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18 de maio de 2009

Pequenos Tiranos



Frequentemente, em meu consultório, recebo pais se queixando de seus filhos, relatando que estes estão sem limites, se tornaram crianças incontroláveis, mimadas e cheias de vontades.

Questionando sobre esse relacionamento, sobre a dinâmica estabelecida entre os pais e os pequenos mimados, percebi uma intensa permissibilidade por parte destes pais e uma grande dificuldade de dizer “não”, de impor limites a estas crianças. Pais que são sempre amigos, que sequer levantam a voz para seus filhos.

Porque está tão difícil para estes pais exercer sus função parental, impondo limites com firmeza e deixando claro quem está no controle?

Queremos que as crianças sejam ou pareçam sempre felizes e satisfeitas. Parece que o desejo de ser bons pais os impede de colocá-los no lugar daquele que interdita e que faz cumprir a lei. O medo de frustrar seus filhos faz esses pais realizarem todas as demandas dos pequenos que, quando não atendidos, se jogam no chão, chorando aos berros, criando um verdadeiro espetáculo que já vimos diversas vezes em supermercados, lojas, shoppings ou até mesmo no meio da rua. Os pais, nestes momentos, olham constrangidos para as pessoas que passam, sem saber como agir com o pequeno tirano se debatendo no chão. Nós que passamos e presenciamos esta cena pensamos: “Porque esses pais não fazem nada?” Na verdade acho que a pergunta adequada é “Porque esse pai fez tudo, exceto agir como pai?”.

Essas crianças que parecem mais ditadoras controlam, com gritos e cenas, o comportamento dos pais, que cedem cada vez mais às suas vontades, enquanto os filhos se tornam cada vez mais difíceis de se conviver.

A história de que criança precisa de limite é antiga, mas ainda é verdade. Porém impor estes limites não é tão fácil assim. Isso coloca em jogo a necessidade de amor dos pais, o receio em punir demais, e o desejo de serem os melhores pais do mundo. Punir significa suportar o ódio, mesmo que momentâneo, da criança. Impor limites constitui, à duras penas, saber lidar com o choro revoltado do filho, sabendo que este é o melhor caminho.

Assisti recentemente um trecho do programa Supernany, que passa no SBT e fiquei assustada com o comportamento de uma menina de 5 anos que em menos de 10 minutos deu dois tapas no rosto da sua mãe, que olhava para a câmera e dizia não saber o que fazer. Fiquei mais assustada ainda ao saber que mais de 30 mil famílias concorrem para ter a chance de um conselho da tal babá (ou a um espaço na tela?) porque não sabem mais o que fazer com seus rebentos agressivos e sem limites.

Vivemos numa sociedade permissiva e estes pais são reflexos desta. É difícil estabelecer limite, mas estas interdições e demarcações do que é permitido e o que não é, são essenciais para a formação e desenvolvimento das crianças.

Por mais doloroso que seja para um pai dizer “não!”, é a partir deste não, deste limite, que as crianças tem a possibilidade de se constituir e de desenvolver.

Com certeza não existe uma fórmula de como lidar com os filhos, isso é o resultado de um caminho sinuoso e singular que cada pai deve construir com seu filho.


Fernanda Pimentel

Artigo publicado no Jornal A Orla

Um comentário:

Magalha disse...

Olá!!!
Como eu faco para participar so seminario de Freud em Laranjeiras?
Muito grata!
Abracos