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6 de maio de 2020

Feliz aniversário, Dr. Freud!

Hoje Freud completaria 164 anos!

Para celebrar, recomendo a leitura do texto "Sobre a Transitoriedade", de 1916, onde Freud aborda a finitude, a morte e a decadência. Apesar dos termos, não se trata de um teto pessimista, ao contrário, pois o que ele destaca é que é justamente a transitoriedade das coisas, da beleza e da vida, que nos faz dar valor a elas...



“Sobre a Transitoriedade” (1916/1915) 

Não faz muito tempo empreendi, num dia de verão, uma caminhada através de campos sorridentes na companhia de um amigo taciturno e de um poeta jovem mas já famoso. O poeta admirava a beleza do cenário à nossa volta, mas não extraía disso qualquer alegria. Perturbava-o o pensamento de que toda aquela beleza estava fadada à extinção, de que desapareceria quando sobreviesse o inverno, como toda a beleza humana e toda a beleza e esplendor que os homens criaram ou poderão criar. Tudo aquilo que, em outra circunstância, ele teria amado e admirado, pareceu-lhe despojado de seu valor por estar fadado à transitoriedade.

A propensão de tudo que é belo e perfeito à decadência, pode, como sabemos, dar margem a dois impulsos diferentes na mente. Um leva ao penoso desalento sentido pelo jovem poeta, ao passo que o outro conduz à rebelião contra o fato consumado. Não! É impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte, do mundo de nossas sensações e do mundo externo, realmente venha a se desfazer em nada. Seria por demais insensato, por demais pretensioso acreditar nisso. De uma maneira ou de outra essa beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes de destruição.


Mas essa exigência de imortalidade, por ser tão obviamente um produto dos nossos desejos, não pode reivindicar seu direito à realidade; o que é penoso pode, não obstante, ser verdadeiro. Não vi como discutir a transitoriedade de todas as coisas, nem pude insistir numa exceção em favor do que é belo e perfeito. Não deixei, porém, de discutir o ponto de vista pessimista do poeta de que a transitoriedade do que é belo implica uma perda de seu valor.

Pelo contrário, implica um aumento! O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição. Era incompreensível, declarei, que o pensamento sobre a transitoriedade da beleza interferisse na alegria que dela derivamos. Quanto à beleza da Natureza, cada vez que é destruída pelo inverno, retorna no ano seguinte, do modo que, em relação à duração de nossas vidas, ela pode de fato ser considerada eterna. A beleza da forma e da face humana desaparece para sempre no decorrer de nossas próprias vidas; sua evanescência, porém, apenas lhes empresta renovado encanto. Um flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. Tampouco posso compreender melhor por que a beleza e a perfeição de uma obra de arte ou de uma realização intelectual deveriam perder seu valor devido à sua limitação temporal. Realmente, talvez chegue o dia em que os quadros e estátuas que hoje admiramos venham a ficar reduzidos a pó, ou que nos possa suceder uma raça de homens que venha a não mais compreender as obras de nossos poetas e pensadores, ou talvez até mesmo sobrevenha uma era geológica na qual cesse toda vida animada sobre a Terra; visto, contudo, que o valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta.

Essas considerações me pareceram incontestáveis, mas observei que não causara impressão quer no poeta quer em meu amigo. Meu fracasso levou-me a inferir que algum fator emocional poderoso se achava em ação, perturbando-lhes o discernimento, e acreditei, depois, ter descoberto o que era. O que lhes estragou a fruição da beleza deve ter sido uma revolta em suas mentes contra o luto. A ideia de que toda essa beleza era transitória comunicou a esses dois espíritos sensíveis uma antecipação de luto pela morte dessa mesma beleza; e, como a mente instintivamente recua de algo que é penoso, sentiram que em sua fruição de beleza interferiam pensamentos sobre sua transitoriedade.




O luto pela perda de algo que amamos ou admiramos se afigura tão natural ao leigo, que ele o considera evidente por si mesmo. Para os psicólogos, porém, o luto constitui um grande enigma, um daqueles fenômenos que por si sós não podem ser explicados, mas a partir dos quais podem ser rastreadas outras obscuridades. Possuímos, segundo parece, certa dose de capacidade para o amor – que denominamos de libido – que nas etapas iniciais do desenvolvimento é dirigido no sentido de nosso próprio ego. Depois, embora ainda numa época muito inicial, essa libido é desviada do ego para objetos, que são assim, num certo sentido, levados para nosso ego. Se os objetos forem destruídos ou se ficarem perdidos para nós, nossa capacidade para o amor (nossa libido) será mais uma vez liberada e poderá então ou substituí-los por outros objetos ou retornar temporariamente ao ego. Mas permanece um mistério para nós o motivo pelo qual esse desligamento da libido de seus objetos deve constituir um processo tão penoso, até agora não fomos capazes de formular qualquer hipótese para explicá-lo. Vemos apenas que a libido se apega a seus objetos e não renuncia àqueles que se perderam, mesmo quando um substituto se acha bem à mão. Assim é o luto.

