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16 de julho de 2009

Livro


Catherine Millet é uma crítica de arte respeitada na Europa. Foi curadora da Documenta de Kassel, uma das principais mostras de arte do mundo, e fundadora da revista "Art Press", referência da produção artística contemporânea. Em 2001, aos 53 anos, ela publicou na França um best-seller (mais de 2,5 milhões de exemplares em 47 países) que provocou escândalo, "A Vida Sexual de Catherine M"., agora reeditado no Brasil pela Agir (240 págs., R$ 19,90). Nele, a crítica não falava de arte, mas de suas inúmeras experiências sexuais , algumas com vários homens numa mesma noite.

Aproveitando sua passagem pela 7.a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a Agir decidiu publicar o contraponto de seu polêmico livro, "A Outra Vida de Catherine M " (tradução de Hortencia Santos Lencastre, 200 págs., R$ 39,90), escrito aos 60 anos, relato de uma crise de ciúme do marido, ela que teve tantas aventuras eróticas como Casanova. Sobre essa virada moral, Catherine Millet conversou com a psicanalista Maria Rita Kehl no último dia da Flip, domingo, revelando incomum coragem de expor publicamente suas contradições.

Quem não foi a Paraty tem agora outra oportunidade de ouvir a crítica falar de seu novo livro, que será lançado quarta-feira (8), a partir das 19h30, na Livraria da Vila (R. Fradique Coutinho, 915, tel. 3814-5811, Vila Madalena). Desta vez, a conversa com seus leitores será mediada pela professora de estética e literatura Eliane Robert Moraes. Assim, o diálogo deverá tomar outro rumo daquele mantido na Flip com a psicanalista Maria Rita Kehl. Ela evitou fazer psicanálise em público, mas Catherine não teria se importado. Falou de sua sexualidade desenfreada e suas fantasias com liberdade, embora não com muita paixão - o que permite concluir, após a leitura de "A Vida Sexual de Catherine M.", haver algo errado nessa maratona sexual sem vínculo sentimental.




Em seu novo livro, "A Outra Vida de Catherine M." (em francês, "Jour de Souffrance") ela conta como descobriu a traição do marido, o escritor e fotógrafo Jacques Henric, vasculhando sua escrivaninha e encontrando uma foto de sua amante. O livro é a confissão dessa mulher atingida em seu orgulho, sem saber como lidar com a contradição de ser sexualmente livre e assumir ao mesmo tempo uma posição moral conservadora. Catherine conclui, em sua conversa na Flip, que se vê como uma espécie de replicante de si mesma. Seu olhar interno aponta para um lado e o externo para outro. Ou seja, é como se a crítica de arte estivesse observando uma orgia sem participar dela - daí que a masturbação, para ela, é muito mais libertadora, no sentido de lhe permitir quebrar tabus e "imaginar cenas que nunca poderia viver na realidade".

O exercício literário para achar "le mot juste", a palavra exata que definiria essas sensações, virou obsessão. Sua interlocutora na Flip perguntou, então, se escrever não seria, para ela, uma espécie de cura, uma rejeição aos clichês do romanesco . "Não sei", respondeu. "Estou escrevendo para me livrar de mim mesma, para apagar algo da memória".

Fonte: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=42&id=199983


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