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10 de agosto de 2009

QUANDO O AMOR FAZ MAL À SAÚDE: OBESIDADE FEMININA E EROTOMANIA (parte 2 de 5)

2. A sexuação feminina

Freud (1931, 1933), ao investigar a sexualidade feminina, se interrogou sobre os destinos da relação primeva da menina com a sua mãe, anterior ao Complexo de Édipo. Chegou mesmo a se perguntar se, no caso da menina, a relação com o pai é capaz de substituir, completamente, a relação da menina com a sua mãe.

Segundo ele, nos avatares da sexuação feminina, a substituição da mãe pelo pai é feita, pela menina, a partir da descoberta da diferença sexual e da conseqüente decepção com a mãe por esta não ter e não dar o falo que ela, a menina, deseja. Surge, neste momento, a reivindicação do falo e, numa evolução favorável, a menina localiza o pai como aquele que tem o falo e pode lhe dar. O desfecho desse remanejamento, na sexualidade feminina, surge no consentimento da menina em substituir o pai por um homem e receber dele um filho, como equivalente simbólico ao falo que ela não tem.

Neste raciocínio, a reivindicação do falo é o operador que possibilita à menina separar-se da mãe e orientar-se em relação à sua sexuação como mulher. Freud designa o desejo de ter um pênis como sendo um desejo feminino por excelência (1933, p. 158). Não escapa a ele que a evolução edipiana da menina, introduzida pela inveja do pênis, é longa e difícil. O Édipo, ou seja, a orientação da menina para o pai, é um refúgio e ela não tem grandes razões para abandoná-lo.

Do que a menina se refugia quando recorre à ligação com o pai? Freud nos dá uma pista ao afirmar que a relação da menina com sua mãe permanece subjacente à sua relação com o pai, parasitando a organização da sua sexualidade como mulher.

Na perspectiva freudiana, a reivindicação do falo orienta a menina em direção à sexualidade feminina. Ela se aferra a essa reivindicação e não ultrapassa esse limite numa análise. Freud articula, nessa resistência, a reivindicação do falo com o repúdio da feminilidade. Para esclarecer esta articulação, recorro a Coelho dos Santos (2006), que propõe que, em Freud, a sexualidade feminina (Weiblich sexualität) não se confunde com a feminilidade (Weiblichkeit). A sexualidade feminina se resolve a partir do falo e seu substrato é a reivindicação do falo endereçada ao pai e depois ao homem. Segundo Coelho dos Santos, o mistério, para Freud, não era a sexualidade feminina, que se resolveria no campo da organização fálica, mas a feminilidade, que ele nomeia como continente negro, e que as mulheres também repudiam. A conclusão da autora é que a reivindicação fálica, à qual a mulher permanece fixada, representa uma manobra de proteção em relação à feminilidade.

De que trata, então, o repúdio da feminilidade na sexuação feminina? Tentarei delimitar esse impasse na sexuação feminina, a partir das fórmulas da sexuação, orientada por Miller e Coelho dos Santos.

........................................................................Continua...

Leia a primeira parte aqui

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