo contraponto a ela, ele mais viceja no mundo.



As imagens que escolhemos para dar sua identidade visual ao evento seguem uma ideia que veio à fértil cabeça de uma colega do nosso Programa [9]: transliterar "Écrits" em "É cri !" - É grito, tranlinguisticamente. Gritos de comemoração, que condensam os de medo, pavor, guerra, angústia, horror e amor. Com efeito, os afetos gritantes se escrevem melhor. Seja nas Plenárias, que encarnam seis eixos temáticos extraídos dos Escritos de 1966 e conta com um elenco de primeiríssima linha entre os psicanalistas que tomam a si a tarefa de presentificar a Psicanálise no mundo, seja nas Mesas Simultâneas, em que esse trabalho encontra seus desdobramentos mais específicos, estaremos todos, por três dias, trabalhando sobre os Escritos de Lacan, falando nosso próprio escrito a respeito deles, ouvindo o dos colegas, intervindo em todos os casos. O que será, indiscutivelmente, um grande prazer. 

Au travail, donc!
Comissão Organizadora:


Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

7 de setembro de 2016

Propaganda e imagem feminina

Não é de hoje que os imperativos da publicidade massacram os ideais femininos. 
Seja para vender produtos para as próprias mulheres ou usados para vender artigos para os homens, os corpos femininos desfilam pela a publicidade e dominam o cenário atual, veiculando a ideias que para ser feliz é necessário ser linda, magra e usar as marcas it do momento. Mas até que ponto os imperativos de consumo afetam o corpo e a subjetividade das mulheres? Como as imagens surrealmente retocadas afetam a auto-imagem das mulheres reais que se comparam diariamente com estes ideias inatingíveis?

Uma das maiores autoridades no tema é Jean Kilbourne, que pesquisa o assunto desde 1960, entes de qualquer outra pessoa prestar atenção no problema.
Jean Kilbourne é autora, palestrante e diretora de diversos documentários sobre a forma como a imagem das mulheres é retratada na publicidade e os danos que causam à subjetividade feminina. Em seus trabalhos, Kilbourne relaciona o poder da imagem com a saúde, e associa a publicidade à objetificação do corpo, aos transtornos alimentares - anorexia e bulimia - e à violência contra as mulheres.

A autora afirma que, em seus 40 anos de pesquisa, a imagem da mulher na publicidade nunca foi tão agressiva no que diz respeito a pressão para ser eternamente jovem, magra e bonita e que nunca se estimulou tanto a busca de um ideal impossível como a propaganda faz atualmente. 

O vídeo abaixo é uma palestra de 15 min., realizada na Lafayette College, onde Jean Kilbourne fala sobre sua pesquisa alertando sobre os perigos na forma como a publicidade representa a mulher atualmente.


The dangerous ways ads see women




Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.


2 de setembro de 2016

Curso de Extensão na Universo, em Niterói

Começa amanhã o Curso de Extensão que eu coordeno na Universo - Universidade Salgado de Oliveira, sobre Transtornos Alimentares.
A proposta é discutir o diagnóstico e tratamento das anorexias, bulimias e compulsões alimentares a partir da psicanálise, passando por uma investigação histórica, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a sintomatologia alimentar na atualidade.

Para se inscrever, entre em contato com o Centro de Atendimento Universo pelo telefone 2138-4862



26 de julho de 2016

Dica ViaFreud: canal do Christian Dunker

O professor da USP Christian Dunker, autor de "Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica", e colunista do blog da Boitempo, criou um canal no Youtube onde divulga excelentes vídeos comentando alguns conceitos importantes da Psicanálise e seus autores. 

Eu super recomendo duas séries de vídeos, para ver, anotar e rever! A primeira é uma série de 15 aulas sobre os Conceitos Fundamentais da psicanálise a partir da leitura de Lacan, onde Dunker explora o estádio do espelho, os três registros RSI, o tempo lógico, a dialética entre desejo e demanda e outros conceitos teóricos importantes para os estudiosos sobre o tema.

