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29 de maio de 2009

Li e adorei...

Comida, substantivo feminino
Cresci sob o paradigma do feminismo. Questionar a igualdade dos sexos seria idiota.

Dirijo um carro, comando equipes, pago contas, faço sexo, assisto futebol, troco lâmpada, fusível, disjuntor e resistência. Faço jogo político, bebo cerveja, como fritura e lavo o carro - com cera, anti-chuva, silicone e pneu pretinho.

Na mitologia grega, o símbolo do casamento são duas pessoas de costas uma para a outra. Uma carrega uma espada, a outra, um espelho. A interpretação mostra que a paz de uma casa depende de dois mundos: o externo, de onde vêm as provisões e inimigos como ladrões e ameaças da natureza; e o interno, de onde vêm o repouso, a inspiração, a energia e inimigos como auto-sabotagem, conflitos e angústias. Os inimigos externos são combatidos à lança; os internos precisam ser vistos ao espelho.

A despeito de todo esse significado, a espada de Hermes (Marte, para os romanos) e o espelho de Afrodite (Vênus) estampam bolinhas com setas e cruzes em portas de banheiro. E há quem diga que o espelho é o ícone da mulher por causa da preocupação com a aparência.

O fato é que as mulheres - vaidosas ou não - assumiram funções masculinas. E os homens continuam homens. Enquanto ambos estão em campo, lutando pela sobrevivência, quem vigia os lares? Quem cuida do corpo, das crenças, das relações? Os inimigos internos são tão reais e perigosos como os outros e estão cada vez mais na moda.

Prestei consultoria a uma super executiva recentemente. Ela trajava um vestido rosa lindo, com um laço. Um soldado de sapatilhas.

Eram 22h. Havia chegado há pouco do trabalho, tão corrido que nem almoçou. Acontece muito. O marido comeu na rua. Ele nunca janta. Ninguém janta, aliás. A família, com dois filhos em fase de crescimento, nunca se reúne à mesa numa refeição caseira. Comida só na rua, só de rua. Mastigam coxinhas, salgadinhos, enroladinhos, hot pocket, pizza, japonês, chinês, bolacha e chocolate. Muito chocolate.

Por milênios, a mulher teve a incumbência de preparar os alimentos e tratar da plantação. Comida é assunto de mulher. Serve para alimentar, acalentar, seduzir, acordar, relaxar... necessidades do mundo interior.

De que são nutridos o corpo e o espírito das nossas crianças? De eletrônicos caríssimos, comprados com jornadas de trabalho cada vez maiores? Não quero desesperar as mães, já tão supra-atarefadas e culpadas, sendo homem e mulher tudo junto agora, na medida do impossível. Haja chocolate!

A modernidade está em débito com o feminino. A conta é cobrada em forma de confusão, isolamento, depressão, traumas, vazios, violência, obesidade, anorexia, anemia, hipertensão, diabetes.

Ter uma carreira foi um desafio para nossas mães e avós. Posso imaginar como foi duro, mas seu legado chegou a nós. Encontrar sistemas de trabalho sustentáveis, que permitam à mulher equilibrar o papel feminino e masculino de acordo com seu desejo, é um dilema atual cuja solução definirá o modo de viver - e comer - das próximas gerações.

Homens e mulheres não são iguais. As meninas levam a comida. Os meninos, o refrigerante.


Fonte: Guia da Semana

28 de maio de 2009

Anorexia e Arte?

Já que o assunto é Anorexia, é interessante comentar da fotógrafa alemã Ivonne Thein, que fez um trabalho retratando jovens anoréxicas em seus frágeis corpos. Segundo a artista, o projeto surgiu depois que ela conheceu sites Pró Anorexia e Bulimia.
O detalhe interessante é que estas modelos não possuem estes corpos esquálidos. Na verdade, foram reduzido para uma proporção de 32K (origem do nome da exposição - THIRTY-TWO KILOS), do mesmo modo que as imagens deste blogs são manipuladas e alteradas.

É possível ver arte e beleza numa obra que vem de mulheres que vestem o semblante de anoréxicas? É possível admirar este trabalho fotográfico idealizado a partir de imagens divulgadas em sites Pró Ana e Pró Mia?

Mandem seus comentários!!!



