4. Erotomania e amor
Como apontei, a feminilidade, na sexuação feminina, diz respeito à relação da mulher com com um parceiro sem limites e que Lacan (1985) nomeia como Deus. Trata-se, conforme assinala Lacan, da outra satisfação (fora da lógica fálica) e que consiste nas palavras de amor, no discurso amoroso (Lacan, 1985, p. 112).
O campo da sexuação feminina aponta para um gozo sem limites, que não é regulado inteiramente pela lógica fálica. Coelho dos Santos (2006) ensina que as mulheres, infensas à ameaça de castração, não têm nada a perder e esperam tudo receber. Segundo ela, o desejo de ser tratada como exceção especifica o desejo feminino como sendo essencialmente da ordem da demanda de amor. Miller (2003) denomina essa relação da mulher com de erotomania.
A erotomania, no campo da psicose, constitui-se no delírio de ser amado (Miller, 2006). O postulado fundamental da erotomania é a certeza que o sujeito erotômano tem de ser amado pelo Outro. O exemplo clássico freudiano de erotomania apresenta-se no caso Schreber. Ele constrói um delírio em torno de uma erotomania divina, na qual ele é amado, como uma mulher, por Deus.
A erotomania, na psicose, coloca a céu aberto a relação entre o amor e a loucura. A psicose, sem poder contar com a regulação fálica, exibe a face devastadora do amor, a intensidade desmedida da paixão. A erotomania envolve a recusa do desejo, o esquecimento do sexo. Nesse sentido, o amor louco é sem sexo, isto é, sem relação com o falo. Nesse sentido, como assinala Borie (2006, p. 13) a erotomania representa uma objeção ao amor como resposta ao impossível: a relação sexual que não há.
Leia a parte 1, 2 e 3 do artigo.
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