A segunda é a série Falando Nisso, que não é voltada para os psicanalistas, mas para o público em geral, para o leigo que ouve falar no inconsciente e se interessa em saber um pouquinho mais. Nesta série de vídeos, Dunker tem a preocupação de abordar mal entendidos frequentes como a diferença entre psicologia, psicanálise e psiquiatria, a psicanálise com crianças, o tratamento da ansiedade através da psicanálise, aproximando o leigo da clínica psicanalítica e do legado freudiano para além dos conceitos rebuscados ou os jargões populares como "Freud explica!"
No vídeo abaixo, Chistian Dunker fala sobre psicanálise, psiquiatria e psicologia.







Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.


20 de julho de 2016

Clínica social - Patologias da imagem


Em 2010 iniciei uma pesquisa de Mestrado, financiada pelo CNPq, no Programa de Pós Graduação em Psicanálise da UERJ, sobre os sintomas alimentares: anorexias e bulimias, com o objetivo de investigar a etiologia e a prática clínica com esses pacientes.

Hoje, no curso de Doutorado, iniciado em 2015 na mesma universidade, esta pesquisa toma um novo formato, e passa a incluir não apenas os transtornos alimentares, mas toda a sintomatologia que envolve a obsessão pela beleza e os excessos de manipulação da imagem do corpo com objetivos estéticos. 
Assim, além das anorexias e bulimias, incluo agora na minha pesquisa sob o termo Patologias da Beleza, os sintomas dismórficos, os excessos de intervenções estéticas e cirurgias plásticas e a preocupação exagerada com a aparência, com o objetivo é investigar como a busca pela beleza eterna pode levar a destruição do próprio corpo.

Vinculado a esta pesquisa, ofereço atendimento em Niterói e em Copacabana a preços populares para pacientes que se enquadrem na sintomatologia descrita: anorexias, bulimias, preocupação excessiva com o corpo, distúrbios na percepção da própria imagem, excessos de intervenções estéticas, intensas rotinas de exercício, abuso de medicação, etc. 



Clínica Social - Patologias da imagem
Terças-feiras - Niterói (Icaraí)
Quartas-feiras - Rio (Copacabana)

A primeira entrevista/avaliação inicial é gratuita e neste encontro é estabelecido o valor a ser pago nas sessões posteriores.
Para agendamento, entre em contato pelo cel: (21)98123-1472




11 de julho de 2016

Entrevista com Simone de Beauvoir, em 1959



Simone de Beauvoir foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política e feminista francesa, que teve uma influência significativa tanto no existencialismo quanto na teoria feminista.

Formada em filosofia pela Universidade de Sorbonne, onde conheceu outros jovens intelectuais, como Maurice Merleau-Ponty, René Maheu e Jean-Paul Sartre - com quem manteve um relacionamento por toda a vida -, De Beauvoir escreveu romances, ensaios, biografias, (e até uma autobiografia!) sobre filosofia, política e questões sociais. Seu trabalho mais conhecido é o livro O Segundo Sexo, de 1949, onde faz uma análise detalhada sobre a opressão das mulheres e um tratado fundamental do feminismo contemporâneo.

Nessa rara entrevista, concedida para a Rádio Canadá e realizada na França em 1959 por Wilfrid Lemoine, a autora fala de amor livre, existencialismo, feminismo e relacionamentos. Apesar de ter sido gravada ainda na década de 50, a entrevista só foi difundida recentemente, devido a grande pressão por parte da igreja católica e do arcebispo de Montreal, que censuraram o material na época. 

Simone de Beauvoir Fala (1959):




Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.


9 de julho de 2016

Exaustos-e-correndo-e-dopados, por Eliane Brum

A jornalista Eliane Brun dispensa qualquer apresentação, principalmente para os leitores do ViaFreud, que já estão acostumados a me ver compartilhando seus escritos (veja aqui, aqui ou aqui, por exemplo). Precisa, como sempre, ela aborda, nesse texto, os frequentes mal estares da cultura contemporânea. 


