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6 de fevereiro de 2014

Entrevista com o poeta Ferreira Gullar sobre sua experiência com dois filhos esquizofrênicos

Ferreira Gullar é um dos maiores críticos da redução de leitos de internações psiquiátricas que veio acontecendo desde 2001. Com dois filhos esquizofrênicos, ele não defende o encarceramento dos pacientes, como já aconteceu em outras épocas, mas critica e chama atenção para famílias de poucos recursos que não tem para onde de direcionar seus filhos, que acabam - como ele mesmo fala - como mendigos loucos perambulando pela rua. Ele conta mais de seu posicionamento em entrevista a Época


Ninguém aguenta Uma pessoa delirante dentro de casa

O poeta Ferreira Gullar, 78 anos, teve dois filhos com esquizofrenia. Paulo, 50 anos, vive num sítio em Pernambuco há cinco. Marcos, que tinha um quadro mais leve da doença, morreu em 1992, de cirrose hepática. Recentemente, Gullar escreveu três artigos no jornal Folha de S. Paulo sobre a falta de vagas para internação psiquiátrica. A reação dos leitores chamou atenção para uma das maiores controvérsias da psiquiatria: o que fazer com doentes mentais em estado grave? Gullar concedeu a seguinte entrevista a ÉPOCA em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro (confira ao final desta página um vídeo com trechos da conversa).

ÉPOCA - A lei federal 10.216, aprovada em 2001, não proíbe a internação de pacientes em hospitais psiquiátricos, mas estimulou a redução de leitos. Por que decidiu falar sobre essa lei agora?
Ferreira Gullar -
 Antes da aprovação da lei, soube do que consistia o primeiro projeto. Para internar uma pessoa, a família precisaria pedir autorização de um juiz. Felizmente isso foi retirado do texto final. Imagine o que é ter em casa um garoto em estado delirante - às vezes falando sem parar da noite até o dia seguinte. Os pais tentam dar remédio, tentam conversar e nada funciona. Nessa situação, o único recurso é internar. Você sente que a pessoa está saindo do controle e pode fazer uma loucura qualquer. Imagine ter de aguardar autorização de um juiz para internar um paciente numa situação de emergência. Que juiz? Aquele que nunca encontramos na justiça eficiente que temos? Imagine o desastre que isso seria.

ÉPOCA - Mas por que decidiu escrever neste momento? 
Gullar -
 Li notícias recentes sobre o aumento de doentes mentais na população de rua. Eu já previa que isso ia acontecer diante da restrição do número de hospitais e do período de internação. Como é possível estabelecer um período de internação, determinar que um paciente psiquiátrico esteja curado dentro de determinado tempo? Quem não tem dinheiro para colocar o filho numa clínica particular fica com ele em casa até quando suportar. Muitas vezes o doente foge. Quantas vezes isso aconteceu comigo... Ele foge, vai para rua sem rumo. Ninguém sabe para onde vai.

ÉPOCA - O doente precisa ficar vigiado dentro de casa?
Gullar -
 Ninguém aguenta uma pessoa em estado de delírio dentro de casa. Só se ninguém trabalhar, todo mundo ficar em volta do doente. E se for uma pessoa agressiva? Tem que internar. Nenhum pai e nenhuma mãe internam seus filhos contentes da vida, achando que se livraram. Não estou dizendo que a lei foi feita para perseguir as pessoas. Não vou imaginar uma coisa dessas. Ela foi feita com boa intenção. Mas de boa intenção o inferno está cheio.


Confira a matéria toda aqui

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

20 de janeiro de 2014

3 minutos com Bauman: as relações sociais na contemporaneidade e as amizades do facebook

Zygmunt Bauman, filósofo polonês, faz uma reflexão sobre os laços humanos nos dias de hoje e chama atenção para a facilidade de nos desconectarmos de nossas "amizades online".