Do site da artista...
"This photograph comes from Ivonne Thein’s series entitled “Thirty-Two Kilos,” which deals with the pathological striving of young men and women to be extremely thin. The background to this work is a phenomenon that emerged in the US already in the 1990s with the Internet movement “Pro Ana,” which elevates anorexia nervosa to the status of a new, positive lifestyle for young women. The Internet has become the virtual home to diverse communities that do not define themselves as self-help groups for those suffering from eating disorders. Quite the opposite, they support the desire to lose weight, circulating encouraging slogans to help girls achieve the perfect bodies of their dreams. On these sites, this extreme body ideal is illustrated with abundant visual material. Role models are celebrated – for example, female celebrities with anorexia, who seem to embody the connection between extreme physical self-control and a happier and more successful life. The health risks of this lifestyle, however, disappear from view. At the same time, one also regularly finds photographs on these sites that the trained eye can recognize as having been manipulated.
"




Veja mais fotos no site da fotógrafa Ivonne Thein.



Anorexia

Mais um artigo muito interessante sobre o tema que, como muitos já sabem, é foco principal das minhas pesquisas...

A insustentável leveza
Interpretação da anorexia como parte da identidade amplia possibilidades de tratamento

Elas passam horas em frente a confeitarias e se orgulham em mostrar para si mesmas e para os outros que resistem ao desejo de comer e até mesmo à fome. Quando emagrecem a ponto de perder a capacidade de se mover, vão à revelia para o pronto-socorro, mas não abdicam do direito de não comer. Se aceitam meia pera por insistência da equipe do hospital, podem depois passar horas pulando no quarto para queimar as calorias indesejadas e mostrar que elas é que mandam.

Não é fácil tratar quem tem anorexia, distúrbio alimentar caracterizado pela obsessão em perder peso e pela aversão ao alimento. O ganho de peso obtido depois de semanas de internação se esvai rapidamente. Um psiquiatra e uma psicóloga da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) encontraram uma das razões que explicam por que as pessoas com esse problema resistem tanto à possibilidade de serem cuidadas: a anorexia pode fazer parte da identidade dessas pessoas, na maioria adolescentes e mulheres adultas jovens. No Brasil, cerca de 1,1 milhão de mulheres e 120 mil homens com mais de 15 anos pesam bem menos do que o mínimo recomendado para a idade e altura e jejuam para emagrecer ainda mais.

“Alimentar-se, que poderia ser a solução para a perda excessiva de peso, pode soar para essas pessoas como uma ameaça à própria identidade”, diz Sérgio Blay, professor da Unifesp. Blay e Cybele Espíndola verificaram que quem teve anorexia reconhece que deixar de comer é prejudicial e conduz à solidão e ao isolamento social, mas também oferece controle sobre o corpo, poder, beleza e um sentimento de ser diferente, até mesmo superior às outras pessoas. Com base nesses achados, eles criaram uma proposta de tratamento, em fase de amadurecimento, que considera a anorexia como um dos pilares da identidade e, a partir daí, procura ampliar os interesses dos pacientes para além da alimentação e fazer com que esse problema seja assumido por quem o tem. Normalmente os portadores de anorexia se recusam a admitir que emagreceram demais e pensam muito apenas em como fugir da fome. “Diferentemente de outros transtornos psíquicos, esse é um universo singular, em que a doença possui um caráter simbólico marcante”, comenta Cybele.

Com o mesmo propósito de entender a dimensão simbólica da anorexia, Rúbia Carla Giordani acompanhou durante quase todo o ano de 2003 oito adolescentes e mulheres de 16 a 25 anos com esse problema que estavam ou estiveram em tratamento em hospitais de Curitiba – o tratamento consiste essencialmente de dietas de ganho de peso, acompanhamento psicológico e uso de medicamentos psicotrópicos, geralmente antidepressivos. As entrevistas, cujas transcrições ocuparam quase 400 páginas, as observações do dia a dia dessas pessoas e as conversas com médicos, psicólogas e enfermeiras que as tratavam levaram a conclusões semelhantes.