Exaustos-e-correndo-e-dopados

Eliane Brum
Fonte: El País
Nos achamos tão livres como donos de tablets e celulares, vamos a qualquer lugar na internet, lutamos pelas causas mesmo de países do outro lado do planeta, participamos de protestos globais e mal percebemos que criamos uma pós-submissão. Ou um tipo mais perigoso e insidioso de submissão. Temos nos esforçado livremente e com grande afinco para alcançar a meta de trabalhar 24X7. Vinte e quatro horas por sete dias da semana. Nenhum capitalista havia sonhado tanto. O chefe nos alcança em qualquer lugar, a qualquer hora. O expediente nunca mais acaba. Já não há espaço de trabalho e espaço de lazer, não há nem mesmo casa. Tudo se confunde. A internet foi usada para borrar as fronteiras também do mundo interno, que agora é um fora. Estamos sempre, de algum modo, trabalhando, fazendo networking, debatendo (ou brigando), intervindo, tentando não perder nada, principalmente a notícia ordinária. Consumimo-nos animadamente, ao ritmo de emoticons. E, assim, perdemos só a alma. E alcançamos uma façanha inédita: ser senhor e escravo ao mesmo tempo.
Como na época da aceleração os anos já não começam nem terminam, apenas se emendam, tanto quanto os meses e como os dias, a metade de 2016 chegou quando parecia que ainda era março. Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época. E já percebemos que essa condição humana um corpo humano não aguenta. O corpo então virou um atrapalho, um apêndice incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime, entra em pânico. E assim dopamos esse corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma velocidade não humana. Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados. Porque só dopados para continuar exaustos-e-correndo. Pelo menos até conseguirmos nos livrar desse corpo que se tornou uma barreira. O problema é que o corpo não é um outro, o corpo é o que chamamos de eu. O corpo não é limite, mas a própria condição. O corpo é.

Icarus, de David LaChapelle

Os cliques da internet tornaram-se os remos das antigas galés. Remem remem remem. Cliquem cliquem cliquem para não ficar para trás e morrer. Mas o presente, nessa velocidade, é um pretérito contínuo. Se a internet parece ter encolhido o mundo, e milhares de quilômetros podem ser reduzidos a um clique, como diz o clichê e alguns anúncios publicitários, nosso mundo interno ficou a oceanos de nós. Conectados ao planeta inteiro, estamos desconectados do eu e também do outro. Incapazes da alteridade, o outro se tornou alguém a ser destruído, bloqueado ou mesmo deletado. Falamos muito, mas sozinhos. Escassas são as conversas, a rede tornou-se em parte um interminável discurso autorreferente, um delírio narcisista. E narciso é um eu sem eu. Porque para existir eu é preciso o outro.
Há tanta informação disponível, mas talvez estejamos nos imbecilizando. Porque nos falta contemplação, nos falta o vazio que impele à criação, nos falta silêncios. Nos falta até o tédio. Sem experiência não há conhecimento. E talvez uma parcela do ativismo seja uma ilusão de ativismo, porque sem o outro. Talvez parte do que acreditamos ser ativismo seja, ao contrário, passividade. Um novo tipo de passividade, cheia de gritos, de certezas e de pontos de exclamação. Os espasmos tornaram-se a rotina e, ao se viver aos espasmos, um espasmo anula o outro espasmo que anula o outro espasmo. Quando tudo é grito não há mais grito. Quando tudo é urgência nada é urgência. Ao final do dia que não acaba resta a ilusão de ter lutado todas as lutas, intervindo em todos os processos, protestado contra todas as injustiças. Os espasmos esgotam, exaurem, consomem. Mas não movem. Apaziguam, mas não movem. Entorpecem, mas será que movem?
Sobre esse tema há um pequeno livro, precioso, chamado sugestivamente de Sociedade do Cansaço (Editora Vozes). Seu autor é o filósofo Byung-Chul Han, um coreano radicado na Alemanha que se tornou professor universitário de filosofia e estudos culturais em Berlim. Neste livro, Han faz um diálogo crítico com pensadores como Alain Ehrenberg, Giorgio Agamben, Michel Foucault, Hanna Arendt, Walter Benjamin e Friedrich Nietzsche, entre outros. Já meu diálogo com ele é por minha própria conta e risco. Sobre nossa nova condição, Han diz:
“A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são sociedades livres. Elas geram novas coerções. A dialética do senhor e escravo está, não em última instância, para aquela sociedade na qual cada um é livre e que seria capaz também de ter tempo livre para o lazer. Leva, ao contrário, a uma sociedade do trabalho, na qual o próprio senhor se transformou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”.
Veja o artigo na íntegra aqui.


Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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8 de junho de 2016

Simpósio do Instituto Sephora : Invenções e desmentidos: verdade, mentira e ficção.