Minha palestra com o poeta ocorreu no verão antes da guerra. Um ano depois, irrompeu o conflito que lhe subtraiu o mundo de suas belezas. Não só destruiu a beleza dos campos que atravessava e as obras de arte que encontrava em seu caminho, como também destroçou nosso orgulho pelas realizações de nossa civilização, nossa admiração por numerosos filósofos e artistas, e nossas esperanças quanto a um triunfo final sobre as divergências entre as nações e as raças. Maculou a elevada imparcialidade da nossa ciência, revelou nossos instintos em toda a sua nudez e soltou de dentro de nós os maus espíritos que julgávamos terem sido domados para sempre, por séculos de ininterrupta educação pelas mais nobres mentes. Amesquinhou mais uma vez nosso país e tornou o resto do mundo bastante remoto. Roubou-nos do muito que amáramos e mostrou-nos quão efêmeras eram inúmeras coisas que consideráramos imutáveis.

Não pode surpreender-nos o fato de que nossa libido, assim privada de tantos dos seus objetos, se tenha apegado com intensidade ainda maior ao que nos sobrou, que o amor pela nossa pátria, nossa afeição pelos que se acham mais próximos de nós e nosso orgulho pelo que nos é comum, subitamente se tenham tornado mais vigorosos. Contudo, será que aqueles outros bens, que agora perdemos, realmente deixaram de ter qualquer valor para nós por se revelarem tão perecíveis e tão sem resistência? Isso parece ser o caso de muitos de nós; só que, na minha opinião, mais uma vez, erradamente. Creio que aqueles que pensam assim, de e parecem prontos a aceitar uma renúncia permanente porque o que era precioso revelou não ser duradouro, encontram-se simplesmente num estado de luto pelo que se perdeu. O luto, como sabemos, por mais doloroso que possa ser, chega a um fim espontâneo. Quando renunciou a tudo que foi perdido, então consumiu-se a si próprio, e nossa libido fica mais uma vez livre (enquanto ainda formos jovens e ativos) para substituir os objetos perdidos por novos igualmente, ou ainda mais, preciosos. É de esperar que isso também seja verdade em relação às perdas causadas pela presente guerra. Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos as riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes.



Fernanda Pimentel é psicanalista, professora e pesquisadora. Doutora em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

3 de fevereiro de 2020



"A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz como o são umas poucas palavras boas"
S. Freud

Ilustração: Tute



Fernanda Pimentel é psicanalista, professora e pesquisadora. Doutora em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ
e investigas os temas relativos 
à psicanálise na atualidade e à clínica contemporânea. 

22 de abril de 2019

A conceito de gozo para Lacan


O conceito de gozo para Lacan é fonte de diversos equívocos. Não só pela dificuldade teórica, mas também pelas metamorfoses que o conceito sofre ao longo do ensino de Lacan.
Para começar a pensar a noção de gozo, recomento o vídeo do Christian Dunker, que traz algumas colocações básicas. 








Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.


20 de novembro de 2018

Filosofia, sociologia e psicanálise em curtas de animação

Já imaginou aprender filosofia vendo desenho? A empresa especializada em educação online Macat produziu uma série de curtas de animações sobre as principais teorias de grande pensadores da humanidade. Ao todo, são 136 vídeos com duração de aproximadamente três minutos cada, numa linguagem super acessível! 
Os temas abordados são bastante amplos, contemplando desde a filosofia clássica e a moderna, psicanálise, ciência, sociologia e política,  como Foucault, "Discipline and Punish"; Charles Darwin, em “A Origem das Espécies”; Sun Tzu, “Arte da Guerra”; Aristóteles, “Política”; Henry David Thoreaus, “A Desobediência Civil”; Sigmund Freud, “A Interpretação dos Sonhos”; Virgina Woolf, “Um Teto Todo Seu”; Max Weber, “A Política como Vocação”; Thomas Hobbes, “Leviatã”; Immanuel Kant, “Crítica da Razão Pura”; Friedrich Hegel, “Fenomenologia do Espírito”; Levy Strauss, “Antropologia Estrutural”; Karl Marx, “O Capital”; Friedrich Nietzsche, “Para Além do Bem e do Mal”; Hannah Arendt “A condição Humana”; Simone de Beauvoir, “O Segundo Sexo”; Judith Butler, "Gender Trouble" e muitos outros.
Todos eles foram disponibilizados gratuitamente no canal da instituição, mas estão estão disponíveis apenas em inglês. 
Clique no link aqui para acessar a lista de curtas!


Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.

13 de março de 2018

Pos graduação em Psicanálise da Celso Lisboa

Quando o projeto é bom, a gente faz questão de divulgar! Faço parte do corpo docente da Pós graduação em Psicanálise e assino embaixo quanto à seriedade, comprometimento com a psicanálise e com os alunos. 

A próxima turma começa em abril e as aulas acontecem de quinze em quinze dias, aos sábados.  
As inscrições devem ser feitas diretamente com o Prof. Leonardo Miranda, coordenador do curso, no telefone (21) 99389-0932.
Os alunos indicados pelos professores têm 50% de desconto na mensalidade!




29 de abril de 2016

Diálogos em Curitiba

Esse sábado tem Diálogos do Lacaneando em Curitiba!






Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

1 de julho de 2015

'Sempre que a gente fala de dinheiro a gente fala de sexo! '




Por que a nossa vida financeira é segredo?
O GNT convidou o psicanalista Jorge Forbes para nos ajudar a entender por que 'travamos' na hora de falar de dinheiro. No 'Papo de Segunda', o especialista logo diz: "Sempre que a gente fala de dinheiro a gente fala de sexo". Por que será? O programa discute se é mais difícil falar de dinheiro do que de sexo.
Entenda no trecho da entrevista abaixo.
http://gnt.globo.com/…/sempre-que-gente-fala-de-dinheiro-ge…


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.

 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
http://fernandapimentel.com.br

4 de fevereiro de 2015

Freud em quadrinhos

A Psicanalista e historiadora Corinne Maier e a cartunista Anne Simon trabalharam juntas na biografia em quadrinho que conta a vida e o legado de Sigmund Freud. 
Apesar do formato irreverente, as informações contam com o maior rigor histórico-científico. Os casos de Freud, assim como alguns conceitos mais controversos são abordados de forma séria e ao mesmo tempo muito divertida.
Confira algumas imagens!

 





Escrevendo este post também encontrei Biografia Gráficas de Richard FeynmanCharles DarwinHunter S. Thompson, e Steve Jobs.

Fonte: Brain Pickings

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.

 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.
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2 de fevereiro de 2015

Dica ViaFreud

Garimpando textos e referencias encontrei o blog Psicoanálisis Inédito que se dedica a divulgar e compartilhar textos inéditos da Psicanálise de orientação Lacaniana, como transcrições de entrevistas e intervenções pouco conhecidas, conferências e seminários não estabelecidos e artigos nunca antes divulgados.



Espaço para acompanharmos o trabalho de autores como Eric Laurent, Marie-Hélène Brousse, Esthela Solano-Suárez, Jaques-Alain Miller, Serge Cottet, François Ansermet e outros

Dos mais lidos, o blog destaca "El retorno de la blasfemia", Jaques-Alain Miller, escrito a partir do atendado a Charlie Hebdo; "Neurosis y Psicosis - donde comienza lo anormal", entrevista onde Lacan fala do disgnóstico diferencial para uma revista médica em 1968 e "Los autistas, sus objetos, sus mundos",  transcrição de uma conferência de Eric Laurent na UBA em 2013.


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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2 de outubro de 2014

Roudinesco lança nova biografia de Freud

Nova biografia de Freud, escrita pela historiadora Elisabeth Roudinesco, é lançada no Brasil e a autora vem ao Rio para conferência na UERJ!O encontro acontece no dia 6 de outubro, as 17 ha, no Instituto de Psicologia.

