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13 de janeiro de 2011

Dica de leitura

O autor italiano M. Recalcati trabalha a possibilidade de análise na clínica contemporânea dos novos sintomas no artigo A questão preliminar na época do Outro que não existe (Latusa Digital - julho de 2004).

Artigo fundamental para quem pesquisa as peculiaridades dos sintomas na atualidade e sua demanda de análise.

Alguns recortes:
"No texto “Questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” Lacan problematiza a possibilidade de uma aplicação do tratamento analítico à psicose. A dimensão de tratamento preliminar configura-se desse modo como uma condição que deve ser satisfeita a fim de reduzir o retorno do gozo no real que invade o sujeito psicótico. Em outras palavras, todo tratamento preliminar possível da psicose implica a tentativa de uma introdução do fator Nome-do-Pai como instância reguladora do gozo. E neste sentido se pode afirmar que a demanda do sujeito psicótico seria sempre uma demanda de Nome-do-Pai, ou do significante do qual o sujeito não dispõe para regular o próprio gozo. O caráter central, adquirido na atualidade, da questão preliminar deriva propriamente do fato que a clínica do sintoma contemporâneo (anorexia, bulimia, toxicomania, depressão, pânico) se manifesta como uma clínica além do recalque, portanto, como uma clínica da passagem ao ato mais do que uma clínica do retorno do recalcado. Nesta predominância do agir em relação à simbolização, a clínica dos novos sintomas parece revelar sua dimensão genericamente psicótica; o que de modo algum não significa operar uma redução diagnóstica do sintoma contemporâneo à estrutura da psicose segundo um esquema mecanicista, mas, antes, reconhecer que a clínica do recalcado – e, portanto, o sintoma como formação do inconsciente – não pode incluir a nova clínica que é, aponto, uma clínica marcada antes pela desagregação do caráter simbólico do sintoma e pelo retorno do gozo no real.
A questão que se abre neste ponto, relativamente à posição do analista no tratamento das psicoses, diz respeito a dificuldade de como responder à demanda de Nome-do-Pai do psicótico sem, no entanto, ocupar a posição de um Outro não barrado que presentificaria a vontade de gozo do Outro e que expõe a transferência ao risco de uma virada paranóica."

(...)

"A nova questão preliminar impõe, antes de tudo, uma reflexão sobre o estatuto contemporâneo da demanda. A época do discurso do capitalista é a época na qual domina a demanda imaginária do objeto. Jacques-Alain Miller definiu esta declinação da demanda contemporânea como uma “demanda convulsiva”. A convulsão da demanda indica como, na época do discurso do capitalista, a demanda aparece como um estado de contínua solicitação, exasperação, enfatização. A demanda compulsiva é, de fato, uma demanda que se apresenta como desenganchada da “dialética do desejo”. Dialética do desejo a entender-se em sua versão categorial rigorosa proposta por Lacan. A dialética do desejo indica que o desejo tem uma raiz heteróclita, no sentido de que isso “vem do Outro”. A dialética do desejo indica antes de tudo como o desejo – enquanto estruturalmente implicado no Outro – está constitutivamente “sob transferência”. Não é que se tenha de um lado o sujeito solipsístico e de outro o Outro. A noção lacaniana de desejo unifica sujeito e Outro, no sentido em que torna impensável um sem o Outro."

Veja o texto na íntegra aqui!

Um comentário:

Anônimo disse...

Uau, fragmento interessantíssimo!

Artigo já devidamente separado para leitura/estudo.