Celebridades já assumiram. Sexólogos, psicólogos e até cientistas dizem que esse é o futuro da humanidade. Será mesmo que o mundo está cada vez mais bissexual?
O fato é que o número de pessoas que declara abertamente relacionar-se com os dois sexos aumenta todos os dias. Angelina Jolie antes de Brad Pitt manteve um romance de 10 anos com a modelo Jenny Shimizu e nunca teve problemas em assumir a bissexualidade. As atrizes Megan Fox e Lindsay Lohan, a performática Lady Gaga e a cantora Fergie, do Black Eyed Peas, engrossam a lista das celebridades que já se declararam total flex. Por aqui, as mais novas adeptas do grupo, cuja veterana é a cantora Marina Lima, são Preta Gil e a ex-BBB Fani Pacheco.
Será que isso é marketing, moda ou tendência?
— Se olharmos historicamente, o bissexualismo sempre existiu. Mesmo em Roma ou na Grécia. É algo que sempre esteve presente nas relações humanas e pode se manifestar mais ou menos dependendo do quanto existe de liberalidade na sociedade ou em um determinado meio social que possa ser mais aberto para esse tipo de coisa — defende Rafael Raffaelli, professor da UFSC, mestre em Psicologia Social e doutor em Psicologia Clínica.
Não são apenas os artistas e as celebridades que declaram abertamente seu desejo por homens e mulheres. A jornalista Sandra**, 25 anos, não exclui nenhum público alvo quando sai solteira para a balada.
— Não acho que seja uma moda. Eu acho que as pessoas estão se libertando. Quando eu saio, fico com homem ou mulher, tanto faz. Acho que as mulheres suprem outras necessidades, elas se envolvem mais emocionalmente do que os homens. Já com eles, tenho uma necessidade mais física. Então, ficar com um ou com outro vai depender de como estou me sentindo no dia e do que aparecer — conta.
O fato é que o número de pessoas que declara abertamente relacionar-se com os dois sexos aumenta todos os dias. Angelina Jolie antes de Brad Pitt manteve um romance de 10 anos com a modelo Jenny Shimizu e nunca teve problemas em assumir a bissexualidade. As atrizes Megan Fox e Lindsay Lohan, a performática Lady Gaga e a cantora Fergie, do Black Eyed Peas, engrossam a lista das celebridades que já se declararam total flex. Por aqui, as mais novas adeptas do grupo, cuja veterana é a cantora Marina Lima, são Preta Gil e a ex-BBB Fani Pacheco.
Será que isso é marketing, moda ou tendência?
— Se olharmos historicamente, o bissexualismo sempre existiu. Mesmo em Roma ou na Grécia. É algo que sempre esteve presente nas relações humanas e pode se manifestar mais ou menos dependendo do quanto existe de liberalidade na sociedade ou em um determinado meio social que possa ser mais aberto para esse tipo de coisa — defende Rafael Raffaelli, professor da UFSC, mestre em Psicologia Social e doutor em Psicologia Clínica.
Não são apenas os artistas e as celebridades que declaram abertamente seu desejo por homens e mulheres. A jornalista Sandra**, 25 anos, não exclui nenhum público alvo quando sai solteira para a balada.
— Não acho que seja uma moda. Eu acho que as pessoas estão se libertando. Quando eu saio, fico com homem ou mulher, tanto faz. Acho que as mulheres suprem outras necessidades, elas se envolvem mais emocionalmente do que os homens. Já com eles, tenho uma necessidade mais física. Então, ficar com um ou com outro vai depender de como estou me sentindo no dia e do que aparecer — conta.
Conforme o pai da psicanálise, todos nós nascemos potencialmente bissexuais. Sigmund Freud dizia que a escolha seria determinada na infância, de acordo com as experiências. Ou seja, a condição sexual seria muito mais cultural do que biológica, e a bissexualidade teria conotações instintivas. Para ele, a diminuição da repressão sexual teria como desfecho a pluralidade dos afetos.
— As crianças logo percebem um ambiente de proibição e culturalmente vão se encaixando nessas ideias. O pai e a mãe, os casais ao redor. E é obvio que a nossa cultura e sociedade levam a uma certa estigmatização da experiência erótica, embora isso já tenha mudado muito — explica Raffaelli.
O psicólogo lembra o fato de termos herdado metade do genes do pai e metade dos gens da mãe, o que significaria termos os dois lados. Com base nisso, seria possível explorar os dois sexos.
— Isso só não aparece claramente porque existe uma repressão da sociedade — diz ele.