3 minutos com Bauman

Sociólogo polonês preocupado em compreender a sociedade pós-moderna, Zygmunt Bauman, 87 anos, autor de vários livros em que explica as relações sociais na contemporaneidade, comenta em 3 minutos, em uma de suas conferências que foi concedida para o Fronteiras do Pensamento, porquê nossas relações de amizade no facebook são tão atrativas, fáceis e superficiais.


Leia o trecho:
"Um viciado em facebook me confessou - não confessou, mas de fato gabou-se - que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi: eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso! Então, provavelmente, quando ele diz 'amigo', e eu digo 'amigo', não queremos dizer a mesma coisa, são coisas diferentes. Quando eu era jovem, eu não tinha o conceito de redes, eu tinha o conceito de laços humanos, comunidades... esse tipo de coisa, mas não de redes.
Qual a diferença entre comunidade e rede?
A comunidade precede você. Você nasce em uma comunidade. De outro lado temos a rede, o que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: conectar e desconectar.
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Eu penso que a atratividade desse novo tipo de amizade, o tipo de amizade de facebook, como eu a chamo, está exatamente aí: que é tão fácil de desconectar. É fácil conectar e fazer amigos, mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar.
Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões reais, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Assim, romper relações é sempre um evento muito traumático, você tem que encontrar desculpas, tem que se explicar, tem que mentir com frequência, e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não têm direitos, que você é sujo etc., é difícil.
Na internet é tão fácil, você só pressiona "delete" e pronto, em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina os laços humanos."

Fonte: Obvious



Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

17 de janeiro de 2014

Entrevista com Jorge Forbes

Forbes sempre fala da contemporaneidade com muita precisão!
Aqui, na entrevista "Felicidade é responsabilidade pessoal e intransferível", ele fala sobre temas que sempre nos interessam: desamparo, solidão, amor e felicidade.




"Felicidade é responsabilidade pessoal e intransferível"



O psicanalista e médico psiquiatra Jorge Forbes sempre defende que buscar alguém para suprir as carências emocionais é assinar um atestado de infelicidade permanente. "Só pode estar junto aquele que pode estar separado. A felicidade é uma responsabilidade pessoal e intransferível". Segundo ele, a primeira coisa que é necessário saber é que a felicidade amorosa não tem garantia. "Todo amor é um contrato de risco que mantém os parceiros sempre alertas". Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Psicanálise pela Universidade Paris VIII e doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), Forbes é um dos principais introdutores do ensino de Jacques Lacan no Brasil, de quem frequentou os seminários em Paris, de 1976 a 1981. Teve participação fundamental na criação da Escola Brasileira de Psicanálise, da qual foi o primeiro diretor-geral, e atualmente preside o Instituto da Psicanálise Lacaniana (IPLA). Recentemente, ganhou o prêmio Jabuti com o livro Inconsciente e Responsabilidade - Psicanálise do Século XXI, em que estuda as mudanças necessárias a uma psicanálise para os tempos pós-modernos, além do Édipo. Para Forbes, estamos vivendo uma nova forma de amor, que ele define como o amor da pós-modernidade. "As pessoas estão com as outras porque querem, não mais por obrigação ou necessidade".

Apesar das conquistas femininas e de as pessoas atualmente serem muito mais independentes econômica e intelectualmente, percebe-se que homens e mulheres ainda buscam na relação o seu ideal de felicidade. Por que?

Mas será que vamos pensar que a única razão para que as pessoas estivessem juntas seria a dependência econômica ou intelectual? Isso é desacreditar de vez no amor ou achar que amor é tema menor e piegas. Não vejo assim. É exatamente porque diminuímos as dependências que fica mais evidenciado o difícil que é a vida sem alguém...

Leia tudo aqui.


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
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Doentes e transtornadas ou mimadas e mal criadas?

Excelente texto do psicanalista Contardo Calligaris, postado hoje em sua coluna na Folha de S.Paulo. O autor questiona não só o diagnóstico do TDAH, mas também o uso de medicação, e fala da importância de investimentos a longo prazo.


Crianças transtornadas ou mimadas?