“Essas mulheres se orgulhavam de sentir fome e não se alimentar”, diz Rúbia, que leciona nutrição e integra o grupo de pesquisa em sociologia da saúde na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ela descobriu que essas portadoras de anorexia passavam horas em supermercados lendo rótulos de alimentos para memorizar quantas calorias têm um copo de leite ou um biscoito. “As meninas com anorexia têm um medo mórbido de engordar e se dedicam de forma obsessiva ao controle da imagem corporal”, diz. “O corpo ocupa uma posição central na vida de quem tem anorexia e funciona como um alicerce para qualquer tipo de experiência social.”

Por meio desse estudo, publicado em 2006 na revista Psicologia & Sociedade e detalhado em um dos capítulos do livro Olhares e questões sobre a saúde, a doença e a morte (José Rasia e Rúbia Carla Giordani, Editora da UFPR, 2007), Rúbia verificou que a anorexia era um problema que pode se estender para além das classes sociais mais altas e acometer também os mais pobres: a renda das famílias de suas entrevistadas variava de 1 a 33 salários mínimos.

Ouvindo essas mulheres, a pesquisadora da UFPR conheceu os três estágios de desenvolvimento desse transtorno alimentar. O primeiro é marcado pela discrição e nem os familiares percebem que alguém na família está cultivando a anorexia. Segundo Rúbia, esse distúrbio alimentar pode começar com uma dieta que elimina doces, gorduras e alimentos mais calóricos em geral. Pode depois evoluir para comportamentos bizarros e ritualísticos, expressos por meio de opção por cores, formas geométricas e combinação de alimentos – tudo ainda muito discreto.

Nesse início, essas pessoas fazem o possível para exibir uma vida normal, mesmo que já estejam emagrecendo bastante, como resultado do jejum e do excesso de exercícios. “Os pais e amigos ainda não detectam qualquer comportamento anormal”, diz a pesquisadora da UFPR. A etapa seguinte consiste de uma seleção e restrição ainda maior de alimentos: as pessoas com anorexia podem induzir o vômito ou tomar laxantes ou diuréticos. Trancam-se no banheiro para se livrarem em segredo do que tiveram de comer, mas com o tempo acabam descobertas.

A terceira etapa é a da hostilidade. “Meninas educadas e bem-comportadas, até então com boas notas na escola, começam a mostrar rebeldia e a enfrentar a equipe médica e os nutricionistas”, diz Rúbia. “Um aspecto central da anorexia é a negação da própria doença, por mais grave que esteja.”

Em dois artigos recém-publicados, um na revista Psychopathology e outro na Annals of Clinical Psychiatry, Blay e Cybelle argumentam que o reconhecimento da doença, a reconciliação do portador de anorexia consigo mesmo e a reconstrução da identidade poderiam contribuir no tratamento. “A reconstrução das relações familiares e o contato com amigos tornam-se agora muito importantes como parte do tratamento”, diz Cybele. Blay acrescenta “Até mesmo a espiritualidade ou os cuidados com animais domésticos podem ampliar o universo de atividades e criar situações que não estejam mais centradas no alimento.”

Os estudos de São Paulo e de Curitiba conferem um perfil particular à anorexia nervosa entre os distúrbios mentais e ampliam as possibilidades de tratamento de um problema que não é atual nem restrito a adolescentes, modelos e bailarinas. Freud escreveu em 1893 sobre uma mulher que desenvolvera anorexia depois do nascimento do primeiro filho e dois anos depois sobre outra, a quem insistiu para tomar água (ela tomava só leite) e parar de jogar a comida pela janela. Ela antecipou-lhe o fracasso da recomendação ao responder: “Eu o farei porque o senhor está mandando, mas eu posso desde já lhe dizer que isso vai acabar mal, porque é contrário à minha natureza e meu pai era como eu”. Para Freud e outros psicanalistas, a ausência de menstruação por três meses seguidos, um dos sinais da anorexia, pode representar a negação da feminilidade e a fome constante, uma forma de sentir prazer com o corpo.




Sedução e mentiras – “O principal inimigo do tratamento contra a anorexia é o próprio paciente, que se vale de todos os meios possíveis para burlar o tratamento”, diz o psiquiatra Táki Cordás, coordenador do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Ele ainda se lembra de uma carta que recebeu anos atrás de uma mulher com anorexia que ele tratara e deixava o hospital. “Ela tinha escrito algo assim: ‘Não caia na nossa sedução, não acredite no que dizemos. Nós estamos mentindo. Você precisa aprender a ser rígido’”, ele rememorou. “Ela se suicidou meses depois e eu aprendi que não podemos ser flexíveis e atender a solicitações de pacientes que não estão preparados para se cuidarem, embora se sintam onipotentes.”