Veja a entrevista de Roudinesco para o jornal O Globo


"PARIS - A vida e a obra de Sigmund Freud (1856-1939), o criador da psicanálise, foram objetos de uma enormidade de estudos. Mais uma biografia, hoje, do célebre autor de “Interpretação dos sonhos” e “Totem e tabu”? Para a historiadora da psicanálise Elisabeth Roudinesco, a escrita de seu “Sigmund Freud — dans son temps et dans le nôtre” (Sigmund Freud — em seu tempo e no nosso) foi uma “imposição”. Com acesso aos novos arquivos abertos pela Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos, a autora francesa mergulhou na vida e obra do biografado com a intenção de mostrar que Freud é um produto de seu tempo e, ao mesmo tempo, revelar verdades sobre as “lendas negras e douradas” edificadas sobre o personagem. O livro foi lançado este mês na França, pela editora Seuil, e tem publicação prevista no Brasil para 2015, pela Zahar.
Crítica severa de uma psicanálise a-histórica, Roudinesco condena a percepção da obra de Freud isolada do contexto de sua época, estudada como um corpus clínico à parte do mundo em que foi elaborada. Somado a isso os repetidos ataques protagonizados nos últimos 30 anos pelos “antifreudianos radicais”, hoje não se sabe mais quem é Freud, sustenta a autora em entrevista ao GLOBO em sua casa, em Paris.
Desde a primeira biografia de Freud, de autoria de Fritz Wittels, em 1924, passando pelos três volumes de “Vida e obra de Sigmund Freud”, de Ernest Jones, publicados entre 1953 e 1957 (lançados no Brasil pela Zahar), uma miríade de teses e ensaios foi produzida nos mais variados idiomas, entre os quais o título de referência “Freud: uma vida para o nosso tempo”, de Peter Gay, de 1988 (Companhia das Letras). O minucioso trabalho de 592 páginas de Roudinesco é reivindicado como a primeira biografia francesa do personagem, com uma nova abordagem e distanciamento de um Freud definido como um “conservador rebelde” e criador de uma “revolução simbólica” em um movimento que se perpetua.
Elisabeth Roudinesco será a principal convidada da “IX Jornada Bianual do Contemporâneo”, promovida pelo Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade, nos próximos dias 3 e 4, em Porto Alegre. No dia 6, estará no Rio para falar sobre “A psicanálise na situação contemporânea”, às 9h, no Instituto de Psicologia da Uerj. O Brasil, para ela, é hoje o “país mais freudiano do mundo”.

Por que Freud e este livro hoje?
A necessidade se fazia sentir ao longo de um certo tempo de renovar a abordagem de Freud. Sou o primeiro autor francês a fazê-lo, e o último de um longa série. E o primeiro a ir aos arquivos e utilizá-los de uma outra forma. É verdade também que o fim de um ciclo de ondas sucessivas de ódio a Freud, de lendas negativas, de livros negros, já faz 25 anos. Se foi muito longe no antifreudianismo, e se chegou a um ponto em que a opinião pública já estava farta de que se tratasse Freud de nazista, de incestuoso, de canalha. Era preciso restabelecer um pouco de verdade. Eu me dediquei a isto. Os psicanalistas nadam no anacronismo, na interpretação abusiva, porque para eles o contexto histórico não existe. Quis mostrar bem que Freud nasceu num mundo no qual não havia eletricidade, em que a promiscuidade de membros de uma mesma não era a mesma de hoje. Quando ele conta sua vida cotidiana, seja na “Interpretação dos sonhos” ou em outros escritos, é um dia a dia diferente de hoje. Freud foi criado numa família grande, com muitos empregados, sem água corrente. Ele vive nesta promiscuidade em que pode realmente elaborar a teoria dos substitutos. Quando ele vê suas cinco irmãs, vê sua mãe ou seu pai. Há modelos familiares que estão acabando no momento em que teoriza isto. Tive sempre a preocupação de o imergi-lo em seu contexto histórico, e de mostrar que ele e sua obra são um produto de seu tempo."

Read more: http://oglobo.globo.com/cultura/livros/nova-biografia-de-freud-escrita-pela-historiadora-elisabeth-roudinesco-lancada-na-franca-14057290#ixzz3EzK4g8dJ


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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29 de agosto de 2014

E se Freud tivesse atendido o "Pequeno Hitler"?

De acordo com historiadores da Psicanálise, Sigmund Freud teria sido consultado pelo médico da família Hitler, Dr. Ernest Bloch, sobre a instabilidade, condutas inapropriadas e terríveis pesadelos do pequeno Adolf, então com 6 anos. 
A recomendação foi "internação e tratamento" em uma instituição para crianças em Viena. Contudo, temendo que a equipe médica descobrisse os maus tratos sofridos pelo menino, o pai não seguiu a recomendação médica.


                                                                       Pequeno Hitler

Será que se o pequeno führer tivesse recebido o tratamento adequado, a história da humanidade poderia ter sido diferente? A Psicanálise poderia mudar o destino traçado pelo pai tirano?

E se Freud tivesse atendido Hitler? Teríamos acesso ao caso do "Pequeno Adolf", publicado em alguns dos 24 volumes de sua obra, como temos do "Pequeno Hans"? 





