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8 de outubro de 2009

Psicose ordinária


"As psicoses ordinárias

Nosso objetivo é introduzir a temática das psicoses ordinárias a partir de um programa de investigação que vem sendo recentemente elaborado pelos psicanalistas de orientação lacaniana. Tais psicoses revelam determinados tipos clínicos que incluem diagnósticos de difícil interpretação. O que vem sendo denominado de a segunda clínica de Lacan, ou então de a clínica dos nós borromeanos, permite que esses tipos clínicos sejam situados sem recorrer às famosas categorias classificatórias de borderline, neurose narcísica, e outras utilizadas pela psicologia das subjetividades. Na verdade, a segunda clínica privilegia as modalidades de gozo e as amarrações sinthomatizadas que mantém o psicótico fora do desencadeamento.
Nesta formalização da práxis, as psicoses ordinárias são nomeadas desta forma por serem comuns, freqüentes, ordinárias, por assim dizer. São casuísticas reconhecidas em certas demandas de análise que trazem sintomatizações corporais típicas de nosso tempo. Por exemplo, os graves transtornos alimentares das anorexias e bulimias, os usos compulsivos no alcoolismo e nas toxicomanias, as manifestações hipocondríacas e os fenômenos psicossomáticos, os estados depressivos com distúrbios do humor e outros. São pacientes que surpreendem o psicanalista pelo fato de não se apresentarem na forma usual da psicose desencadeada. Ao contrário, elas não manifestam os fenômenos elementares esperados – tais como o automatismo mental, as alucinações, os distúrbios de linguagem, o delírio sistematizado, as certezas absolutas –, dificultando o diagnóstico diferencial neurose-psicose recomendado por Freud no início do tratamento.
No dispositivo analítico, os sujeitos trazem inúmeras demandas. Ora se trata de um impasse no engajamento afetivo e na sustentação do laço social, ora uma instabilidade sem devastações aparentes causadas pelo grande Outro; ou então expressam questões corporais inexplicáveis que provocam o enigma.
Em outros casos são as abulias. Em novas situações são as lembranças que não fazem série e não produzem a retificação subjetiva esperada, pois o sujeito não reorganiza e nem movimenta a série significante, como ocorre com o neurótico. O traço em comum é que nenhum deles apresenta um desencadeamento da psicose conforme os casos clássicos da estrutura.
Existem alguns indicadores para o diagnóstico inicial que facilitam reconhecer uma psicose ordinária. São fenômenos que pré-existem ao desencadeamento da enfermidade, mas que já estão presentes na estrutura. Por este motivo, requerem um manejo clínico específico a fim de que a psicose não se desencadeie. Podemos citar a estranheza em relação ao corpo próprio, as distorções temporal e espacial, os transtornos concernentes ao sentido e à verdade do sujeito em relação às experiências vividas, a sensação de ausência ou mesmo um laço desregulado com o semelhante. (...)
"

Leia o artigo O QUE A ARTE ENSINA SOBRE AS PSICOSES ORDINÁRIAS aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada Fernanda!
Seu texto foi de grande ajuda para meus estudos!