Em 1953, o segundo volume do Relatório Kinsey, elaborado pelo pesquisador americano Alfred Kinsey, já revelaria o quanto a bissexualidade era uma realidade, mesmo dentro da conservadora sociedade americana. Nos questionários, muitas mulheres relataram que já haviam tido experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo. Seus relatórios foram vistos por muitos como o início da revolução sexual da década de 1960. Kinsey defendia que a homo e a heterossexualidade eram os extremos de um amplo espectro de possibilidades sexuais.
— Para ele, a fluidez dos desejos sexuais faz com que, para cada heterossexual, exista pelo menos uma pessoa que sinta, em graus variados, o desejo pelos dois sexos — explica a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, autora do livro A Cama na Varanda (Ed. Best Seller, 434 págs, R$ 40), em que aborda, entre outros temas, essas questões.
As novas gerações, já influenciadas pelos frutos da revolução sexual, estariam aptas ao novo modelo.
— Hoje as coisas estão bem diferentes — defende o sociólogo Roberto Warken.
** Os nomes utilizados são fictícios
Rótulos x orientação sexual
Ter uma experiência com alguém do mesmo sexo significa que a pessoa tem orientação bissexual?
— Nosso objetivo não é criar rótulos. Defendemos que as pessoas sejam felizes sem a rigidez da orientação sexual - responde o sexólogo Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
— Minha sexualidade é circunstancial. Não gosto de me impor barreiras. Hoje eu fico mais com meninos, mas se achar uma menina que me interesse eu fico também — assume o estudante Juliano**, 22 anos.
— Acho que são duas coisas diferentes. Ter experimentado algo com alguém do mesmo sexo não caracteriza alguém como bissexual. O que vai caracterizar é a pessoa ter o desejo frequente não só de sexo, mas de amor, de poder se apaixonar, por ambos os sexos — avalia a psicóloga Shirley Stamou.
A sexóloga Regina Navarro Lins vai adiante:
— Estamos caminhando para uma sociedade com tendências à androgenia. O objeto do amor não será mais o sexo oposto e sim a pessoa, não importa se homem ou mulher — teoriza a autora.
Até mesmo cientistas já engrossaram o coro dos sexólogos e psicanalistas, provocando polêmica. O italiano Umberto Veronesi, por exemplo, afirma que o ser humano caminha para a bissexualidade como uma evolução natural das espécies. De acordo com sua tese, dentro de algumas décadas, a humanidade será definida como bissexual. A explicação, segundo ele, está ligada inclusive a mudanças hormonais. Homens e mulheres estariam perdendo suas características específicas e se transformando em indivíduos sexualmente ambíguos.
Se a liberdade traz ganhos, também pode causar confusão para muitos. A terapeuta de família e sexóloga Jerusa Figueiredo acredita que o amor foi reduzido ao desejo e essa fragilidade de valores leva à liberação das vivências sexuais.
— Vivemos numa sociedade onde tudo é permitido, e as pessoas não estão sabendo se comportar dentro desse contexto — critica.
Mulher com mulher dá audiência
Quem assistiu ao desfile de Jean-Paul Galtier na última Semana de Moda de Paris contou que o papo nas festas pós-desfile não girava tanto em torno dos modelitos apresentados pelo designer francês, mas sim da mensagem com forte conteúdo erótico que sugeria homo e/ou bissexualidade. As peças eram marcadas por símbolos sadomasoquistas, como meias de rede e transparências. Como pano de fundo do desfile, um bar decadente onde modelos, como Raquel Zimmermann e Coco Rocha, vestidas em looks andrógenos, lançavam olhares sugestivos umas às outras.
Já em 2006, a atriz Scarlett Johansson e a stripper Dita Von Teese também foram protagonistas de um ensaio pra lá de sensual na revista Flaunt. A mesma Scarlett, quando dirigida por Woody Allen em Vicky Cristina Barcelona, beijou Penélope Cruz, acontecimento que foi badalado insistentemente antes de o filme entrar em cartaz.
Para divulgar o filme Ne te Retourne pas (Não se volte, em tradução livre), em que interpretam a mesma pessoa, as atrizes francesas Sophie Marceau e Monica Bellucci apareceram nuas e abraçadas na capa da revista Paris Match em 2009.
Mas há quem diga que toda essa moda na mídia tenha começado com o beijo entre Madonna e Britney Spears no MTV Music Awards, em 2003.
A mídia e a publicidade nacional também parecem ter aderido. Basta folhear as revistas para ter a nítida sensação de que o bissexualismo está na moda. A campanha de verão da Arezzo trazia Juliana Paes e Cléo Pires, duas das mulheres mais cobiçadas da atualidade, em poses sugestivas e olhares provocadores.
