29 de janeiro de 2009
Repassando...
"O INCA-Instituto Nacional do Câncer (fica na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do Rio) está tendo problemas com seu banco de sangue. Eles não têm sangue, nem doadores. Já saíram notas nos jornais e pouco adiantou. O Instituto Nacional do Câncer - INCA - está precisando urgentemente de doadores de sangue. O banco de sangue está quase vazio e o Hospital enfrenta dificuldades, até para marcar cirurgias, muitas vezes, precisando recorrer a outros bancos de sangue da cidade, que também passam pela mesma dificuldade: falta de doadores.
A transfusão de sangue para pessoas com câncer é muito importante. Sem ela, muitos pacientes não conseguiriam sobreviver aos tratamentos que envolvem drogas pesadas. Para doar, basta chegar na portaria do Hospital com suacarteira de identidade ou qualquer documento similar, apresentando- se como doador.
NÃO vá em jejum, alimente-se de coisas leves e não gordurosas, evite o álcool por pelo menos 12 horas.
Você deve estar em boas condições de saúde, ter entre 18 e 60 anos e pesar 50kg ou mais.
A mulher pode doar a cada 3 meses e o homem a cada 2 meses.
Esta mensagem pode alcançar muitos doadores, se você enviar agora para outros endereços.
Por favor, colabore. Faça a sua parte!
Muitas vidas agradecem."
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Artigo: A INFLUENCIA DE JACQUES LACAN (parte 2 de 3)
A transmissão de Lacan esteve muito ligada de início à renovação da concepção do dispositivo analítico, situado por ele de modo tão inovador que acabou atraindo os analistas para um novo tipo de experiência, inclusive aqueles já formados há longa data.
Contudo, um dos efeitos desse período inaugural foi o uso mimético, irrefletido, das sessões curtas, fato que sabemos não ter sido apanágio exclusivo dos psicanalistas brasileiros, como pude desenvolver em meu artigo "Usos e abusos do tempo lógico" (revista Ágora, v.III, n.1). Isso foi alvo de grande polêmica e produziu intensas resistências ao discurso lacaniano, das quais evidentemente os analistas não-lacanianos se aproveitaram, por sua vez, para atacar Lacan como um todo: seus representantes se pronunciaram na época na imprensa dizendo que os lacanianos estavam destruindo a psicanálise. Outro efeito colateral ligado ao uso do tempo lógico "cronometrado" em cinco minutos foi a redução da interpretação a um superficial jogo de palavras, numa perda evidente da dimensão da experiência analítica.
Por outro lado, a ênfase na leitura de Freud, preconizada por Lacan em cada um de seus escritos e seminários, e o questionamento dos desvios ideológicos e anti-psicanalíticos dos analistas pós-freudianos, produziram na comunidade psicanalítica não só um intenso empuxo no sentido da reflexão teórica depurada, como, a partir daí, a necessidade de elaboração da diferença entre rigor e rigidez na maneira de conduzir a análise. Tudo aquilo até então sustentado de modo dogmático passou a ser radicalmente interrogado: o lugar do psicanalista, sua intervenção, os objetivos da análise. No cerne desses múltiplos questionamentos, estava a reflexão lacaniana sobre a ética da psicanálise: Lacan foi o primeiro psicanalista a nomear uma ética particular à psicanálise, centrando-a em torno do desejo do sujeito.
Aos poucos, caíram as concepções mais tradicionais, tanto a respeito da prática clínica como também da formação psicanalítica. Ocorreu, em especial, a queda da distinção entre análise didática (de formação) e análise terapêutica: para Lacan, toda análise pode vir a ser didática, uma vez que seu aspecto didático só pode ser revelado depois de concluída a experiência, jamais a priori. A freqüência e a duração das sessões, padronizadas até então de forma burocrática, passaram a ser flexíveis. Com Lacan, a prática da psicanálise foi, enfim, analisada.
É verdade que esse questionamento deu margem, por sua vez, a excessos na adoção das novas fórmulas, dependentes, por um lado, de um modismo que acomete todas as práticas humanas e, por outro, da insipiência da experiência. Assim, o uso sistemático de sessões de curta duração parece-nos ser tão pouco congruente com a verdade que é exigida pela experiência do psicanalista, quanto o uso da sessão cronometrada em cinqüenta minutos. Tanto um quanto outro mimetizam as práticas de dois analistas muito singulares, Lacan e Freud, caracterizando-se por não levar em conta a necessidade do psicanalista encontrar seu próprio estilo na condução do tratamento. Num de seus artigos sobre técnica, Freud observou que jamais preconizara formas protocolares de analisar, e apenas expusera soluções que se revelaram condizentes com sua preferência pessoal.