Veja a matéria de Enfoques:


La pesadilla de Hitler

Según un estudio reciente, en 1895 Sigmund Freud habría recomendado que el futuro Führer, entonces de años, fuera internado en un instituto de salud mental para ser tratado por su conducta patológica.
Mostruos y abismos invadían cada noche los sueños del pequeño Adolf
Un muchachito austríaco de seis años y gesto desafiante, el mentón elevado y la mirada firme, las piernas abiertas, los brazos cruzados, algo diferente del resto de sus compañeros de colegio, cambió con el tiempo la historia de Europa.
Hijo de Alois, un funcionario de aduana, y de Klara, una sufrida ama de casa, en 1895 Adolf Hitler no representaba nada, para el poder de Guillermo II en Alemania ni para el de Francisco José I, monarca del imperio austrohúngaro. Después de todo, sólo se trataba de un pequeño escolar que suficientes problemas ya tenía en su casa como para preocupar a tan importantes personajes que en aquellos días continuaban decidiendo el destino de gran parte del mundo, ya que sus guerras y reconciliaciones, sus tratados y sus ambiciones tenían un impacto profundo más allá de las fronteras, hasta ultramar.
Una reciente investigación realizada en Londres por el escritor de televisión Laurence Marks, que tuvo la colaboración de John Forrester, estudioso de Sigmund Freud y su obra, indica que el padre del psicoanálisis recomendó en 1895 que el pequeño Adolf fuese internado a los seis años en un instituto de salud mental para niños de Viena...

Conteúdo completo aqui

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4 de agosto de 2014

100 anos de "Introdução ao Narcisismo"

Era 'selfie' mantém atualidade de livro centenário de Freud sobre narcisismo

'Introdução ao narcisismo' forjou base para reformular teoria psicanalítica. Psicanalista identificou pontos positivos entre os narcisistas.




Na época em que o selfie e as redes sociais estão em alta, o livro ‘Introdução ao narcisismo’, um dos textos mais importantes de Sigmund Freud, completa 100 anos e se mantém atual. Na obra, o pai da psicanálise cunhou conceitos que serviram de base para a reformulação de toda a teoria psicanalítica. Associado a algo estritamente negativo, o narcisismo foi valorizado. “Sem uma pequena dose de narcisismo, você não sai nem de casa”, destaca o comentarista de comportamento do Estúdio i, o psicanalista Felipe Pena.
Entre os pontos positivos do narcisismo estão a capacidade de qualificar as próprias ambições e aspirações e a normatização dos ideais. “Você consegue entender o que é ou não factível”, diz Pena. Por outro lado, o narcisista pode ser incapaz de relacionar com os outros, chegando a depreciá-los.
O psicanalista diz que é possível identificar os narcisistas pelo sentimento de vazio e depressão que sentem ao não conseguir ter uma vida relacional. “É preciso separar o egocêntrico do egocentrado. O egocêntrico é o que não valoriza os outros. O egocentrado é aquele que valoriza a si próprio”, explica o comentarista.
Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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26 de fevereiro de 2014

XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano.

O ano sempre começa com a divulgação de grandes eventos...
Já tinha comentado aqui sobre o VI Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental, que acontecerá de 4 a 6 de setembro, em Belo Horizonte, e agora é a vez XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que também será em BH, nos dias 21, 22 e 23 de novembro.




"O Encontro Brasileiro do Campo Freudiano é sempre uma renovação da transferência de trabalho que une os mais diferentes pontos do Brasil em torno da psicanálise de orientação lacaniana. A escolha dos temas é sempre focada na lâmina cortante da psicanálise pura e seus efeitos de transmissão e formação da atual e das futuras gerações de psicanalistas. Trauma nos corpos, violência nas cidades é o tema proposto para essa edição. Belo Horizonte nos acolhe para estabelecer um grande debate sobre o tema, sem perder de vista a especificidade de trazê-lo para a Escola Brasileira de Psicanálise. Em um mundo onde os significantes Trauma e Violência estão tão cotidianamente ligados às notícias da última hora, propomos acrescentar dois significantes muito caros à Lacan: Angústia e Segregação. Assim, trauma e violência são dois modos de abordar a inquietante alteridade que nos assombra - e que não cessa de fazer sua irrupção - tanto em nossa relação com o corpo, no caso da angústia, quanto na relação com o Outro, no caso da segregação. Fica então o desafio: onde localizar o mal?


8 de janeiro de 2014

Entrevista com Elizabeth Roudinesco: 'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'

Com a clareza que lhe é peculiar, Elizabeth Roudinesco fala sobre a psicanálise na atualidade e no Brasil, sobre psiquiatria e psicofarmacologia e, é claro, sobre seu livro "Em Defesa da Psicanálise", que tem lançamento previsto para outubro no Brasil.
A entrevista foi publicada no Estadão. 