O erotismo parece infalível em termos de mídia - graças à curiosidade geral sobre a homossexualidade e ao fato de ser a fantasia número um dos homens.
— A gente sabe que 99,9% dos homens têm como fantasia ver duas mulheres transando. Esse erotismo vende — declara a psicóloga e blogueira antenada em moda Shirley Stamou.
E a influência desses segmentos da cultura contemporênea no comportamento geral é inegável.
— Esse momento é bastante influenciado pela moda, música e cinema. Todo mundo quer ter ou ser aquela mulher da foto. É natural que isso acabe se tornando uma moda, quase que um estilo de vida — diz Shirley.
Eu gosto de meninos e meninas
É preciso lembrar que, de acordo com a Psicologia Social, na sociedade existem grupos com valores diferenciados. Por isso, dependendo das características de cada setor, a bissexualidade pode ser uma experiência mais ou menos comum.
— A gente não pode pensar a sociedade como uma coisa homogênea, temos que pensar nos grupos que formam o todo — explica Rafael Raffaeli, mestre em Psicologia Social.
Um grupo onde essa tendência aparece claramente é o dos adolescentes.
— As meninas acham supertranquilo ir para a festa e beijar outras meninas. Mas isso não revela necessariamente uma vontade. Pode ser uma maneira de transgressão, uma vontade de ver como é. Querer ser como os outros. Isso não significa ou determina nada — aposta a psicóloga Shirley Stamou.
Para alguns adolescentes, transitar entre categorias sexuais parece tão natural quando mudar o cabelo.
— Ao ver tantos ícones da música e mesmo modelos reproduzindo esse comportamento, é normal que os adolescentes também queiram imitar. Principalmente entre as meninas, a bissexualidade virou uma espécie de arma de sedução. Também é uma coisa de provocação, de quebrar a regra, quase como pintar o cabelo de rosa — acredita Shirley.
Para especialistas, a natureza feminina, menos defensiva em relação à afetividade, proporciona uma liberdade na hora de experimentar diferentes formas de relacionamento, como ocorreu com Sandra**, a jornalista de Florianópolis.
— Sempre tive interesse em caras, mas de vez em quando beijava meninas. No ano passado, me surpreendi bem interessada em uma menina e pintou uma atração. Aí rolou algo mais íntimo. Me apaixonei e teria continuado com ela, mas ela não quis. Não acho que seja uma moda. Acho que, no futuro, as pessoas não vão ter que optar por serem homossexuais ou heterossexuais.
Ainda que não tão revelada, a bissexualidade entre homens também ocorre:
— A liberdade sexual entre as mulheres é maior. Mas depois que tive coragem de admitir que gostava de homens, não deixei de excluir as meninas dentre as possibilidades de relacionamento. E tenho prazer com ambos os sexos, embora as mulheres me levem menos a sério por saber que me relaciono com homem também — contou Juliano, estudante da Capital.
Há quem diga que o fenômeno bissexual seja mais intenso na capital catarinense.
— Florianópolis é uma cidade onde temos uma relação diferente, mais aberta e tranquila com a sexualidade. Aqui elas se permitem experimentar. E aí vem as descobertas. Algumas pessoas passam a se autodenominar bissexuais porque tiveram uma ou duas relações, mas nao é bem por aí — defende o sociólogo Roberto Warken.
O sexo fluído
A bissexualidade entre as mulheres não é apenas uma fase de indecisão. Pelo menos foi o que concluiu um estudo feito pela professora de Psicologia e de Estudos de Gêneros da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, Lisa Diamond, publicada no ano passado. Lisa acompanhou o comportamento sexual de um grupo de 79 mulheres que se declararam não-heterossexuais durante uma década e observou que a bissexualidade é mais uma condição estável do que um estado temporário.
— O traço de desejo não-exclusivo permaneceu lá durante esse tempo, mesmo entre as mulheres que se casaram — declarou Lisa à imprensa internacional.
A pesquisadora também sugere que a maioria das mulheres, quando expostas a determinadas circunstâncias, tem capacidade de sentir desejo por ambos os sexos. Embora o estudo seja importante por ser um dos únicos a observar o comportamento de mulheres por uma década, uma limitação foi o grupo de mulheres eleito: trata-se de uma maioria de brancas e de classe média.
Mas o resultado levantado pela pesquisa, de que a bissexualidade pode, sim, ser uma identidade sexual, não é unanimidade.
— A experiência bissexual implica estabelecer relação com ambos os sexos, mas são poucos os casos em que essa experiência se consolida como uma identidade sexual - avisa o professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Denilson Lopes, autor do livro O homem que amava os rapazes e outros ensaios (Ed. Aeroplano, 270 págs., R$ 30).
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