Casos mais graves de anorexia podem ser fatais, como o de uma modelo de 21 anos, 1,74 metro de altura e 40 quilos que morreu em novembro de 2006 por causa de complicações renais causadas pela anorexia. A necessidade de serem magras para destacar as roupas com que desfilam faz com que as modelos tenham de 10% a 15% de gordura no corpo; o nível considerado saudável varia de 22% a 26%.

Situações extremas, alerta Blay, exigem medidas enérgicas como internação hospitalar, ênfase na recuperação de peso e acompanhamento de uma equipe multidisciplar, com médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Muitas vezes o tratamento é bastante difícil porque com frequência a anorexia está associada a outros problemas como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar do humor, estados paranoides e fobias sociais.

Sob a orientação de Blay, durante os dois primeiros anos do doutorado Cybele examinou 3.415 artigos científicos sobre anorexia publicados de 1990 a 2005. Ela organizou o conhecimento nessa área e selecionou os estudos que davam voz às portadoras de anorexia por meio de uma técnica chamada metassíntese, que reúne dados qualitativos como depoimentos de entrevistados, diferentemente da abordagem mais adotada, a meta-análise, empregada para agrupar dados quantitativos como a eficácia dos tratamentos. Seu trabalho prossegue agora com um levantamento em ambulatórios de hospitais, consultórios privados e academias de ginástica de Fortaleza, sua cidade natal, e de São Paulo. Ela pretende entrevistar 30 pessoas que apresentaram anorexia, foram tratadas e não exibem mais sintomas desse distúrbio alimentar há pelo menos cinco anos. Não teve de procurar muito. Em janeiro deste ano, Cybele perguntou a uma professora de educação física em uma academia se ela conhecia alguém que tinha tido anorexia e espantou-se com a resposta: “Eu já tive”.

As 14 entrevistas feitas até agora indicaram que os sintomas podem ter desaparecido, mas a preocupação em ter um corpo idealizado e geralmente esquálido persiste, muitas vezes temperada com ansiedade e depressão. “Parece ser bem difícil desprender-se totalmente da dependência dos lados positivos da doença, como poder e segurança”, diz ela. Uma das mulheres que entrevistou contou que fazia exercícios físicos todo dia para manter o peso e ainda se pesava todo dia. Outra reconheceu que a anorexia pela qual tinha passado resultava de sérios problemas pessoais: “Não tem como sua vida ir bem e você ter esse problema, precisa algo não estar certo”.

Esses trabalhos elucidam os significados, mas não as causas dessa doen­ça, que podem ter origem genética ou orgânica, além, claro, de conflitos pes­soais. Cordás inquieta-se ao ver mais pessoas – principalmente entre os grupos antes isentos de riscos, como crianças, homens e mulheres com mais de 40 anos – com o que chama de “cabeça de anoréxicos”, preocupados em perder peso a ponto de exagerarem na dieta ou nos laxantes. Programas de televisão e revistas, especialmente as dirigidas para adolecentes, reforçam a pressão pela busca de corpos mais finos que os da Barbie. “Para quem tem anorexia”, observa Blay, “a TV traz de volta as piores sensações possíveis, porque lembra que elas ainda não chegaram aonde queriam chegar”.

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP

25 de maio de 2009

Cinema e Filosofia


Hitchcock, Woody Allen, Polanski, Kurosawa, Fellini, Godard, Cronenberg... Confira a programação de A história da filosofia em 40 filmes que acontece de 16 de maio de 2009 a 28 de fevereiro de 2010, sábados às 10h30.
Depois da cada filme, uma palestra.
DICA: É legal chegar cedo e pegar uma senha... O evento tem ficado bem cheio e quem chega às 10 hs está ficando de fora!

Caixa Cultural RJ Cinema 2
Av. Almirante Barroso, 25 Centro, Rio de Janeiro
Tels.(21) 2544 4080 / 7666
www.caixacultural.com.br

Entrada franca!