'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'


PARIS - Poucos intelectuais traduziram tão bem sua época como Sigmund Freud fez com o século 20. Em sua obra, estão expressas as bases de conceitos tão poderosos e, ao mesmo tempo, tão legíveis, que se tornaram parte do cotidiano com a velocidade característica de sua época. É o caso do inconsciente - um conceito já elaborado nos séculos 18e 19 por autores como Leibniz e Edward von Hartmann. Reinterpretada por Freud, a ideia de que o que falamos pode ter significados ocultos que fogem à esfera da consciência e, portanto, ao nosso domínio, é hoje reconhecível por todos.  

     
Resumir seu pensamento a esse conceito, porém, é limitar uma obra enérgica e influente, alerta Elisabeth Roudinesco. Psicanalista, historiadora, docente, escritora, discípula de Jacques Lacan, amiga de Jacques Derrida, Elisabeth é, aos 64 anos recém-feitos, um dos pensadores vivos mais importantes de sua área, a psicanálise - um dos legados de Freud à humanidade. Segundo a intelectual marxista, o médico neurologista convertido em gênio está por trás, de uma forma ou de outra, de todas as formas de emancipações vividas pela sociedade do século 20, das quais o feminismo e a liberação sexual são só dois exemplos evidentes.
Estamos a 70 anos da morte de Freud. O que ainda é tão representativo em sua obra? Por que ele é uma referência para a própria humanidade?
Ele é o único a ter teorizado, assim como seus herdeiros, o que chamamos de inconsciente. Não falo do subconsciente nem do inconsciente dos psicólogos. Eu me refiro ao inconsciente, que pode ser traduzido pela noção de que, quando alguém fala, não sabe o que diz. Há milhões de exemplos concretos, como o ministro do Interior da França (Brice Hortefeux), que fez declarações racistas na semana passada. Conscientemente, ele não é racista. Inconscientemente, sim. Mas julgamos alguém por seu inconsciente? Sim, se ele é ministro. Mas, via de regra, não podemos enviar alguém aos tribunais por seu inconsciente. Podemos dizer: "Comporte-se!" Muitas pessoas são inconscientemente racistas e antissemitas. Quando não há lei, esses sentimentos se exprimem.

Leia Mais:http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,psicanalise-e-a-medicina-da-alma-do-nosso-seculo,437434
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Leia a entrevista completa aqui



Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

23 de setembro de 2012

21 de setembro de 2012

A prevalência das mulheres nas redes sociais: “democratização” da representação feminina


Facebook, o novo espelho de Narciso
As mulheres estão se tornando maioria nas redes interativas; a vaidade e a necessidade de afirmação da identidade podem explicar o interesse feminino por esse recurso tecnológico


As mulheres gastam mais do que o dobro do tempo dos homens no Facebook: três horas por dia, enquanto eles gastam uma hora, em média. Entrar na rede social é a primeira ação diária de muitas delas, antes mesmo de irem ao banheiro ou escovarem os dentes. Uma atividade cumprida como um ritual todos os dias – e noites. Em um estudo, 21% admitiram que se levantam durante a noite para verificar se receberam mensagens. Dependência? Cerca de 40% delas já se declaram, sim, dependentes da rede. Elas são a maioria não só no Facebook (onde representam 57% dos usuários); também têm mais contas do que os homens em 84% dos 19 principais sites de relacionamentos.


Essas são algumas revelações da pesquisa feita pelas empresas Oxygen Media e Lightspeed Research, que analisou os hábitos on-line de 1.605 adultos ao longo de 2010. Mas cabe ainda perguntar: que motivos levam as mulheres a ficar tanto tempo na frente do computador? Vaidade? Necessidade de reconhecimento? Seria esse fenômeno uma nova forma de autoafirmação? Uma maneira de desenvolver sua individualidade aliada ao reconhecimento do outro? Será essa uma nova forma de buscar sociabilização? 


Mais do que procurar uma resposta fácil, cabe, antes, compreender por que a auto-representação é mais importante para as mulheres que para os homens. Historicamente as representações femininas foram fabricadas por motivações sociais diversas: míticas, religiosas, políticas, patriarcais, estéticas, sexuais e econômicas. E, há mais de vinte séculos, essa fabricação esteve sob o poder masculino. As mulheres não produziam suas próprias imagens, eram retratadas. 


Em obras de arte célebres vemos inúmeras Vênus adormecidas, (como as de Giorgione, 1509; Ticiano, 1538 e Manet, 1863); Madonas castas (nas imagens religiosas das catedrais católicas como as pintadas por Giotto, no século13, e Botticelli, no 15) ou mulheres burguesas no espaço doméstico cuidando da cozinha e da educação dos filhos (como as pintadas por Rapin e Backer no século 19). Eram cenas “pedagógicas”, que ensinavam o valor da maternidade, da castidade, da beleza e da passividade.


