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17 de agosto de 2009

QUANDO O AMOR FAZ MAL À SAÚDE: OBESIDADE FEMININA E EROTOMANIA (parte 4 de 5)

4. Erotomania e amor

Como apontei, a feminilidade, na sexuação feminina, diz respeito à relação da mulher com com um parceiro sem limites e que Lacan (1985) nomeia como Deus. Trata-se, conforme assinala Lacan, da outra satisfação (fora da lógica fálica) e que consiste nas palavras de amor, no discurso amoroso (Lacan, 1985, p. 112).

O campo da sexuação feminina aponta para um gozo sem limites, que não é regulado inteiramente pela lógica fálica. Coelho dos Santos (2006) ensina que as mulheres, infensas à ameaça de castração, não têm nada a perder e esperam tudo receber. Segundo ela, o desejo de ser tratada como exceção especifica o desejo feminino como sendo essencialmente da ordem da demanda de amor. Miller (2003) denomina essa relação da mulher com de erotomania.

A erotomania, no campo da psicose, constitui-se no delírio de ser amado (Miller, 2006). O postulado fundamental da erotomania é a certeza que o sujeito erotômano tem de ser amado pelo Outro. O exemplo clássico freudiano de erotomania apresenta-se no caso Schreber. Ele constrói um delírio em torno de uma erotomania divina, na qual ele é amado, como uma mulher, por Deus.

A erotomania, na psicose, coloca a céu aberto a relação entre o amor e a loucura. A psicose, sem poder contar com a regulação fálica, exibe a face devastadora do amor, a intensidade desmedida da paixão. A erotomania envolve a recusa do desejo, o esquecimento do sexo. Nesse sentido, o amor louco é sem sexo, isto é, sem relação com o falo. Nesse sentido, como assinala Borie (2006, p. 13) a erotomania representa uma objeção ao amor como resposta ao impossível: a relação sexual que não há.

Estendendo essas noções para o campo da sexuação feminina, Miller (2003) indica a forma erotômana da mulher amar. Amor sem limites, que repousa, justamente, na anulação completa do ter (regulação fálica). É pela via do amor que a mulher visa o ser mais além do ter. Esse estatuto do amor, como mais além do ter, explica o aspecto ilimitado, infinito do amor. Como amar é, fundamentalmente, querer ser amado, isso se traduz, na mulher, por uma demanda insaciável de amor. Esta é a vertente erotomaníaca da sexuação feminina.

Leia a parte 1, 2 e 3 do artigo.
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