1. o que é a filosofia?
16.05.09 - Rashomon | Akira Kurosawa
23.05.09 - Persona | Ingmar Bergman
30.05.09 - Stalker | Andrei Tarkovsky
06.06.09 - Blow-up | Michelangelo Antonioni

2. questões estéticas
13.06.09 - Morte em Veneza | Luchino Visconti
20.06.09 - Oito e meio | Federico Fellini
27.06.09 - Cidade dos sonhos | David Lynch
04.07.09 - Asas do desejo | Wim Wenders

3. mito e tragédia
11.07.09 - Medéia | Pier Paolo Pasolini
18.07.09 - Oldboy | Chan-wook Park
25.07.09 - Ladrões de bicicleta | Vittorio De Sica
01.08.09 - Crimes e pecados | Woody Allen

4. o existencialismo
08.08.09 - A doce vida | Federico Fellini
15.08.09 - Estranhos no paraíso | Jim Jarmusch
22.08.09 - Acossado | Jean-Luc Godard
29.08.09 - As coisas simples da vida | Edward Yang

5. o amor em fuga
05.09.09 - Aurora | F. W. Murnau
12.09.09 - A janela indiscreta | Alfred Hitchcock
19.09.09 - Todas as mulheres do mundo | Domingos de Oliveira
26.09.09 - O último metrô | François Truffaut

6. morte e finitude
03.10.09 - Nosferatu, o vampiro da noite | Werner Herzog
10.10.09 - Hiroshima meu amor | Alain Resnais
17.10.09 - Paris, Texas | Wim Wenders
24.10.09 - O sétimo selo | Ingmar Bergman

7. história e violência
31.10.09 - Ricardo III | Al Pacino
07.11.09 - Macbeth | Roman Polanski
14.11.09 - Dogville | Lars von Trier
21.11.09 - Marcas da violência | David Cronenberg

8. o fascismo hoje
28.11.09 - M, o vampiro de Düsseldorf | Frizt Lang
05.12.09 - Taxi Driver | Martin Scorsese
12.12.09 - Apocalypse now | Francis Ford Coppola
19.12.09 - Laranja mecânica | Stanley Kubrick

9. cinema e revolução
09.01.10 - O anjo exterminador | Luis Buñuel
16.01.10 - O encouraçado Potemkin | Sergei Eisenstein
23.01.10 - O homem sem passado | Aki Kaurismaki
30.01.10 - Nós que nos amávamos tanto | Ettora Scola

10. o cinema nacionale a interpretação do brasil
06.02.10 - São Bernardo | Leon Hirzsman
20.02.10 - Deus e o diabo na terra do sol | Glauber Rocha
27.02.10 - Brás Cubas | Julio Bressane
28.02.10 - Macunaíma | Joaquim Pedro de Andrade

O amor nosso de cada dia (Parte 3 de 3)

Assim, desde sua manifestação a partir de lalíngua, o sintoma, seja como semblante a sustentar no laço social, seja como letra que formula a modalidade de gozo, não deriva de nada anterior. Por estrutura, ele se define como a deriva em si que constitui a borda do real. O que por rigor implica que o sintoma seja, na concepção lacaniana, o mal-estar na cultura, e não a saída para ele como queria Freud.
Então, como situar a diferença entre a posição de Freud, que destaca a força constante da infelicidade na cultura, que deixa para a felicidade amorosa chances escassas e contingentes de encontro, e a posição de Lacan que situa por toda parte a oportunidade do sujeito encontrar a felicidade?
Se pensarmos, com Lacan, que todo encontro é lido segundo a lógica instaurada pelo encontro primordial com lalíngua, encontrar a felicidade dependerá da posição subjetiva diante da maldição do sexo. Temos nisso uma chave para pensar o que um sujeito pode ou não fazer com a repetição e o retorno do real: ele pode encontrar o mesmo para fazer igual ou diferente; viver o mesmo de novo ou viver o novo uma vez mais;subjetivar o imprevisto com as mesmas leis ou inventar variações novas para elas.
Assim, no instante de ver do encontro, o sujeito é, em tese, sempre feliz. Trata-se de um ponto zero que se abre a alternativas. É um instante de promessa. No tempo de compreender, que atenua a vibração da felicidade, o sujeito desdobra sua resposta sintomática desse encontro por meio do trabalho incansável do inconsciente. Como Freud comenta, trata-se do sintoma como trabalho de laço social e, afinal, é disso que se trata no cultivo dos jardins e dos semblantes.
Mas, quanto ao momento de concluir, nem sempre o sujeito é feliz. Vai depender das conseqüências que extrai do encontro com a inexistência da relação sexual e de como lida com a promessa que não se cumpre. Ou seja, de como faz amor e felicidade a partir de um discurso que não seja semblante alheio ao real.
Proponho tomar um exemplo bem simples. Digo simples porquereduz a amplitude das questões do sexo e do amor à satisfação do ato propriamente dito, aproximando, no que parece ser possível, a felicidade do instante e da cifra. Uma paródia que pretende ilustrar o que Lacan comenta em “Televisão”. Partimos da pergunta comum dos amantes após o sexo.
“Foi bom?”
1) “Não foi nada de bom! Que se dane!”
2) “Era para ser sublime, mas querem que eu me dane"!
3) “Foi danado de bom!”

