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3 de março de 2009

A comida não é mais divertida...



Nova geração de crianças nos EUA tem medo dos "maus" alimentos
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Vi
essa matéria, publicada no New York Times no Terra Vida e Saúde:

"Sódio. É isso que preocupa Greye Dunn. Ele também pensa em calorias, e se está consumindo vitaminas suficientes. Mas é o sódio que realmente o assusta. "O sódio faz o coração bater mais rápido, e por isso pode criar algo de muito sério", disse Greye, que tem oito anos de idade e vive em Mays Landing, Nova Jersey.

A mãe de Greye, Beth Dunn, presidente de uma companhia de multimídia, se orgulha da consciência nutricional do menino e o encoraja, servindo alimentos orgânicos em suas refeições e ajudando Greye a ler os rótulos nas caixas de cereais matinais e nas latas de alimentos. "Ele quer ser saudável", diz a mãe.

Beth Dunn está entre os muitos pais que vigiam o consumo de açúcar, alimentos industrializados e gorduras trans de seus filhos. Muitas dessas famílias tentam manter uma dieta orgânica. Em termos gerais, sua preocupação não deriva de temor à obesidade - embora isso seja um fator potencialmente influente - mas sim do desejo de proteger suas famílias contra problemas como a hiperatividade, diabetes e doenças cardíacas, que acreditam possam ser evitadas, ou ao menos administradas, por meio de uma nutrição cuidadosa.

Embora não haja muitos especialistas dispostos a criticar os pais pela atenção dedicada à dieta de seus filhos, muitos médicos, nutricionistas e especialistas em distúrbios alimentares se preocupam por alguns pais estarem demonstrando zelo excessivo, ou até obsessão, em seus esforços por criar bons hábitos de alimentação em seus filhos. Apesar de suas boas intenções, esses pais podem estar criando uma impressão de que os alimentos em geral tendem a não ser saudáveis.

"Vemos muita ansiedade nessas crianças", diz Cynthia Bulik, diretora do programa de distúrbios alimentares da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. "Elas vão a festas de aniversário e não aceitam comer o bolo a não ser que ele seja de granola. A cultura levou as crianças e seus pais a estender a extremos as mensagens de saúde pública".

Tiffany Rush-Wilson, conselheira sobre distúrbios alimentares em Pepper Pike, Ohio, passou pela mesma experiência. "Tenho muitos clientes adolescentes, jovens ou crianças que se queixam de que seus pais administram com cuidado excessivo sua alimentação, com base em padrões de saúde e crenças pessoais", ela diz. "A alimentação dos filhos se torna muito restritiva, e é por isso que eles terminam chegando a mim".

Certamente nem todos os pais que impõe regras sobre alimentos saudáveis - ou qualquer plano de dieta definido - estão encaminhando seus filhos a problemas alimentares futuros. Distúrbios clínicos, como a anorexia nervosa e a bulimia, diagnosticados em um número crescente de adolescentes e jovens nas duas últimas décadas, são vistos pelos especialistas como provenientes de diversas causas, entre as quais motivos genéticos, influência da mídia de massa e pressões sociais.

Até hoje não foram conduzidos estudos formais sobre a possibilidade de que as obsessões dos pais com alimentos saudáveis possam conduzir a distúrbios alimentares. Alguns especialistas afirmam que uma obsessão extrema com alimentos saudáveis é só um sintoma, e não uma causa, de um distúrbio alimentar.

Mas mesmo sem números firmes, relatórios incidentais oferecidos por especialistas sugerem que uma preocupação em evitar "maus" alimentos é uma questão importante para muitos jovens que procuram ajuda.

O médico James Greenblatt, diretor de medicina no Walden Behavioral Care, um hospital que se especializa em distúrbios alimentares infantis e adultos em Waltham, Massachusetts, estima que recentemente tenha visto alta de até 15% no número de pacientes jovens que só comem alimentos orgânicos a fim de evitar pesticidas.

"Muitos dos pacientes que atendemos nos últimos seis anos limitam o consumo de açúcar refinado e produtos com alto teor de gordura devido ao medo de ganhar peso", ele disse. "Mas agora essas preocupações são expressas muitas vezes em termos de questões de saúde"

Lisa Dorfman, nutricionista e diretora do programa de nutrição e desempenho esportivo da Universidade de Miami, diz que muitas vezes vê crianças aterrorizadas diante de alimentos que seus pais consideram "ruins". "É quase como um medo de morrer, um medo de doença, como uma visão ilusória dos alimentos em geral", ela diz. "Vejo crianças cujos pais as levam a hipnotizadores. Vejo garotos de cinco anos de idade que falam como se tivessem 40. Não conseguem comer uma bolacha de chocolate e creme sem expressar preocupação sobre a gordura trans"

Steven Bratman, médico em Denver, cunhou uma expressão que designa as pessoas obcecadas com alimentos saudáveis: ortorexia. Os pacientes ortoréxicos, ele afirma, sofrem de uma fixação quanto a "comer corretamente"(a palavra deriva do prefixo grego "orto", que significa reto e correto).

"Eu digo a eles que são viciados em alimentos saudáveis. É meu modo de estimulá-los a não se levarem tão a sério", disse Bratman, que publicou um livro sobre os consumidores viciados em alimentos saudáveis, em 2001. O problema, ele diz, pode se originar de um lar onde exista uma preocupação exagerada com a "alimentação saudável".

Muitos especialistas em distúrbios alimentares contestam esse conceito. Afirmam que a ortorexia, que não é considerada como diagnóstico clínico de um problema real, representa simplesmente uma variedade da anorexia nervosa ou da gama dos distúrbios obsessivos-compulsivos.

Angelique Sallas, psicóloga clínica que trabalha em Chicago, diz que a idéia de um "distúrbio dos alimentos saudáveis" não tem quase nenhum significado prático. "Não acredito que os sintomas desses suposto distúrbio sejam suficiente diferentes daqueles que caracterizam a bulimia ou a anorexia, e entendo que por isso ele não mereça uma categoria especial de diagnóstico", ela disse. "Trata-se de um distúrbio obsessivo-compulsivo como os demais que conhecemos. O objeto da obsessão é menos relevante do que o fato de que as pessoas que sofrem desse problema estejam praticando um comportamento obsessivo".
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Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Eu sempre digo que a apresentação é fundamental. Eu conzco um restaurantes em santana que prestam muita atenção a isso. Mas seu projeto é excelente.