"O programa fundamental da Civilização é impor ao sujeito uma "renuncia pulsional" como preço a pagar por sua inclusão no campo simbólico. A Civilização impõe necessariamente um limite a pulsão; à pulsão sexual não pode satisfazer-se integralmente, deve adaptar-se as exigências do "mundo externo". Sem embargo, o programa do superego não coincide exatamente com o da Civilização. O superego é um trabalho posterior sobre a renúncia pulsional, imposta como Lei da estrutura pelo programa da Civilização. O superego - que Freud concebe como herdeiro do imperativo kantiano - representa um dever pelo dever mesmo, uma obediência cega a lei, uma renúncia pulsional especial no sentido de que a renúncia pulsional deve transformar-se ela mesma numa modalidade de gozo dela mesma.
No lugar do mal estar introduzido pelo programa da Civilização, o programa do superego promove uma abolição do mal estar por meio da elevação da renúncia pulsional à uma modalidade especial de gozo. Este é então o programa do superego: fazer da renúncia um gozo, da renúncia a gozar, uma forma de gozo. (...)
Obedecer a lei a tal ponto de identificar-se a essa lei e gozar dessa identificação."
In: La Última Cena, de Massimo Recalcati
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