Vemos que o sujeito poderia responder de três formas a partir do que se pode ouvir na palavra dano. Elas seriam versões das alternativas subjetivas que Lacan distingue na repetição do feliz acaso – bon heur – de lalíngua. Na primeira temos a tristeza covarde de se deixar abater pelo furo do encontro. Na segunda a excitação maníaca, com sua contra face melancólica, quando essa experiência se dá na precariedade do semblante na psicose. E na terceira o gaio saber quando, diante do encontro, não se espera mais do que um contorno para o sentido da vida, vivido, se possível, com a alegria da surpresa.
Quanto a isso, Lacan e Freud se encontram: trata-se da arte de viver. Ao que podemos acrescentar: com o amor nosso de cada dia.

Artigo de Heloisa Caldas, publicado na Opção Lacaniana

Confira a primeira e segunda parte do texto.
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24 de maio de 2009

Colóquio Belas Abjeções: Arte, Psicanálise e Cultura Contemporâneas

O Museu de Arte Contemporânea da USP – MAC USP, com apoio do Instituto Cervantes São Paulo, reúne especialistas

ligados às artes visuais, literatura, filosofia, psicanálise e estética no Colóquio Belas Abjeções: Arte, Psicanálise e

Cultura Contemporâneas. Coordenado por João Frayse Pereira, professor do Instituto de Psicologia da USP, o encontro

debate o abjeto, as perversões e o corpo na contemporaneidade.

Dias 30 e 31 de maio de 2009

Instituto Cervantes São Paulo

Avenida Paulista, 2439 – Metrô Consolação

Programa

Sábado – 30 de maio

9 horas

Abertura: Lisbeth Rebollo Gonçalves (MAC/USP)

9h30 – 10h30

Conferência: Abjeção e horror na arte e na cultura contemporâneas

Annatereza Fabris (ECA/USP)

Coordenação: João Frayze-Pereira (IP/USP/SBP/SP)

11h00 às 12h30

Mesa 1: Formas da maldade: psiquismo e cultura

Luiz Meyer (SBP/SP) e Yudith Rosenbaum (FFLCH/USP)

Coordenação: João Frayze-Pereira (IP/USP/SBP/SP) e Claudia Fazzolari (ABCA/SP)

14h30 às 16 horas

Mesa 2: Perversões da intimidade: o eu como objeto

Camila Salles Gonçalves (Instituto Sedes Sapientiae/ Cetec) e Luciana Godoy (Sedes Sapientiae)

Coordenação: Ada Morgenstern (Instituto Sedes Sapientiae)

16h30 às 18 horas

Mesa 3: No limite da obscenidade: o corpo impossível

Eliane Robert de Moraes (PUC/SP) e Marion Minerbo (SBP/SP)

Coordenação: Magda Khoury (SBP/SP)

Domingo – 31 de maio

9h30 às 10h30

Mesa 4: Corpos estranhos: mutações da arte

Regina José Galindo (Guatemala), Pilar Albarracín (Espanha) e Laura Lima (Brasil)

Coordenação: Claudia Fazzolari (ABCA/SP)

11 às 12h30min

Mesa 5: Psicanálise e arte contemporâneas: criar é destruir?

Rogério Coelho de Sousa (SBP/SP) e Claudia Fazzolari (ABCA/SP)

Coordenação: João Frayze-Pereira (IP/USP/SBP/SP)

Inscrições e Informações

11 3091.3559 – ceema@usp.br