Nas áreas urbanas do mundo ocidental, entre 8 e 10% das crianças do primeiro ciclo são diagnosticadas com TDA/H (Transtorno do Déficit de Atenção —com ou sem Hiperatividade). O que significa, grosso modo, que elas não conseguem focar, são constantemente distraídas e, quando hiperativas, não param de se movimentar.
Sabe aquelas crianças que, na hora de ler ou estudar, são atormentadas por coceiras irresistíveis, rolam de um lado para o outro da cama, batucam, acham que a camiseta está apertada ou que é urgente abrir a janela (ou fechá-la)? Pois é, essas mesmo.
Elas atrapalham a classe inteira, exasperando pais e professores. E, de fato, o transtorno é, antes de mais nada, uma queixa dos adultos, os quais, às vezes, pedem que médicos, psicólogos e pedagogos façam "alguma coisa" —pelo amor de Deus.
Mas não só os adultos pagam a conta: as crianças com déficit de atenção e hiperativas não aprendem a metade do que aprenderiam se ficassem sentadas e focadas. Várias experiências mostram que só é possível combinar pensamento (ou aprendizado) com agitação física à condição de ser um pensador (ou um aluno) medíocre.
Alguns dizem que tudo isso acontece porque não sabemos mais disciplinar nossas crianças. Não queremos correr o risco de contrariá-las e de perder seu amor e, com isso, somos absurdamente permissivos; logo, insatisfeitos com nossa própria permissividade, tentamos corrigi-la com erupções de severidade descabida. Essa alternância piora a tensão e a agitação física e mental das crianças.
Enfim, diante do TDA/H, três estratégias possíveis...

Leia o texto completo.

Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ  e pesquisa sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

8 de janeiro de 2014

Entrevista com Elizabeth Roudinesco: 'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'

Com a clareza que lhe é peculiar, Elizabeth Roudinesco fala sobre a psicanálise na atualidade e no Brasil, sobre psiquiatria e psicofarmacologia e, é claro, sobre seu livro "Em Defesa da Psicanálise", que tem lançamento previsto para outubro no Brasil.
A entrevista foi publicada no Estadão. 


'Psicanálise é a medicina da alma do nosso século'


PARIS - Poucos intelectuais traduziram tão bem sua época como Sigmund Freud fez com o século 20. Em sua obra, estão expressas as bases de conceitos tão poderosos e, ao mesmo tempo, tão legíveis, que se tornaram parte do cotidiano com a velocidade característica de sua época. É o caso do inconsciente - um conceito já elaborado nos séculos 18e 19 por autores como Leibniz e Edward von Hartmann. Reinterpretada por Freud, a ideia de que o que falamos pode ter significados ocultos que fogem à esfera da consciência e, portanto, ao nosso domínio, é hoje reconhecível por todos.  

     
Resumir seu pensamento a esse conceito, porém, é limitar uma obra enérgica e influente, alerta Elisabeth Roudinesco. Psicanalista, historiadora, docente, escritora, discípula de Jacques Lacan, amiga de Jacques Derrida, Elisabeth é, aos 64 anos recém-feitos, um dos pensadores vivos mais importantes de sua área, a psicanálise - um dos legados de Freud à humanidade. Segundo a intelectual marxista, o médico neurologista convertido em gênio está por trás, de uma forma ou de outra, de todas as formas de emancipações vividas pela sociedade do século 20, das quais o feminismo e a liberação sexual são só dois exemplos evidentes.
Estamos a 70 anos da morte de Freud. O que ainda é tão representativo em sua obra? Por que ele é uma referência para a própria humanidade?
Ele é o único a ter teorizado, assim como seus herdeiros, o que chamamos de inconsciente. Não falo do subconsciente nem do inconsciente dos psicólogos. Eu me refiro ao inconsciente, que pode ser traduzido pela noção de que, quando alguém fala, não sabe o que diz. Há milhões de exemplos concretos, como o ministro do Interior da França (Brice Hortefeux), que fez declarações racistas na semana passada. Conscientemente, ele não é racista. Inconscientemente, sim. Mas julgamos alguém por seu inconsciente? Sim, se ele é ministro. Mas, via de regra, não podemos enviar alguém aos tribunais por seu inconsciente. Podemos dizer: "Comporte-se!" Muitas pessoas são inconscientemente racistas e antissemitas. Quando não há lei, esses sentimentos se exprimem.