Mais um evento legal acontecendo no segundo semestre! Esse é o Simpósio do Instituto Sephora de Ensino e Pesquisa de Orientação Lacaniana, pesquisa da Profª Tania Coelho dos Santos, do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ.

Até o dia 30 desse mês a comissão cientifica está aceitando propostas de trabalhos para serem apresentados nas mesas. Os trabalhos bem avaliados que não forem selecionados para a apresentação oral, serão convidados para publicação como artigo em aSEPHallus, Revista de Orientação Lacaniana. Veja as regras para envio no site.




INVENÇÕES E DESMENTIDOS: verdade, mentira e ficção

A inexistência do Outro e a ascensão do objeto a ao zênite da civilização nos convida a desfrutar das liberdades democráticas na sociedade hedonista de consumo. A cada um o direito de inventar e usufruir de seu corpo e de seu estilo de vida. Liberdade de redesignar o próprio sexo e de lançar mão de novas tecnologias reprodutivas para contornar os limites impostos pela natureza aos corpos biológicos. Invenções criativas ou simplesmente desmentidos do Outro simbólico? Afinal, o ideal individualista-consumista assenta-se sobre a lei de ferro do mercado que reduz todos os valores a objetos de consumo. Corpo, intimidade, laços sócio afetivos e até nosso próprio eu não passam de mercadorias que podemos sonhar em adquirir, exibir ou vender. A sociedade fragiliza-se, convidada a assimilar, incluir, acomodar-se ao crescimento dos direitos individuais e à invenção de cada um. Os interesses particulares aparelham politicamente o Estado e prevalecem amplamente sobre os interesses coletivos. Como analisar estes fenômenos sociais? Cinismo, canalhice ou esperteza banal? Diante de tantas evidências de uma topologia com direito e avesso, fomos levados a perguntar: o Outro não existe na contemporaneidade ou vivemos a época do desmentido generalizado do Outro? Como intervir neste debate com a psicanálise? Ou não devemos oferecer análise aos espertalhões?
Tania Coelho dos Santos (Presidente do ISEPOL)   

PROGRAMA COMPLETO DO EVENTO
Local:
South American Hotel
Rua Francisco Sá, 90 – Copacabana, RJ.

Data:
30 de setembro e 1º de outrubro/2016



30 de setembro – sexta-feira

13h  - Credenciamento e inscrições.
14h - Mesa de abertura:
• Analisando a esperteza política, suas mentiras des-lava-das e desmentidos veementes - Conversa entre Tania Coelho dos Santos e Jorge Forbes.
15h - Plenária 1:

• Invenções e desmentidos: reprodução biológica e filiação simbólica
• Novas tecnologias reprodutivas - Simone Perelson
• Filiação em psicanálise - Rosa Guedes Lopes

Mediadora: Andrea Martello
17h - Plenária 2:

• Invenções e desmentidos: sexo anatômico e gênero
• Transexualismo e redesignação de sexo - Maria Cristina Antunes
• Teoria do gênero e psicanálise - Marcus do Rio Teixeira
Mediadora: Leda Guimarães
19h - Conferência

• “Outro lacaniano, uma razão no Real”, por Dany-Robert Dufour
(Professor do Departamento de Filosofia de Paris 8)
20:30 - Coquetel e lançamento de livros

01 de outubro - sábado

Mesas simultâneas

9h às 10:30 - Feminismo e homofobia:

• Intolerância à diferença sexual
Mediadora: Patrícia Mattos

10:30 às 12h - Supervalorização da saúde:
• Intolerâncias alimentares e outros transtornos do corpo
Mediadora: Fernanda Saboya

9h às 10:30 - Direito à inclusão:

• Intolerância aos limites
Mediadora: Rachel Amin

10:30 às 12h - Desmentido banal ou perversão:

• Tolerância, jeitinho ou debilidade do simbólico
Mediador: Erly Alexandrino Neto

14:30 – Plenária 3: Invenções e desmentidos:

• Por que não analisar os canalhas?
• Para bom entendedor, meia psicanálise não basta - Fernanda Costa-Moura
• O desmentido como discurso na política brasileira - Felipe Moura Brasil
Mediador: Douglas Nunes Abreu

16:30 - Coffee breack

17h - Conferência de encerramento:

• Desmentido ou inexistência do Outro?  Tania Coelho dos Santos



Comissão científica: Maria Cristina Antunes, Rosa Guedes Lopes, Angélica Tironi, Fernanda Saboya, Douglas Abreu, Erly Alexandrino Neto.


Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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Jornadas Clínicas na Santa Casa, no Rio de Janeiro : A MÃE, A MULHER E OS SEMBLANTES DO FEMININO.

Só gente boa na Jornada Clínica da Santa Casa, que acontece no ultimo sábado de agosto e no primeiro sábado de setembro. O evento pretende discutir o feminino e a maternidade na contemporaneidade, passando por questões importantes como o uso e abuso de droga, sexuação, e a clínica na neurose e na psicose. 


SERVIÇO DE PSICANÁLISE EM ATENÇÃO À INFÂNCIA E À FAMÍLIA
III JORNADAS CLÍNICAS
A MÃE, A MULHER E OS SEMBLANTES DO FEMININO.
Questões Clínicas

DATAS: 27/08 e 03/09




Conferencistas

 27 de agosto
A mãe, a mulher e as questões da sexuação

Dr. Jésus Santiago
Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, doutorado e mestrado em Psicopatologia e Psicanálise pela Université de Paris VIII. Professor-Associado da Universidade Federal de Minas Gerais docente no Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Estudos Psicanalíticos.  Como psicanalista, atua principalmente nos seguintes temas: Lacan, psicoses, toxicomanias e novas compulsões, sexualidades contemporâneas e sintomas do mal-estar atual.  

03 de setembro
Os nomes das mães

Dr. Marcus André Vieira
Psiquiatra, psicanalista da Escola Brasileira de Psicanálise (da qual foi Presidente), doutor em Psicanálise ​pela Université de Paris VIII, prof. adjunto do departamento de Psicologia da PUC-Rio, coordenador do Digaí, projeto de atendimento na comunidade da Maré, autor de livros  e inúmeros artigos em revistas especializadas. Seu último livro tem por título Mães (Rio de Janeiro, Subversos, 2015). sitewww.litura.com.br

Comissão Científica - Coordenação por Eixo Temático
Psicanálise e Literatura - Carlos Eduardo Leal
Uso e Abuso de Drogas - Cláudia Henschel
A Clínica da Neurose - Cristina Duba e Maria Inês Lamy
A Clínica da Psicose - Cláudia de Paula e Fabio Malcher
A Clínica do Autismo - Ana Martha W. Maia e Jeanne Marie L. C. Ribeiro
Subjetividades Contemporâneas - Marcia Zucchi
Coordenação Geral - Silas Cabral Bourguignon

Inscrições até 25 de Julho
Alunos de graduação - R$180,00
Profissionais - R$200,00
Maiores informações: no site do evento

Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.


2 de junho de 2016

Evento gratuito na UFF: Pathos e Cultura


UFF - Campus Gragoatá, Niterói

O Laboratório Cidade e Poder organiza o Evento Pathos e Cultura, que vai acontecer no dia 03 de junho (sexta-feira) entre 8h e 18h na sala 510 do Bloco O - Campus do Gragoatá da UFF.
Confira a programação!

8h - Vulnerabilidade Psíquica, Violência e Poder em Casa Grande & Senzala
Marcia Barros Ferreira Rodrigues (UFES)
Debatedor: Marcelo Neder Cerqueira (LCP-UFF)
10h - A paranoia do Negro no Brasil após a escravatura: uma análise de Arthur Ramos ás implicações da degenerescência e miscigenação na relação de crime e punição
João Ezequiel Grecco/ Supervisor: Mario Eduardo da Costa Pereira
Debatedora: Cláudia Henschel de Lima (LAPSICON-UFF Volta Redonda e LCP-UFF)
14h - Religião, Pathos e Cultura: Casa Grande & Senzala, um projeto político salvífico para o Brasil?
Cláudio Marcio Coelho (PPGHIS/UFES)
Debatedor: Henrique Cesar Barahona Ramos (LCP-UFF)
16h – Pathos e potência criativa na arte: o caso da poética de Arthur Rimbaud.
Lohaine Jardim (UFES)
Debatedora: Ana Motta (LCP-UFF)

Local: Campus do Gragoatá.
Av. Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, Sala 510, Bloco O. Niterói – RJ
Tel. 21-2629-2942.
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE- ICHF