Hoje, o momento é de uma assimilação mais subjetivada das contribuições fundamentais de Lacan. Se a difusão do pensamento lacaniano é onipresente na psicanálise brasileira, isto se dá pela própria força de seu ensino e pela verdade carreada por ele: o de uma verdadeira renovação da clínica psicanalítica. Se o ensino de Lacan obteve tamanha repercussão, isso se deu sobretudo em função dele constituir uma verdadeira re-fundação da psicanálise, que associou seu nome de modo indelével ao de seu criador.
Enquanto no Brasil, de modo semelhante ao ocorrido nos EUA, a IPA abria as portas para a ideologização da prática e, surpreendentemente, considerava a leitura de Freud como algo secundário para a formação dos psicanalistas, Lacan chamava atenção para a radicalidade muitas vezes desconhecida e para a fecundidade igualmente inexplorada do texto freudiano.
A psicanálise é a prática da psicanálise, cuja função original inédita é a de manter uma relação com o saber enquanto verdade. Trata-se de uma prática que, ao contrário do discurso do mestre, não admite dominações, pois desse modo retornaria à etapa pré-psicanalítica, na qual os psiquiatras se empenhavam na hipnose e na sugestão. Sabe-se que nos EUA a prática da psicanálise sofreu um grande declínio que se sucedeu, paradoxalmente, a uma enorme difusão. Como ponderou Gérard Pommier em A neurose infantil da psicanálise (Jorge Zahar, 1995), a manutenção da vida da psicanálise depende de que ela possa manter-se fiel à ética que lhe é própria, sem o que ela se homogeneiza com outras práticas psicoterápicas e perde sua razão de ser.
Não cabe aqui enumerar as férteis distinções estabelecidas por Lacan no campo teórico. Ressalto apenas que sua elaboração sobre o inconsciente estruturado como uma linguagem levou-o a conceber, na clínica, o lugar do analista como lugar de uma douta ignorância e a interpretação exclusivamente em sua relação com o dizer do analisando, preservando o valor primordial da escuta da fala do sujeito.
28 de janeiro de 2009
Lispector
26 de janeiro de 2009
Artigo: A INFLUÊNCIA DE JACQUES LACAN (Parte 1 de 3)
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A Influencia de Jaques Lacan na psicanalise brasileira
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A presença do ensino de Lacan na psicanálise brasileira é hoje absoluta. Prova disso foi a recente participação brasileira no I Congresso da Convergencia – Movimento Lacaniano para a Psicanálise Freudiana, que reuniu quarenta e nove instituições do mundo inteiro (nove brasileiras) em Paris, na sede da UNESCO, entre 2 e 4 de fevereiro passados. Mas a entrada do ensino de Lacan em nosso país obedeceu às características do movimento psicanalítico de cada região. Vou expor aqui minha inserção nessa história, assim como sua incidência sobre minha prática no Rio de Janeiro, ressaltando que esta cidade foi a que produziu o maior impulso na divulgação de Lacan no Brasil, o que pode ser exemplificado pela publicação pioneira, por uma tradicional editora carioca, Jorge Zahar, desde 1979, dos escritos e seminários de Lacan, assim como de muitos autores lacanianos.
Menciono o ensino de Lacan e não sua teoria, na medida em que a entrada de Lacan no Brasil se deu essencialmente em função da renovação da prática clínica. E, de fato, um ensino de psicanálise digno desse nome se qualifica por ser eminentemente um ensino clínico. Por outro lado, amputar o ensino de Lacan de sua dimensão clínica, como parece ocorrer em linhas gerais nos EUA, onde Lacan até recentemente era estudado quase exclusivamente nos departamentos de literatura das universidades, seria neutralizar a ênfase que ele mesmo deu à psicanálise enquanto prática: “É de meus analisandos que aprendo tudo, que aprendo o que é a psicanálise”, disse ele numa conferência aos mesmos norte-americanos.