O pano de fundo dessas produções artísticas era uma tentativa masculina de “gerenciar” o imaginário feminino, transmitindo sugestões sobre a conduta social desejada até uma estética sexual e familiar. Como enfatiza a historiadora Anna Higonnet “os arquétipos femininos eram muito mais do que o reflexo dos ideais de beleza; eles constituíam modelos de comportamento”. Sua capacidade de persuasão era ativada pelo contexto cultural. Um exemplo pontual, mas significativo, pode ilustrar essa hipótese. O nu é quase sinônimo do “nu feminino”. Do Império Romano, passando pelo Renascimento, pela Modernidade e até os dias de hoje, o corpo da mulher reflete os ideais estéticos predominantes.

vênus adormecida, óleo sobre tela, giorgione, 1508-10, galeria dos grandes mestres da pintura
A estética feminina foi estabelecida, durante muitos séculos, pelo olhar masculino; as obras de arte tinham cunho “pedagógico”, com a intenção de ensinar como as mulheres deveriam ser

A historiadora francesa Michelle Perrot chegou a afirmar que “a mulher é, antes de tudo, uma imagem”. Aqui sua ênfase é irônica. Refere-se a uma forma de retratar que associava os cuidados com o corpo, os adornos, as vestimentas e a beleza em geral à atividade, ou melhor, à ociosidade tipicamente feminina”, enquanto os homens deveriam se ocupar de tarefas consideradas sérias: política, economia e trabalho.


Quando a era moderna pareceu, enfim, trazer a emancipação da mulher, a conquista revelou-se contraditória. Estar na moda, ser magra, bem-sucedida e boa mãe tornou-se uma exigência. Com a ajuda do photoshop, top models, estrelas de televisão e cantoras exibem nos meios de comunicação o êxito que conquistaram em todos os aspectos do sucesso – o que, na prática, nem sempre é verdade. Elas, em geral, são tão “irreais” quanto a Vênus grega. A verdade é que a mídia veicula uma série de estereótipos sobre como agir que se tornam um peso para a mulher. Não devemos nos esquecer de que quem assume o comando é o mercado interessado em vender roupas, revistas e produtos destinados ao público feminino – e não propriamente a mulher. Assim, mesmo no século 20, quando pareciam ganhar “autonomia”, elas passaram a ser atormentadas por padrões estabelecidos por outra base imaginária: a do consumo.


O que muda no século 21 para as mulheres que utilizam as redes sociais? Quanto à importância da imagem, nada. Ela -continua a ter papel central para a identidade social feminina, confundindo-se com ela. Por outro lado, vivemos, sim, uma revolução: pela primeira vez a mulher passa a se autorrepresentar, a produzir representações de si publicamente. Essa produção não está mais sob o domínio exclusivo dos homens, nem restrita a um grupo de mulheres como as artistas (atrizes, fotógrafas, cineastas, pintoras, escultoras etc.) ou as modelos. As mulheres comuns tornam-se protagonistas de sua vida. Chegam a dispensar a ajuda de outra pessoa para tirar a própria foto: estendem o braço e miram em sua própria direção. Algumas marcas de câmeras fotográficas desenvolveram inclusive um visor frontal para que a pessoa possa ajustar o foco caso use o equipamento para se fotografar.


A mulher “hipermoderna” reivindica algo novo: o seu protagonismo público e sua “autenticidade”. O que se soma, agora, à revolução tecnológica da sociedade capitalista. Com acesso facilitado a câmeras digitais, a telefones móveis que dispõem desse equipamento e à rede, além da existência de uma plataforma que dá suporte ao armazenamento e oferece possibilidades ao usuário para compartilhar essas imagens pela internet, a mulher passa a se autofotografar nas mais diversas ocasiões, de situações corriqueiras a viagens. Nas palavras do filósofo Gilles Lipovetsky: “O retrato do indivíduo hipermoderno não é construído sob uma visão excepcional. Ele afirma um estilo de vida cada vez mais comum, ‘com a compulsão de comunicação e conexão’, mas também como marketing em de si, cada um lutando para ganhar novos ‘amigos’ para destacar seu ‘perfil’ por meio de seus gostos, fotos e viagens. Uma espécie de autoestética, um espelho de Narciso na nova tela global”.

Nesse novo ambiente o artificialismo e a mistificação da imagem passam a ser “out”. Deusas etéreas cedem espaço a mulheres que querem ser vistas como “reais”: escovam os dentes, fazem caretas para a câmera, dirigem seu carro e não se importam em ser fotografadas em momentos que antes estariam à margem da esfera pública. Tanto que 42% das usuárias do Facebook admitem a publicação de fotos em que estejam embriagadas e 79% delas não veem problemas em expor fotos em que apareçam beijando outra pessoa. A regra é: quanto mais caseiro, “mais natural”; melhor. O que não significa que essa imagem seja, efetivamente, “natural”, mas que há agora um “gerenciamento da espontaneidade”.