Leia Mais:http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,psicanalise-e-a-medicina-da-alma-do-nosso-seculo,437434
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Leia a entrevista completa aqui



Fernanda Pimentel é psicanalista e atualmente cursa doutorado em Pesquisa e Clínica em Psicanálise na UERJ, pesquisando sobre a psicanálise na atualidade e a clínica contemporânea.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

17 de dezembro de 2013

A velha história das mulheres e a preocupação com a beleza

Apesar da célebre frase de Francis Bacon "Não há beleza perfeita que não contenha algo de estranho nas suas proporções", as mulheres continuam reféns de padrões muito específicos. 
Sim, eles variam a cada época! Mas o que parece não variar é a busca incessante (beirando a obsessão) pela estética perfeita através de tratamentos que parecem experimentos de filme de ficção científica!

A série de fotos mostra tratamentos estéticos das décadas de 40 e 50, tão bizarros quanto os que vemos hoje em dia e nos faz questionar: desde quando a beleza é uma questão tão importante para as mulheres?

Veja todas as fotos aqui.


Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Psicanálise pela UERJ sobre 
Anorexia na contemporaneidade e escreve este blog entre 
uma leitura de Freud e outra de Lacan.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.

10 de dezembro de 2013

Rara entrevista de Clarice Lispector, para comemorar a data em que a autora completaria 93 anos

Hoje Clarice Lispector completaria 93 anos! 
Para comemorar a data, vale a pena conferir a entrevista concedida em 1977 ao repórter Júlio Lerner, da TV Cultura. É curioso lembrar que depois de gravada, Clarice pediu que a entrevista só fosse divulgada após sua morte. Ela foi ao ar dez meses depois, quando Clarice morreu em dezembro de 1977, aos 57 anos...


Clarice Lispector, local desconhecido, 1975, época do lançamento 
de seu livro "Visão do Esplendor", uma coletânea de textos sobre Brasília

"De minha sala até o saguão dos estúdios tenho que percorrer cerca de 150 metros. Estou tão aturdido com a possibilidade de entrevistá-la que mal consigo me organizar naquela curta caminhada. Talvez falar sobre “A Paixão Segundo G.H”… Ou quem sabe sobre “A Maçã no Escuro” e “Perto do Coração Selvagem”… Vou recordando o que Clarice escreveu. Será que li tudo? Em apenas cinco minutos consegui um estúdio para entrevistá-la. São quatro e quinze da tarde e disponho de apenas meia hora. Às cinco entra ao vivo o programa infantil e quinze minutos antes terei de desocupar o estúdio. Estou correndo e antes mesmo de vê-la a pressão do tempo começa a me massacrar. Não terei condições de preparar nada antes, nem mesmo conversar um pouco. Não poderei sequer tentar criar um clima adequado para a entrevista. Eu odeio a TV brasileira! Só meia hora para ouvir Clarice. O pessoal da técnica foi novamente generoso e se empenhou para conseguir essa brecha. Olho o relógio, não consigo me organizar, estou correndo, olho novamente o relógio. Estou desconcertado, atinjo o saguão dos estúdios e a vejo ali, dez metros adiante, Clarice de pé ao lado de uma amiga, perdida no meio do vaivém dos cenários desmontados, de diversos equipamentos e de técnicos que falam alto, no meio de um grande alvoroço..."


Fonte: Revista Bula



Fernanda Pimentel é psicanalista, tem mestrado em Pesquisa e Clínica pela UERJ e escreve este blog nas horas vagas.
 Atende em consultório em Niterói e Copacabana.