A DESMEDICALIZAÇÃO DA PSICANÁLISE
A primeira instituição psicanalítica carioca de orientação lacaniana foi o Colégio Freudiano do Rio de Janeiro, do qual participei durante quinze anos, desde o ato de sua fundação em 1975, quando ainda estudava medicina. Tomando a palavra na imprensa para divulgar a novidade inerente à contribuição lacaniana, esse grupo não tardou em conquistar um espaço cada vez maior junto ao meio psicanalítico.
A quase totalidade dos psicanalistas de orientação lacaniana dessa geração passou por esta instituição. A partir dos anos 80, diversas cisões ocorreram no seio desse grupo pioneiro e outras instituições foram criadas. Ainda que o estilo dessa instituição tenha sempre suscitado polêmica, é preciso dizer que ela transmitiu, nesses primórdios do lacanismo no Brasil, as bases da teoria lacaniana. Destaco como a característica principal dessa transmissão a abordagem retroativa de Freud e Lacan, a partir do último e mais importante segmento do ensino de Lacan: aquele que inclui as fórmulas quânticas da sexuação (uma releitura dos achados freudianos sobre a sexualidade humana), a topologia matemática (visando à demonstração do que escapa à possibilidade de ser dito), os quatro discursos (formas básicas de liame social que ligam o sujeito ao outro) e a tripartição estrutural Real-Simbólico-Imaginário (paradigma teórico lacaniano primordial, que retoma as principais teses freudianas no quadro de uma ampla concepção do psiquismo, a partir das novas contribuições advindas da lingüística e da antropologia estrutural).
Este trabalho de transmissão, naquele momento inaugural, conseguiu chamar atenção para a novidade do pensamento lacaniano, e, mais essencialmente, para seu rigor em relação à letra de Freud. Um grande empuxo revitalizante se produziu no estudo e na pesquisa, atingindo a comunidade psicanalítica com grande impacto. Os analistas foram levados a questionar os fundamentos de sua prática, o que teve como efeito depará-los com o não-saber que está no cerne da experiência analítica. Citando Oliver Cromwell, Freud já observara que quando não sabemos aonde vamos, vamos muito mais longe...
Se, na década de 70, a psicoterapia de grupo havia se difundido amplamente, sobretudo entre os jovens, hoje ela praticamente não existe mais. Contribuíram para sua difusão, na época, o preço da sessão mais baixo em relação ao cobrado pelos psicanalistas por uma sessão individual e a situação ditatorial brasileira, que levou os jovens a buscar nos grupos algum alento. Uma sociedade de psicoterapia de grupo foi criada para dar conta dessa crescente demanda. Mas a chegada do movimento lacaniano, com a conseqüente legitimidade adquirida pelos psicólogos para a formação analítica, rapidamente teve como efeito a quase extinção da prática de grupo, uma vez que os preços da análise individual deixaram de ser regulados pela hora médica.
O panorama encontrado pelos primeiros analistas seguidores de Lacan no Brasil foi bastante semelhante ao encontrado por Lacan na França, na década de 50, quando iniciou seu movimento de “retorno a Freud”. A prática da psicanálise, monopolizada pela IPA, era regida pela medicalização da psicanálise e pelo repúdio à análise leiga. Formei-me em medicina, aliás, devido à exigência feita então aos psicanalistas de terem um curso médico e pude observar, surpreso que, às vezes, os psiquiatras faziam formação psicanalítica apenas para obter o título e aceder a um patamar de prestígio de superpsiquiatra...
A concepção de uma prática analítica desmedicalizada influiu com grande impacto na difusão das idéias de Lacan. Além disso, seus porta-vozes vinham a público apresentar suas idéias, realizando conferências nas universidades e dando entrevistas para a imprensa, e não permaneciam entrincheirados entre as quatro paredes de seus consultórios, envoltos numa aura de mistério iniciático.
A impressão de quem viveu esse período inicial de ebulição do ensino de Lacan no Brasil é, num olhar retrospectivo, de que a psicanálise estava mortificada por um violento processo de ideologização. Lacan veio trazer um salutar fôlego ao ambiente psicanalítico, sufocado pela prática kleiniana, com suas intervenções psicologizantes, e pelo fechamento elitista das sociedades psicanalíticas. Tudo se passou como se os psicanalistas tivessem sido repentinamente sacudidos de sua acomodação, sentindo necessidade de tomar a palavra sobre as questões da prática clínica e da cultura.
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Veja o site do autor: http://www.macjorge.pro.br/
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