O imperativo da representação feminina nas redes sociais é: “seja espontâneo”. Uma norma paradoxal, assim como a afirmação “seja desobediente, é uma ordem”, escreve o sociólogo Régis Debray. Ele faz uma interessante leitura do que poderíamos chamar de “ditadura da espontaneidade”. Segundo o autor, abandonamos o culto da morte, vivido pelas sociedades tradicionais e religiosas, para vivermos o “culto da vida pela vida” – uma espécie de “divinização do que é vivo” que se apoia no eterno presente e não mais em uma crença no além.


Vemos emergir mulheres que cultuam o que veem no espelho e postam, “religiosamente”, novas imagens de seu cotidiano – sem que tal culto resulte em algum tipo de censura externa ou de autocensura moral. Em outro contexto, como durante o período em que a religião católica era dominante, esse “culto de si
 e ao corpo seria considerado um dos sete pecados: a vaidade. Esse imaginário, aliás, é muito bem representado por um quadro do séc. 15, de Hieronymus Bosch, no qual o demônio segura um espelho para que uma jovem se penteie.


Hoje o novo espelho global não é marcado pela vigilância moral. Ao contrário, há um contínuo incentivo da cultura para que as mulheres “se valorizem”, busquem sua singularidade e não se baseiem mais em modelos inalcançáveis (como as top models e outras famosas). E para que percebam em si mesmas uma possibilidade legítima e singular de ser no mundo.
A própria familiaridade e aproximação da mulher com o universo da produção de auto-representações pode levá-la a questioná-las. As mulheres já estão, como escreve Lipovetsky em seu livro A tela global, “cultivadas” pela mídia. Educadas em sua gramática, sabem que o photoshop, a produção e a edição das imagens criam uma mulher irreal e passam a ver essas representações “entre aspas”, distanciando-se criticamente delas. Elas aprendem com recursos autoexplicativos a modelar sua iconografia, a alterá-la, brincar com ela ou melhorá-la (possibilidades, antes, restritas aos profissionais).


Mas a consagração do “culto de si” não significou um isolamento da mulher. Os álbuns publicados nas redes sociais conciliam, contra todas as expectativas, o individualismo e as trocas. Um se alimenta do outro. Há um ciclo: exponho minha individualidade, acompanho a do outro e ele a minha e, assim, somos incentivados a produzir e expor, cada vez mais, as nossas imagens. Trata-se do nascimento de uma “identidade coletiva”, em que a individualidade não elimina a interação, mas é seu motor. Nesse sentido, a identidade coletiva não é produto apenas de uma adesão grupal e sim uma forma de negociação de posições subjetivas – esse é o paradoxo identitário a ser considerado.


Fotos pessoais e “amigos” virtuais (ou não) ditam o ritmo desse espaço interativo. Quanto mais caseiro, mais cotidiano, mais espontâneo, maior o número de relações entre as pessoas, que passam a valorizar a autenticidade e a vida de quem é “próximo”, “real”. Há, na base desse fenômeno, uma democratização dos desejos de expressão individual na medida em que as mulheres buscam conquistar espaços de autonomia pessoal – que traduzem a necessidade de escapar à simples condição de consumidoras daquilo que outros produzem. Elas querem colocar seu rosto no mundo. Aparecer ou não na “tela global” passa a ser uma questão de existência. Por essa razão, ter visibilidade e oferecer sua identidade publicamente é conferir importância à própria existência. O que é, também, uma forma de poder. Nesse ponto a mídia – como campo de visibilidade – passa a ter papel central para entendermos a luta simbólica pelo reconhecimento.


No entanto, essa “democratização” da auto-representação feminina não deve ser tomada como sinônimo do fim da competição estética e ética entre as mulheres. O que tudo indica, o que presenciamos não é a instauração de uma igualdade, mas a ampliação do número de mulheres na disputa por visibilidade e poder. Amplia-se, assim, a arena para buscar um poder que não está dado de antemão, mas que deve ser conquistado e manejado pela apresentação e representação de suas singularidades, de suas diferenças. Um agir que se manifesta na criação, no controle e no poder simbólico de sua própria imagem no espaço público, que só se realiza com o reconhecimento do outro nas interações sociais, associativas e na ampliação dos círculos de reconhecimento que estão dentro e fora do espaço de produção da imagem.